Antoninho Tatto: Tenho imenso carinho pelo teu trabalho e por tudo o que escreve.
Em relação ao dízimo, procuro beber sempre desta fonte porque vejo que é fruto não só de estudos e pesquisas, mas de experiência pastoral profunda.
Antoninho Tatto: Como isso me alegra, lembrando aquele primeiro momento quando nos conhecemos no encontro diocesano de Guarapuava, com todos os padres e Dom Albano Cavallin.
Era o começo de minha caminhada, tinha menos de uma década de experiência e fui agraciado com um convite para refletir junto de um grande número de padres e o Bispo, por três dias.
Feliz escolha, profética decisão de Dom Albano. Você se entusiasmou por esta Pastoral, e não parou mais de escrever. E escreve muito, e muito bem.
Padre Cristovam: Você foi e é o meu mestre. Só procurei aprender…
Padre Cristovam: Obrigado! Como foi o seu primeiro contato com a Pastoral do Dízimo?
Antoninho Tatto: Minha história nasceu do combate à prática desta Pastoral na Igreja. Quantas vezes critiquei quando solicitavam contribuições.
Para mim era dar dinheiro para o padre. Mais uma forma de pedir mais dinheiro do povo.
Padre Cristovam: Você entendia que o dinheiro era sempre para o padre?
Feita a relação, pelo padre, das coisas que nossa família deveria dar, entre-gou a lista para meu pai.
Depois que ele saiu, vi meu pai muito triste e preocupado. Minha mãe chorava, tentando esconder de nós, os olhos, pois éramos pequenos e não entenderíamos.
Eu tinha nove anos, percebi o que se passava.
Padre Cristovam: Vocês eram pobres…
Era feio não entregar aquelas coisas todas na comunidade, no dia marcado, quando o padre as mandava buscar.
Padre Cristovam: E o que vocês zeram?
E assim cumpriu com o nosso dever de participar.
Padre Cristovam: Como você reagiu?
Cresci com esta revolta, e apesar de estar sempre envolvido e trabalhando na Igreja, trazia comigo esta mágoa, este bloqueio.
Um dia questionei minha mãe, bem mais tarde, depois da minha conversão, já pregando há décadas sobre o dízimo.
Perguntei a ela por que não disseram ao padre que não tínhamos nada daquilo, por que não o contestaram.
Padre Cristovam: E ela?
Antoninho Tatto: Disse-me: “Você não gosta da Catedral que nós construímos?” “Mas mãe, eu lembro do pai triste e preocupado, vi a senhora tentando esconder o choro na cozinha”. Mas ela retrucou: “Sim, eu sei.
Lembro daquele e de outros momentos assim. Mas não era tristeza por dar aquelas coisas para Deus, era porque a gente não podia contribuir com mais”. Esse era o sentimento e a consciência de gratidão e confiança que aquele padre, homem santo de Deus, soube colocar no coração daquele povo.
E eu com tanta amargura no coração, por tanto tempo!
Padre Cristovam: Assim você superou o trauma…
Padre Cristovam: Qual foi a saída?
Ganhávamos cinco salários mínimos, isto quando o salário correspondia a cinquenta dólares, e a inflação era de setenta por cento.
Se minha família era pobre, a da Ines era mais pobre ainda. A mãe dela era viúva, com quatro filhos, e ganhava apenas dois salários mínimos para o sustento da família.
Minha sogra, contudo, encontrava espaço no orçamento para honrar a Deus com o seu dízimo. Como isso era possível?
Padre Cristovam: Isto o questionou?
Com a minha pobreza e a da Ines nós nos aventurávamos no casamento. Aí vieram os filhos; tivemos quatro.
Para complicar mais a nossa vida, nossa terceira filha, a Cristiane, nasceu com um problema muito sério, uma doença que aos três anos e meio levou os médicos a nos dar uma triste notícia: “Ela não vai viver muito, pode acontecer a qualquer momento.
A doença dela não tem cura”.
Padre Cristovam: Situação dolorosa e difícil…
Mas apesar disso tudo, Ines e eu tínhamos nosso compromisso missionário. Inúmeras vezes era necessário deixar tudo isso e ir pregar pelo Brasil, onde era chamado.
Foi assim que conheci a realidade da nossa Igreja, paróquias com muitas dificuldades para evangelizar devido a duas necessidades básicas: falta de recursos financeiros e falta de agentes comprometidos, dispostos a trabalhar com os padres.
Padre Cristovam: Esta constatação o levou a que decisão?
Pensei: “O que estou fazendo com meus dons para participar da minha Igreja?” Nada! Não somava, e ainda prejudicava, quando criticava sem fundamentos a Igreja.
Era uma desculpa para justicar minha omissão e não contribuir com um mínimo, com meu dízimo.
Ao retornar de mais uma viagem de evangelização, muito questionado pelo testemunho de luta e de simplicidade de muitos padres e religiosos/as, resolvi que encontraria uma solução.
Mas não tinha a coragem de meter a mão no bolso e partilhar.
Padre Cristovam: E então a Bíblia veio em teu socorro…
Também sobre a oferta comecei a ler, meditar e escrever, pois a oferta me tocou ainda mais, tirando o peso da imposição e da obrigatoriedade da lei do dízimo.
A oferta me transmitiu algo bom, a espontaneidade, a gratidão, a motivação serena.
Gostei muito disso que encontrei.
Padre Cristovam: Assim nasceu um novo dizimista?
A Ines sim, queria muito que fosse o dízimo integral, mas eu não aceitei. Concordei com apenas três por cento. Depois de três meses des- ta experiência, Ines insistiu nos dez por cento.
Ela constatou que durante aqueles três meses os três por cento não nos fizeram falta, apesar da doença de Cristiane.
Os médicos tentavam nos preparar para o momento doloroso, pois diziam que a cada dia a possibilidade de cura diminuía.
Padre Cristovam: Apesar de tudo, a Ines queria contribuir com dez por cento?
Como ela insistia, mostrei numa folha nossos compromissos, com 3% as contas fechavam; com 10% faltaria dinheiro no nal do mês.
Como vamos fazer, onde vamos encontrar a diferença?
A resposta de Ines: “Não sei, também não é problema meu. O que sei é que quando você pregava na comunidade dizia para nós que deveríamos con ar em Deus, que Ele é el e sabe das nossas necessidades.
Você não acredita no que prega?”
Padre Cristovam: Ela não deixou barato…
Apesar disso, não foi fácil. Durante muito tempo para mim foi difícil, nunca para a Ines, contribuir com 10% dos ganhos, agora não mais para o padre, mas para Deus.
Com o tempo foi ficando mais tranquilo, até o dia da grande graça: entregar com alegria, com muita gratidão e sem constrangimento, os 10%.
Padre Cristovam: Os 10% não foram um peso?
Certamente era o maior dízimo da paróquia, mas acho pouco, Senhor. Meu desejo é que o que eu ganho hoje seja o meu dízimo!” E isso se concretizou em muito pouco tempo. Graça sobre graça!
Continuávamos viajando em missão, agora com algo especial para partilhar com o povo: a graça e a misericórdia de Deus!
Padre Cristovam: Foi a Sagrada Escritura, por- tanto, que abriu o seu coração ao dízimo…
No nosso compromisso missionário queríamos partilhar esta experiência. Mas como? Não encontramos literatura sobre o dízimo nas livrarias católicas.
Mas encontrei o estudo 8 da CNBB, uma preciosidade. Encontrei também uma experiência, um pequeno e prático livrinho, de Dom Maimone, e outro livrinho do Irmão Rogê, da comunidade de Taizé, de Alagoinhas.
Padre Cristovam: A partir daí você começou a escrever sobre o dízimo?
Pensei: “Se aqueles textos e re exões sobre o dízimo me converteram, se conseguiram mudar a cabeça de Antoninho Tatto, certamente vão ajudar outras pessoas”.
Foi quando preparei o livro Dízimo e Oferta na Comunidade.
Padre Cristovam: Livros que tiveram uma aceitação incrível, não é mesmo?
Com edição em espanhol, e também em ronga e outros idiomas de tribos africanas. Depois vieram outros livros para complementar a pedagogia, com o objetivo de transformar a vida das paróquias.
Sempre organizando, celebrando, implantando e mantendo o dízimo como proposta educativa de corresponsabilidade, aprofundando os aspectos fundamentais do dízimo em suas dimensões Religiosa, Social e Missionária.
Todos os subsídios estão em conformidade com o Estudo 8 da CNBB.
Padre Cristovam: Que avaliação você faz da Pastoral do Dízimo no Brasil hoje?
Antoninho Tatto: Ainda hoje, em muitas comunidades, permanece a luta e o desa o por dinheiro e por pessoas comprometidas na missão de evangelizar.
Mas também é verdade que muitas comunidades caminham a passos largos para a maturidade graças à Pastoral do Dízimo.
Padre Cristovam: Você se sente feliz ao ver o dízimo presente hoje em todo o Brasil?
Antoninho Tatto: O melhor de tudo é ver que muitas paróquias e dioceses inteiras, inclusive, têm hoje independência nanceira para realizar mais e melhor sua missão de evangelizar, e ver que esta Pastoral desperta a missionariedade dos batizados, que é muito mais do que simples arrecadação de dinheiro.
Louvado seja Deus!
Padre Cristovam: Lembrando sempre que o Antoninho Tatto teve a graça de ter uma Ines em sua vida…
Com seu carinho, amor e muita paciência soube conduzir um teimoso de cabeça dura para coisas bonitas que Deus tinha reservado para nossas vidas.
Padre Cristovam: Obrigado, amigo e irmão na fé, meu mestre na descoberta do dízimo como sustentação da ação evangelizadora. Era isso que queria ouvir de você e partilhar com os leitores: o seu testemunho. Obrigado! Deus o abençoe!
Antoninho Tatto é Administrador de Empresas e Contador, palestrante, escritor e membro do MEAC (Missionários para Evangelização e Animação de Comunidades), com sede em São Paulo, SP.