Não era amarela, nem endêmica. Mas a colocou em risco de morte. Como qualquer doença que assola a vida humana, a febre daquela mulher a levou para a cama, prostrada, sem vontade de nada, sem ação. Diante dela só vultos e fantasmas do passado dominavam seus sentidos, como se a vida fluísse por caminhos tortuosos e nada mais lhe alimentasse o espírito com sua costumeira disponibilidade de servir e trabalhar pelos seus. O temor pela morte fazia dueto com as lembranças de seus pecados e omissões praticados em vida. Morte e pecado. Como se sua história acabasse nisso.
O domínio do mal se resume a situação assemelhada. Pecado e morte são tônicas de uma existência febril. Somos susceptíveis às doenças do mundo, sejam estas de cunho fisiológico ou mesmo espiritual. As mazelas que circundam nossa existência exigem imunizações e controles periódicos, precauções, tratamento adequado. Se no aspecto físico um surto nos assusta, o que se diria de uma endemia que pudesse nos abater espiritualmente? Pois é essa a mais devastadora delas. Esta nos assusta e requer ações de profilaxias muito mais eficientes do que a simples febre que se abateu sobre a sogra de Pedro. Exatamente esse surto está em curso nos dias de hoje e nos portamos como se esse não existisse. O mundo vive uma endemia febril, que nos mata aos milhões, sem nos darmos conta de sua terrível devastação. Morremos contaminados pela indiferença à doença que nos assola.
Afinal, do que se trata? Da maior e mais avassaladora campanha contra a Igreja e seus fiéis, contra os princípios da fé em Deus, contra toda e qualquer forma de espiritualidade que possamos demonstrar. Ideologias alienantes e
modismos de uma cultura dita libertária estão em curso, pressionando todos aqueles que professam uma crença espiritual a abandonarem seus barcos e se unirem à massa dos que se dizem libertos das peias religiosas. Meios de
comunicação invadem nossos lares com sua cultura de morte, seus modismos sem escrúpulos, suas programações irônicas e sarcásticas aos adeptos do seguimento cristão ou de qualquer princípio de fé. Não precisamos
exemplificar. Todos conhecemos donde vêm tais ameaças. O demônio está solto, deita e rola e faz o que bem entende na sociedade secularizada dos nossos dias. Disse recentemente o papa Francisco: “O demônio é um Senhor
bem vestido e perfumado”. Ele está no meio de nós.
Essa é a febre dos dias atuais. A esse fato devemos unir a ação de Jesus, também presente entre nós, que se preocupou com a simples doença daquela mulher do lar. Jesus foi até sua casa, também endereço daqueles com quem convivia e aos quais confiava uma missão restauradora. Não seriam eles vítimas de qualquer mal, em especial uma doença passageira como aquela. Estende sua mão à doente, que retoma seu hábito de servir a todos e vence a maledicência dos demônios ali presentes. A ação do mestre é libertadora, tanto física quanto espiritualmente falando. Sua presença provoca três ações: vencer o mal, espalhar o bem (a notícia da cura se espalhou pela vizinhança) e continuar seu trabalho em outras vilas e cidades (pois ato contínuo Jesus seguiu seu caminho) pregando sua doutrina.
Essa é a metodologia de uma Igreja puramente missionária. Curar, ensinar e anunciar um novo tempo. Essa é a campanha mais eficiente contra os males que nos assombram. Esse é o trabalho que nos cumpre realizar diante do triste painel desse mundo febril, que se volta contra seu próprio Criador. Num ano em que aos leigos é lembrado seu compromisso com a evangelização, num tempo em que a Igreja nos aponta responsabilidades e nos mostra o caminho da cura e da libertação que sonhamos para a sociedade, num ano de renovadas aspirações de vida nova, não percamos essa oportunidade de ação e serviço. Se quisermos reverter o processo demoníaco que ronda nossas famílias, deixemos que Jesus nos estenda a mão e nos tire desse leito de dúvidas e incertezas. Chegou a hora de nos levantarmos do leito de nosso imobilismo.
WAGNER PEDRO MENEZES
wagner@meac.com.br