Qualquer vitória é motivo de júbilo para alguns e tristeza para outros. Vencedores e vencidos. A vitória destes supõe a derrota daqueles. Mesmo assim, há sempre um olhar de simpatia sobre os eventuais vencedores, até mesmo por parte dos eventuais derrotados. Nesse embate pelas melhores posições estamos nós, seres naturalmente competitivos, na busca constante de nossos louros, troféus, diplomas, sucessos, conquistas, sonhos, ambições… A lista dos objetos de disputas humanas é interminável. Nela se encerra a maior motivação do amor-próprio que embala nossa existência, ou seja, estar em evidência, sobrepondo os que dizemos derrotados. A eles quase sempre direcionamos nossa ironia ou mesmo desprezo, sem levar em conta que ninguém vence sozinho. Falta-nos o espírito da condescendência mútua, ou seja, considerar que eventuais vitórias não tiram o mérito daqueles que competem conosco. Dizia Paulo: “Nós, que somos os fortes, devemos suportar as fraquezas dos que são fracos, e não agir a nosso modo. Cada um de vós procure contentar o próximo para seu bem e sua edificação” (Rom 15, 1,2). Esse espírito competitivo esteve, está e estará sempre presente na história humana. Faz parte da nossa natureza. Assim, desde sempre, ouvimos falar da supremacia entre raças e povos, entre nações e estados, entre clubes e agremiações esportivas, entre doutrinas e crenças, instituições e famílias, profissões, etc. Então, como disciplinar ou ao menos melhor direcionar essa sede de vitórias? Nas páginas bíblicas encontramos esse espírito como centro das aspirações humanas: vencer, vencer, vencer. A própria história do Povo de Deus é aureolada por infindáveis combates, sejam estes na demanda por territórios, na derrota aos povos idólatras ou nas “guerras santas” com o único objetivo de estabelecer no mundo um pensamento onipotente: “Quem teme o Senhor, este é grande, para sempre! Ai das nações que se insurgirem contra o meu povo! (Jud 16,17). Portanto, até a teologia do Deus-único não admitia derrotas. Cristo redireciona este conceito. Surge como um derrotado, travestido na pequenez humana e na simplicidade de uma vida sem glórias. Derrotado permanece até sua morte e a aceita com os requintes de uma crueldade ímpar, deixando a seus discípulos uma única palavra que resumia sua doutrina: “Coragem, eu venci o mundo”! Aqui está o sentido da verdadeira e única vitória, aquela que a fé cristã prefigura como ideal de vida, a vitória sobre todas as ilusórias vitórias terrenas: vencer o mundo! Posteriormente, quando Paulo vestiu a camisa do time de Cristo, as aparentes derrotas frente aos conceitos sociais da sua época, dos próprios conterrâneos e da religião da qual outrora fora mestre, em nada contribuíram para devolvê-lo à realidade contraditória das ilusões humanas. Dizia: “Já não sou eu quem vive, é Cristo que vive em mim”. Assim justificava sua aparente loucura, seu ideal cristão. Queria também um mundo melhor, menos competitivo, mais humano. Tentava a todo custo provar ao mundo que a constante luta humana pela sobrevivência não levaria a nada sem a solidariedade e a fraternidade ensinadas por Jesus. Os eventuais louros das pequenas conquistas também não lhe pertenciam, posto ser ele um mero semeador, pois o agricultor era Deus. “Eu planto, Ele colhe”. Nem o mérito do trabalho santo lhe pertencia. No entanto, ao final da vida ainda iria dizer: “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé” (2Tim 4,7). Esse é o louro maior, a verdadeira alegria de um campeão. “Eu venci o mundo”, poderia dizer também, pois, como Cristo, mereceu a coroa da tortura e do martírio por decapitação. Perdeu a cabeça pela vitória que sempre almejou, a vida em Cristo. Ah, ia me esquecendo: Salve o Corinthians! WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br