A CASA DE JESUS

Normalmente, quando nos aproximamos de alguém que nos agrade e nos cative com sua simpatia, jeito de ser, de olhar, de pensar, logo queremos saber mais a seu respeito. Onde mora, quem são seus familiares, donde vem, o que faz? Foi o que aconteceu com os dois discípulos de João que, vendo Jesus passar, abandonaram tudo e o seguiram. Aquela quase espionagem foi logo descoberta e o mestre não os repeliu, ao contrário, abriu as portas de sua casa para os acolher e hospedar com desvelo. André era um destes. Não tardou para convidar mais um àquele time de curiosos, seu irmão Simão. “Então André conduziu Simão a Jesus. Jesus olhou bem para ele e disse: “Tu és Simão, filho de João; tu serás chamado Cefas” (que quer dizer Pedra)” (Jo 1,42). Assim se iniciou a comunidade dos apóstolos, com o primado de Pedro já se despontando dentre eles. Aqui nascia a “eclesia”, a primeira comunidade cristã. Nascia na casa de Jesus, seu primeiro e único mestre! A questão ainda não está de todo respondida. “Mestre, onde moras?” Esse é o dilema da comunidade órfã dos ensinamentos cristãos, pois quem por primeiro faz a pergunta não são os curiosos observadores dos passos de Jesus, mas Ele próprio: “O que estais procurando?”. A resposta a uma dúvida humana é sempre uma pergunta que se repete. O que procuramos? Saber onde Ele mora é pouco, não nos basta como sonhadores por um mundo novo, um novo sentido existencial, uma vida mais justa e amena em suas provações diárias. O que procuramos é tudo isso e muito mais, que o olhar misterioso daquele “estranho forasteiro” guardava dentro de si. Seria sua casa a fonte do que procuravam, o celeiro do segredo que seu olhar denunciava? “Vinde ver”, lhes desafiara Jesus. Naquele fim de dia permaneceram com Ele em sua casa. Acharam o que procuravam? Teria Jesus lhes revelado de pronto todo seu projeto eclesial, os principais pontos do ministério que iniciava, os segredos de sua doutrina de paz e amor? Não, claro que não! A escola seria longa, o caminho árduo, as provações diárias. Haveriam de aprender na caminhada, no amor e na dor de uma convivência construída à luz das revelações diárias. A casa era apenas um detalhe circunstancial, pois logo, logo nem isso teriam. Nem “onde repousar a cabeça”, diante do árduo trabalho pela frente. Talvez aquele primeiro momento tenha sido um simples prelúdio que o olhar penetrante e maravilhoso de Jesus lhes revelava com a manifestação de um amor muito mais profundo e misericordioso. Era isso o que viam naquele “lar, doce lar”, onde Maria lhes servia os quitutes de uma casa pobre. Talvez um jarro d´água, uma tortilha qualquer, mas muito amor e respeito. Eles foram, eles viram! Eles degustaram tudo aquilo na casa de Jesus. O que estamos procurando? E esperando? Na casa de Jesus cabemos todos, somos bem-vindos e acolhidos com o mais puro amor. Na casa de Jesus o maná do deserto ainda cai do céu, o pão e os peixes se multiplicam com sua graça e predileção por “aqueles que o Pai lhes deu”. Na casa de Jesus ainda está Maria, a serviçal sempre atenta e carinhosa, que nos ensina a fazer “tudo o que Ele nos mandar”. A Igreja, a verdadeira Igreja, ainda é essa misteriosa casa! A Igreja, povo de Deus que sonha e sofre, sofre e sonha, mas resiste com sua esperança imortal. Onde está Jesus nisso tudo? Pe. Júlio Lancellotti, numa revelação da graça atuante nessa Igreja, nos disse recentemente: “Às vezes procuro Jesus no Sacrário, mas Ele fica em silêncio e teima em se esconder debaixo de viadutos e pontes de concreto”. Ali também é sua morada…

WAGNER PEDRO MENEZES
wagner@mec.com.br

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