A Missão na Igreja, Hoje

A Missão na Igreja, Hoje

Introdução

Ao longo de 20 séculos, a começar de Jesus Cristo, a missão tem sido a principal atividade da Igreja. Ela tem sido sempre o coração da Igreja. A história da Igreja se identifica com a história da missão que se desenvolve de maneira diferente de acordo com o tempo e o lugar.

Nos últimos tempos, a atividade missionária tem recebido uma atenção especial por parte da hierarquia da Igreja, sobretudo através do magistério. De Leão XIII ao Papa Francisco tem sido numerosos os documentos sobre a missão da Igreja, além dos documentos conciliares, das Conferências Episcopais a nível continental e nacional. Entre os documentos pontifícios destacamos a encíclica “Evangelii Nuntiandi” de Paulo VI e a “Redemptoris Missio” de João Paulo II.

I – A Missão, maior desafio da Igreja

O Papa Francisco declara: “O anúncio do Evangelho é a primeira e constante preocupação da Igreja, é o seu compromisso essencial, o seu maior desafio e a fonte de renovação. No dia em que renunciar à agenda missionária, nada mais lhe restará a fazer aqui na Terra”.

O problema maior da Igreja, em qualquer parte do mundo, inclusive no Brasil, não é a realidade sociocultural e religiosa; não são as distâncias geográficas, a falta de estruturas e de recursos econômicos e humanos. O que impede mesmo a Igreja de cumprir sua missão é a “falta de missão”.

Nosso maior desafio é transformar as estruturas da Igreja em algo decididamente missionário (Doc. Aparecida, 370).

Não é difícil celebrar sacramentos. O desafio é transformar a prática sacramental tradicional em missão. Não é difícil alimentar a vida das pessoas com práticas devocionais. Difícil mesmo é converter estas práticas em missão. Não é difícil conseguir dinheiro na Igreja. O desafio maior é aplicar este dinheiro na missão.

A missão não é enfeite, adorno, luxo, na vida da Igreja. A missão é a essência e a natureza da Igreja (Redemptoris Missio, 62). A Igreja existe no mundo para anunciar a Boa Nova do Reino de Deus ao coração das pessoas, a fim de que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da Verdade.

Para cada um, pessoalmente, “a missão é algo que não se pode arrancar do próprio ser. Cada um é uma missão nesta terra e por isto está no mundo (Papa Francisco, A Alegria do Evangelho, 273).

Jesus Cristo encarnou a missão em sua vida. Ele viveu, trabalhou, pregou, foi desprezado, torturado, morto e sepultado por causa da missão. Ele consagrou radicalmente sua vida à missão recebida do Pai. Jesus disse que os apóstolos enfrentariam os mesmos desafios por causa da missão.

II – Jesus, o mais perfeito modelo de missionário

Como era o dia a dia missionário de Jesus? Primeiro ele foi ao deserto, onde João Batista pregava e batizava. Lá Jesus recebeu, no seu batismo, a confirmação da própria missão.

Consciente de que tinha chegado o momento de tornar pública a sua missão, convoca a primeira equipe missionária (Simão, André, Tiago e João) e parte para a missão.

Esta foi a primeira ação missionária de Jesus, que deve ser também o primeiro ato missionário da Igreja: convocar as pessoas, reuni-las, prepará-las e convencê-las de que vale a pena ser e viver como missionário.

Mas como era a jornada missionária de Jesus? Marcos a descreve detalhadamente no seu Evangelho (Mc 1, 21-28).

É um dia de sábado e Jesus vai primeiro para a sinagoga, lugar de oração, de escuta e de estudo da Palavra de Deus. O dia missionário de Jesus começa pela oração e terminará, na madrugada seguinte, recolhido em oração num lugar deserto.

Não se faz missão sem oração. Esta deve ser a primeira ação missionária. A eficácia da missão depende da qualidade e da intensidade da nossa oração.

Saindo da sinagoga, Jesus entra na casa de Pedro, onde encontra a sogra dele doente, com febre. Jesus se aproxima dela, toma-a pela mão levantando-a da cama e a cura da febre. É a visita familiar. A missão cura, salva, encoraja e liberta as pessoas de muitos males. A sogra de Pedro, curada, começa a servir. Esta é a finalidade da missão: devolver às pessoas a dignidade humana e colocá-las em estado de serviço e missão.

À tarde, depois do pôr do sol, começam a trazer para Jesus todo tipo de doentes e Ele cura a todos.

Depois de um dia intenso de trabalho, Jesus ainda tem disposição para cuidar dos doentes. Em seguida, de madrugada, “quando ainda estava escuro”, Jesus se recolhe em oração, pronto para uma nova missão: ir a outras comunidades que ainda não havia atendido.

O dia missionário de Jesus deve servir como modelo de missão para a Igreja, pois a fonte de inspiração de toda missão é Jesus Cristo, o Missionário do Pai, o primeiro e maior evangelizador, criador do espírito missionário da Igreja.

III – Orientações de Jesus para a missão

Jesus Cristo, além de nos dar o seu exemplo, deixou um manual de instrução para orientar os seus discípulos na missão. Encontramos estas instruções no Evangelho de Lucas (Lc 10, 1-12).

Depois de ter enviado os doze, Jesus envia setenta e dois discípulos.

Destacamos algumas destas instruções:

1) “Enviou-os à sua frente para onde Ele devia ir”. Os missionários são “enviados”. A própria palavra “missionário”, do latim mittere, significa “enviado”. “Apóstolo” também significa “enviado”, na língua grega. Na Bíblia o termo enviado é encontrado numerosas vezes. Quem envia é sempre Deus. Ele envia os anjos como mensageiros. Moisés é enviado ao Faraó e ao povo de Israel. Isaías pergunta: “A quem enviarei?” E ele mesmo responde: “O Senhor enviou a mim”. Jeremias afirma: “O Senhor me enviou a profetizar”. E Jesus diz: “Assim como o Pai me enviou, eu envio a vós”.

Não existe missão sem envio. O próprio Deus, através do profeta Jeremias fez esta queixa: “Eu não os enviava e eles corriam” (Jr 23,21). Hoje Deus envia através da Igreja, da autoridade competente e da comunidade. Paulo e Barnabé foram enviados em missão pela Comunidade de Antioquia. O fato de alguém se auto-enviar desqualifica a sua missão.

2) “Enviados dois a dois”, em duplas. É uma forma de paridade, de parceria, de apoio mútuo, testemunho de colegialidade. Se um cair, será apoiado pelo outro”. “Ai de quem está sozinho: quando cair, não terá quem o ajude a levantar-se” (Ecl. 4, 9-10).

3) “Pedi ao dono da messe”. A oração. A oração é a fonte da pregação, da ação e da missão de Jesus. A fecundidade da missão nasce do contato vivo e pessoal com Deus.

4) “Como cordeiros no meio de lobos”. É a atitude do missionário de Jesus: a mansidão. Os enviados não devem ter medo da oposição dos que vão se sentir incomodados com a proposta do Evangelho. Naturalmente o Evangelho incomoda e provoca reações. A defesa do missionário não deve ter a marca da violência. O Papa Francisco lembra, a respeito, que o cordeiro nunca deve se tornar um lobo. Mesmo usando a astúcia cristã, o missionário deve ser sempre cordeiro.

5) “Sem bolsas nem sacolas”. A pobreza: A missão de Jesus tem as marcas do despojamento, da gratuidade,da renúncia e da pobreza. A pobreza do missionário dará credibilidade à sua mensagem. O Papa Francisco costuma dizer aos padres que o povo compreende e perdoa todas as fraquezas. Só não perdoa a ganância pelo dinheiro e a falta de caridade no trato com as pessoas. O que o Papa diz aos sacerdotes vale para todos os que pregam o Evangelho.

6) “A paz”. A paz é levada e dada com atitudes e não simplesmente com palavras.

São Francisco de Assis é conhecido e lembrado pela saudação que caracterizava a sua pregação e dos seus discípulos: Paz e Bem. Onde o missionário chega é portador da Paz, como expressa a oração atribuída ao Santo de Assis, e que deve se concretizar em cada missionário: “Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa paz”.

7) Hospedagem nas casas. A missão de Jesus tem as marcas de urgência e de prioridade. O missionário não deve perder tempo com questões secundárias.

8) O salário do operário. O missionário deve confiar na generosidade que a mensagem provocará no coração das pessoas. Como disse o Papa Francisco aos membros das Pontifícias Obras Missionárias: “O dinheiro é um auxílio, mas pode se tornar também a ruína da missão”. Isto sobretudo quando o missionário demonstra que está buscando algum tipo de lucro pessoal.

Todavia Jesus não nega que o missionário é digno de receber, como qualquer operário, a recompensa do seu trabalho.

9) A cura dos doentes: Jesus é o amigo dos pecadores, o consolador dos que sofrem e o curador dos doentes e Ele envia seus discípulos com a recomendação de curar os doentes. A missão salva e regenera. O missionário é um curador de almas e de corações. Muitas doenças podem ser curadas na e pela missão, porque a cura espiritual traz muitas vezes a cura dos males físicos.

10) “O Reino está próximo”. Trata-se do anúncio da missão. O Reino é o centro da missão de Jesus. Aliás o Reino é o próprio Jesus e a sua mensagem.

A tarefa principal do missionário é anunciar que Deus está perto de nós por Jesus Cristo e Ele quer a salvação de todos e a todos oferece os meios para alcançar a salvação.

11) Sacudir a poeira dos pés: Expressão eminentemente bíblica e significa que a missão, de nossa parte, foi cumprida, Jesus foi testemunhado. Agora tudo depende de quem recebeu a missão, ouviu a Palavra de Deus e viu o testemunho de Jesus.

IV – O segredo da vocação Missionária : É o encantamento por Jesus e sua Igreja. Trata-se da base de toda vocação. O segredo da vocação missionária está na capacidade de se reencantar a cada dia, de começar sempre de novo. Fixar o olhar na pessoa de Jesus e se apaixonar por Ele, pela sua mensagem e pela sua Igreja que é o seu corpo místico: esta é a motivação que dá sentido a uma verdadeira vocação missionária, bem como a qualquer vocação ao seguimento de Jesus Cristo.

Um dia alguém, membro de uma das Congregações fundadas por Madre Tereza de Calcutá se apresentou a ela muito alegre e disse: “Madre, finalmente eu descobri a minha vocação: Cuidar dos leprosos!” Madre Tereza respondeu: “Não, meu filho. Sua verdadeira vocação é pertencer a Jesus Cristo!” Quem pertence a Jesus Cristo e o ama de verdade abraçará a causa de Jesus. Ser missionário é abraçar a causa de Jesus Cristo.

O “Concílio Vaticano” tinha recordado que o anúncio do Evangelho até os confins do mundo é obrigação de todo cristão. Depois do Concílio, os papas continuaram lembrando a necessidade do empenho missionário. “Mais de dois mil anos depois de sua vinda ao mundo, 70% da humanidade ainda não ouviu falar de Jesus Cristo; e dos 30% restantes, 90% precisam de uma nova evangelização” (Pe. Sávio Carimaldesi).

Como alguém pode amar Jesus Cristo e não se decidir abraçar a causa da missão?

Conclusão : Não poucas vezes ouvi pessoas dizendo assim: “Eu gosto de fazer o trabalho de animação da pastoral do dízimo e para isto uso a metodologia do Meac”. A estes irmãos que vestem a camisa do Meac para realizar o trabalho do dízimo somo obrigados a dizer: “Importante não é utilizar a metodologia e o material do Meac. Importante mesmo é ser Meac, viver o carisma do Meac, ser missionário de verdade conforme o espírito do Meac, encarnando o modelo missionário que é Jesus Cristo, e aí, sim, qualquer trabalho pastoral, por menor e mais humilde que seja, produzirá frutos abundantes para a messe do Senhor e toda a sua vida se tornará missão”.

Que Maria, a Estrela da Evangelização, que trouxe Jesus Cristo ao mundo, nos ajude a levar este mesmo Jesus ao mundo em que vivemos, fazendo de nós verdadeiros missionários do Reino de Deus.

Por fim desejo agradecer a grande colaboração de Dom Pedro Brito, atual arcebispo de Palmas – To, pelo excelente artigo publicado na revista Vida Pastoral (nº 308) que em grande parte serviu de base e de roteiro para esta reflexão sobre a Missão na Igreja.

 

 

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