Por: Pe. Paulo M. Ramalho (*) Olá a todos! Eis a ideia para vocês refletirem ao longo da semana: “a paz: caminhos para encontrá-la – II”. Vamos continuar nossa reflexão sobre os caminhos para encontrar a paz. Voltemos a falar sobre as lamentações e a importância de aceitar a nossa vida como ela é para encontrarmos a paz. Não há coisa mais inútil e prejudicial do que o inconformismo. Não há coisa menos inteligente do que bater a cabeça contra um muro intransponível: o muro ficará incólume e a cabeça, quebrada. Não mudaremos o inevitável, antes mudaremos nós mesmos: converter-nos-emos em seres amargos. Perderemos o tempo, no louco paroxismo de “serrar serragem”. Diz-nos a sabedoria clássica, por boca de Epicteto: “Há um único caminho para a felicidade e esse caminho é deixarmos de preocupar-nos pelo que está fora do poder da nossa vontade”. Eu diria algo mais cristão: “O único caminho da nossa felicidade está em aceitar e amar tudo o que a vontade de Deus permite”. Precisamos estar atentos às nossas atitudes interiores. Quando somos confrontados com contrariedades cotidianas, ou simplesmente com a carga do cansaço e da rotina, é necessário que evitemos esse protesto interior e esse desejo de que tudo mude. A sabedoria humana e cristã está em aceitar a vida tal como é. Essa atitude poupa muito da energia de que precisamos para enfrentar a realidade de cada momento. Lembro-me de um momento duro da minha vida em que me foi diagnosticada uma doença grave que talvez me impedisse de terminar a tempo a minha tese de doutorado, de receber a ordenação sacerdotal, ou, mais ainda, que pusesse em risco a minha vida. Enquanto o médico ia fazendo graves considerações ao examinar a radiografia, veio-me aos lábios – certamente como fruto dos muitos exemplos que tinha recebido – a oração do Pai-Nosso, que repeti centenas de vezes: “Seja feita a Vossa vontade”. Isso foi me devolvendo pouco a pouco a paz, uma paz que me permitiu terminar a minha tese na cama e que se tornou alegria exultante quando, poucos meses depois, completamente restabelecido, recebi a ordenação sacerdotal. Foi uma lição de Deus. Aqueles oito meses em que fiquei praticamente sozinho, na montanha – apenas com uma velha e santa empregada da família -, ajudaram-me a “crescer para dentro”. Esse foi o mais valioso “doutoramento” que consegui na vida. Não podemos considerar perdido o tempo que o grão de trigo permanece oculto debaixo da neve durante o inverno, enquanto se opera nas suas células invisíveis uma morte transformadora. É durante a longa noite do inverno que o trigo cresce. Foi naqueles longos meses em que a doença demorava a ser debelada que fui aprendendo a amar o silêncio e a solidão. O que me parecia uma enorme perda significou um riquíssimo lucro. Todos nós, em qualquer situação em que nos encontremos, deveríamos meditar nos quarenta dias e quarenta noites que Moisés passou na montanha e Nosso Senhor no deserto, e nos três anos que São Paulo passou no deserto da Arábia, depois da sofrida e luminosa experiência de Damasco. E esse deserto pode ser tanto uma doença como a perda de um ser querido, um fracasso ou um período de depressão… Só poderemos conseguir a vida na paz quando no mais profundo da alma soubermos dizer: “Senhor, não consigo enxergar qual seja o significado deste momento obscuro que atravesso, como uma pequena formiga não pode entender o porquê dessas manchas coloridas nos imensos afrescos da Capela Sistina… Mas sei que Tu tens um plano global a respeito de mim e do mundo e por isso quero dizer-Te agora e sempre: Senhor, Tu sabes mais; seja feita a Tua vontade!”. Continua na semana que vem… Uma santa semana a todos! (*) Padre Paulo M. Ramalho(cfr. http://www.fecomvirtudes.com.br/caminhos-para-encontrar-a-paz-ii/) falar.paulo@gmail.com<mailto:falar.paulo@gmail.com> ww.fecomvirtudes.com.br<http://ww.fecomvirtudes.com.br> https://www.facebook.com/FeComVirtudes?ref=hl http://instagram.com/fecomvirtudes ********************************************* Padre Paulo M. Ramalho – Sacerdote ordenado em 1993. Cursou o ensino médio no colégio Dante Alighieri. Engenheiro Civil formado pela Escola Politécnica da USP; doutor em Filosofia pela Pontificia Università della Santa Croce. Atende direção espiritual na igreja Divino Salvador, Vila Olímpia, em São Paulo.