O cristão católico e a política

Estou me apropriando do título de um artigo escrito no ano passado pelo Bispo de Ilhéus (BA), Dom Mauro Montagnoli. Aquele artigo foi redigido quando a campanha política, que culminaria com a escolha dos novos prefeitos e vereadores, se encontrava no auge, em meados do mês de setembro de 2012. Apesar da importância, da clareza e da sobriedade com que tratou o assunto, talvez aquela reflexão tenha chegado um pouco tarde. Sim, pois a campanha já se encontrava em pleno andamento, o povo iria às urnas menos de um mês depois da sua publicação e todas as cartas já estavam postas. Os candidatos já estavam definidos, os acordos políticos já estavam feitos. Hoje, apesar de estarmos há, praticamente, um ano da próxima eleição para escolha de deputados estaduais e federais, governadores, senadores e presidente da República, minha mensagem também chega um pouco tarde. Mas, não tão tarde. Em seu artigo, Dom Mauro dizia a importância dos leigos e leigas estarem engajados na política como instrumento de realização das ações concretas que podem mudar, para melhor, a vida dos brasileiros. Segundo ele, a Igreja não deve somente incentivar a participação política dos seus fiéis, mas a Igreja deve dar o apoio necessário para que possam cumprir essa missão. “A partir do conhecimento da vida do candidato e da sua participação e compromisso com a sua comunidade cristã paroquial e eclesial é preciso que as forças se unam para podermos ajudá-los a galgar postos na vida pública que possibilitem a implantação dos valores Reino de Deus”, dizia Dom Mauro. No reconhecimento demonstrado pelo Bispo, de que o Reino de Deus se constrói, também, com ações concretas em favor do outro, não há como pensar que a prática política possa estar de fora da exigência de uma verdadeira vida cristã. Há que, para isso, o candidato ou candidata precisam estar, de fato, comprometidos com o evangelho e com o compromisso de lutar pelos valores da Palavra, fazendo da política instrumento de efetiva representação de todos, e não de alguns somente. Portanto, se não há mais tempo legal para se inscrever como candidato, pois o prazo já se encontra vencido, podemos, ainda, garantir nossa participação nos partidos políticos e lutar para que nas negociações em busca de alianças e apoios os fins não justifiquem quaisquer meios. Além disso, em seu artigo de 2012, Dom Mauro lembrava que “reclamamos tantas vezes que políticos se aproveitam do bem público em seu benefício próprio ou de grupos”, mas advertia para a responsabilidade de tudo fazer para eleger aqueles candidatos que realmente mostram, com sua vida particular e pública, o comprometimento com a missão de Jesus. Há um ditado que afirma: “cada povo tem o governo que merece”. Não é bem verdade, mas não se pode negar que os bons e os maus políticos são eleitos por nós. Por isso, cada vez mais é fundamental votar com responsabilidade, conhecendo os candidatos e cobrando depois. Lembremos que o Papa Paulo VI disse: “A política é uma maneira exigente de viver o compromisso cristão ao serviço dos outros” (Octogésima Adveniens, 46). Se não for pelo caminho da eleição para um cargo público, seja pelo caminho de eleger alguém digno de nosso voto, de nos representar politicamente. Ainda temos tempo, podemos nos organizar para participar dignamente do processo político, ajudando a acabar com a corrupção e valorizando a ética nas campanhas e nos mandatos. A ética social cristã não é opção para alguns, mas exigência para todos. Ela é contribuição própria do cristão católico para a construção da sociedade justa e solidária. Odilmar Franco Missionário MEAC Palmeira – PR odilmarfranco@gmail.com

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