A crise comunitária

A CRISE COMUNITÁRIA O papa não nega, mas adverte. Há uma crise de compromisso comunitário minando as ações do evangelizador, por falta de um comprometimento evangélico. Esse é o tema do segundo capítulo da exortação apostólica “A alegria do Evangelho”. Oferece-nos um novo olhar, para melhor “reconhecer e interpretar as moções do espírito bom e do espírito mau”. Os desafios são inúmeros. Começa pelo maior de todos, a questão financeira, ponto nevrálgico de toda e qualquer crise mundial – e também pessoal – que mata e corrói qualquer princípio de dignidade humana. “Essa economia mata”, diz o papa, referindo-se à brutalidade da exclusão e da desigualdade que a globalização financeira tem provocado. “O ser humano é considerado como um bem de consumo”, incluído na “cultura do descartável”. A produtividade humana, enquanto útil à engrenagem do mercado, é assimilada e sugada até sua quase totalidade exponencial; fora disso, torna-se “resíduo, sobra”, alerta o pontífice. Devemos dizer “não ao dinheiro que governa em vez de servir”. É o homem o senhor de todas as coisas. Cita a fé como virtude ameaçada. “Não convém ignorar a enorme importância que tem uma cultura marcada pela fé”. O secularismo é o maior inimigo. “È inegável que muitos se sentem desiludidos e deixam de se identificar com a tradição católica, que cresceu o número de pais que não batizam os seus filhos nem os ensinam a rezar”… Mas é dentre os desafios da vida e espiritualidade missionária que o papa eleva o tom de seu alerta. “Desenvolve-se a psicologia do túmulo, que pouco a pouco transforma os cristãos em múmias de museu. Desiludidos com a realidade, com a Igreja ou consigo mesmos, vivem constantemente tentados a apegar-se a uma tristeza melosa, sem esperança, que se apodera do coração como ”. Há um pouco de negativismo nessas declarações? Pelo contrário, sabemos que a verdade dói, mas quando somos forçados a ouvi-la em alto e bom som, dói-nos mais a vergonha da responsabilidade não assumida. Vem, então, o grande apelo “Não deixemos que nos roubem”… Apelo que Francisco nos faz por seis vezes seguidas. “Não deixemos que nos roubem a alegria de evangelizar, a esperança, a comunidade, o Evangelho, o amor fraterno, a força missionária… Neste contexto, o papa nos lembra que “na encarnação, o Filho de Deus convidou-nos à revolução da ternura”. Começa o afago paterno. É nessa visão de uma espiritualidade mais próxima à ternura e ao amor divino, que está o segredo do destemor cristão. “Quero pedir-lhes de modo especial um testemunho de comunhão fraterna, que se torne fascinante e resplandecente. Que todos possam admirar como vos preocupais uns pelos outros”. Esse é o verdadeiro ideal do amor fraterno! O serviço, a responsabilidade, o mandato missionário compete a todos. Mesmo as mulheres, participantes do sacerdócio comum dos fiéis, possuem uma “indispensável contribuição” com a obra. “Com efeito, uma mulher, Maria, é mais importante do que os Bispos. Mesmo quando a função do sacerdócio ministerial é considerada , há de se ter bem presente que se ordena integralmente à santidade dos membros do corpo místico de Cristo”. Aos jovens há uma atenção especial. Estes buscam um novo sentido para suas vidas. “Embora nem sempre seja fácil abordar os jovens, houve crescimento em dois aspectos: a consciência de que toda a comunidade os evangeliza e educa e a urgência de que eles tenham um protagonismo maior. Deve-se reconhecer que… são muitos os jovens que se solidarizam contra os males do mundo”. Conclui: “É conveniente ouvir os jovens e idosos. Tanto uns como outros são a esperança dos povos. Os idosos fornecem a memória e a sabedoria da experiência, que convida a não repetir tontamente os mesmos erros do passado. Os jovens chamam-nos a aumentar a esperança”… E reitera: “Não deixemos que nos roubem a força missionária”. WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br O papa não nega, mas adverte. Há uma crise de compromisso comunitário minando as ações do evangelizador, por falta de um comprometimento evangélico. Esse é o tema do segundo capítulo da exortação apostólica “A alegria do Evangelho”. Oferece-nos um novo olhar, para melhor “reconhecer e interpretar as moções do espírito bom e do espírito mau”. Os desafios são inúmeros. Começa pelo maior de todos, a questão financeira, ponto nevrálgico de toda e qualquer crise mundial – e também pessoal – que mata e corrói qualquer princípio de dignidade humana. “Essa economia mata”, diz o papa, referindo-se à brutalidade da exclusão e da desigualdade que a globalização financeira tem provocado. “O ser humano é considerado como um bem de consumo”, incluído na “cultura do descartável”. A produtividade humana, enquanto útil à engrenagem do mercado, é assimilada e sugada até sua quase totalidade exponencial; fora disso, torna-se “resíduo, sobra”, alerta o pontífice. Devemos dizer “não ao dinheiro que governa em vez de servir”. É o homem o senhor de todas as coisas. Cita a fé como virtude ameaçada. “Não convém ignorar a enorme importância que tem uma cultura marcada pela fé”. O secularismo é o maior inimigo. “È inegável que muitos se sentem desiludidos e deixam de se identificar com a tradição católica, que cresceu o número de pais que não batizam os seus filhos nem os ensinam a rezar”… Mas é dentre os desafios da vida e espiritualidade missionária que o papa eleva o tom de seu alerta. “Desenvolve-se a psicologia do túmulo, que pouco a pouco transforma os cristãos em múmias de museu. Desiludidos com a realidade, com a Igreja ou consigo mesmos, vivem constantemente tentados a apegar-se a uma tristeza melosa, sem esperança, que se apodera do coração como ”. Há um pouco de negativismo nessas declarações? Pelo contrário, sabemos que a verdade dói, mas quando somos forçados a ouvi-la em alto e bom som, dói-nos mais a vergonha da responsabilidade não assumida. Vem, então, o grande apelo “Não deixemos que nos roubem”… Apelo que Francisco nos faz por seis vezes seguidas. “Não deixemos que nos roubem a alegria de evangelizar, a esperança, a comunidade, o Evangelho, o amor fraterno, a força missionária… Neste contexto, o papa nos lembra que “na encarnação, o Filho de Deus convidou-nos à revolução da ternura”. Começa o afago paterno. É nessa visão de uma espiritualidade mais próxima à ternura e ao amor divino, que está o segredo do destemor cristão. “Quero pedir-lhes de modo especial um testemunho de comunhão fraterna, que se torne fascinante e resplandecente. Que todos possam admirar como vos preocupais uns pelos outros”. Esse é o verdadeiro ideal do amor fraterno! O serviço, a responsabilidade, o mandato missionário compete a todos. Mesmo as mulheres, participantes do sacerdócio comum dos fiéis, possuem uma “indispensável contribuição” com a obra. “Com efeito, uma mulher, Maria, é mais importante do que os Bispos. Mesmo quando a função do sacerdócio ministerial é considerada , há de se ter bem presente que se ordena integralmente à santidade dos membros do corpo místico de Cristo”. Aos jovens há uma atenção especial. Estes buscam um novo sentido para suas vidas. “Embora nem sempre seja fácil abordar os jovens, houve crescimento em dois aspectos: a consciência de que toda a comunidade os evangeliza e educa e a urgência de que eles tenham um protagonismo maior. Deve-se reconhecer que… são muitos os jovens que se solidarizam contra os males do mundo”. Conclui: “É conveniente ouvir os jovens e idosos. Tanto uns como outros são a esperança dos povos. Os idosos fornecem a memória e a sabedoria da experiência, que convida a não repetir tontamente os mesmos erros do passado. Os jovens chamam-nos a aumentar a esperança”… E reitera: “Não deixemos que nos roubem a força missionária”. WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br

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