Todo e qualquer conto de fadas nos apresenta reis, rainhas e príncipes como alvos central do enredo das histórias infantis. Nunca uma criança seria o centro das atenções de um mundo encantado, onde poder, beleza e glória são sempre seus valores e aspirações maiores. Só na história cristã vemos uma situação inversa: reis do mundo vêm adorar uma criança! Começa assim a inversão de valores que o cristianismo proporciona aos que seguem sua estrela no firmamento. Os Reis Magos se deixaram guiar por uma luz radiante, encontraram uma criança e nela reconheceram Deus. Então se despojam daquilo que possuem de mais significativo, que de certa forma sintetizava seus poderes terrenos – ouro, incenso e mirra – para devolvê-los ao único Rei merecedor de todos os poderes. O ouro simboliza nossas aspirações materiais, as riquezas transitórias. O incenso lembra um pouco as energias espirituais, a volátil e perfumada dimensão da alma humana. A mirra – erva usada para embalsamar e melhor conservar corpos dos mortos, bem como para aliviar as dores de pés cansados – nos lembra nossa transitoriedade e falácia. Diante de uma criança que as profecias apontavam como o Rei dos reis, o portador de todas as esperanças humanas, nada mais justo e natural que prestar-lhe honras e glórias, bem como presenteá-lo com a insignificância de nossos bens e poderes humanos. “Se os magos procurassem um rei humano, ficariam decepcionados, porque teriam enfrentado em vão um caminho difícil e longo. Mas por procurarem o Rei dos reis, mesmo não enxergando Nele nada de majestade, adoram-No unicamente pela revelação da estrela”, escreveu São Tomás de Aquino. O peso dessa revelação é o que conta. Qualquer manifestação de fé só é passível de avaliação a partir do coração em que ela se revela. O rei Herodes ficou alarmado com a possibilidade de usurparem seus poderes: “Também quero adorar essa criança”, disse com dissimulação. Ao passo que a determinação dos viajantes era pura e simples: “Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-Lo”. Simples e pura como qualquer revelação de Fé. Vi, acreditei e ponto. Há muitas razões humanas para se questionar a veracidade dessa estrela. Mais ainda para justificar o poder que ela exerceu sobre três soberanos, vindo dos confins universais, tão somente para adorar uma criança. Mas aqui poesia e realidade se encontram. Diria até que neste fato reside a beleza de uma promessa que se realiza, com toda sua magnitude e esplendor e esta não poderia acontecer sem uma manifestação metafísica, sobrenatural, além da lógica de nossas lógicas. Tratava-se de uma encarnação divina e uma divinização humana. Sob tão grandioso milagre fenecem nossas teorias e lógicas, poderes e argumentos, sonhos e ambições. Assim como o Espírito Santo iria se manifestar em forma de uma pomba, também e por conseguinte aqui se manifestou em forma de uma estrela, uma luz reveladora. Os poderes humanos dobram seus joelhos diante do poder de Deus. “Nenhum poder lhe seria dado se não viesse do alto”, diria Jesus diante das instituições humanas. Também os Magos descobriram essa verdade antes que o Verbo balbuciasse qualquer Palavra para manifestar seu nome e revelar o milagre de sua presença. Assim age o Espírito; vai adiante de nossas incertezas e dilemas de fé. Quando menos se espera, eis que Ele se manifesta em nós, diante de nossos olhos e nos acontecimentos de nossa história como presença real e solidária, a guiar nossos passos para o coração amoroso do Pai. Assim a Estrela-Guia. Assim a magia de um Reino “que não é deste mundo” vai encantando aqueles que se acham soberanos nesse mundo de ilusões e lógicas apenas materiais. Pois Belchior, Baltazar e Gaspar em nada desmereceram seus poderes terrenos por seguirem a magia de uma estrela, uma luz passageira… Ao contrário, enriqueceram seus reinados terrenos com uma revelação de fé: nasceu o Salvador. WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br