A PEDRA QUE BUSCAMOS

A sabedoria oriental possui muitas pérolas. E preciosas pedras. Uma pequena pedra é fonte de belas lições filosóficas. Basta observá-las com os olhos do coração. Conheci um jovem cujo passatempo preferido era colecionar pedras. Tinha-as das mais variadas formas, matizes e consistência. Algumas preciosas, mas a maioria não. Contudo, aos seus olhos, todas possuíam uma preciosidade mística, uma história, uma procedência. Ao longo dos anos, constituíram sua própria razão de viver, cada qual encerrando um mistério, um ato de conquista, uma lenda pessoal. Aquele estranho hobby encerrava quase um ideal de vida: colecionar, catalogar, juntar as pedras de seu caminho. Não compreendia aquela obstinação e aparente perda de tempo desse meu amigo. Mas filosofei: o que fazemos neste mundo é nada mais, nada menos um contínuo ato de juntar pedras, catar os cacos do caminho que trilhamos. Afinal, o que o homem foi buscar na Lua senão um punhado de pedras para satisfazer seu próprio ego? E agora, uma de suas engenhocas não vasculha o solo de Marte para catalogar suas pedras? Parece-nos que a Idade das Pedras não tem fim. Mas, segundo nossa vã sabedoria, que por anos buscou os mistérios e benefícios da pedra filosofal – e nunca a encontrou de fato – existiu na Índia um jovem ansioso por encontrar uma pedra que transformasse tudo em ouro. Saiu por aí. Catava todas as pedras que encontrava. Batia-as na fivela de seu cinto, na esperança de vê-lo reluzir, fazer-se ouro puro. Assim passou a vida. Já velho e cansado, procurou a sombra de frondosa árvore. Sua busca só lhe proporcionara decepções. Melhor descansar, desistir do sonho, cair na real. Foi quando, olhando para a fivela do cinto, percebeu o inconfundível brilho aurífero, que quase lhe cegava a vista. Sim, era ouro, ouro puro! Havia encontrado a pedra mágica. Mas quando, onde, em que circunstâncias? Sua obstinação pelo bem que sempre perseguiu e seus quase mecânicos gestos para atingir seu ideal, fizeram-no descuidar-se por um momento. Cochilou. Tivera em mãos a oportunidade de mudar sua vida e não percebera. Esse é um dos mistérios do ideal que buscamos em vida. Às vezes gastamos toda nossa existência nesta busca. Às vezes o temos ao alcance, mas passamos despercebidos por ele. Ou o atiramos pelo caminho, sem nos dar conta de sua preciosidade, do milagre que ele pode operar – ou já operou – em nossas vidas. Lançamos fora nosso ideal. De uma forma ou de outra, agimos como os jovens dessa história. Colecionamos pedras em nossa existência. Tropeçamos nelas. Buscamos uma que nos seja preciosa, senão a filosofal – aquela que norteia nossas vidas – ao menos a pepita miraculosa que realiza nossos sonhos, nossas ambições. Mas as escrituras nos advertem: “Não te embrenhes num caminho de perdição e não tropeces nas pedras. Não te metas num caminho escabroso, para não pores diante de ti uma pedra de tropeço” (Ecle 32,25). A mensagem da fé cristã também busca o caminho das pedras. Jesus se dizia a pedra angular, aquela que os construtores rejeitaram. Os que conhecem a história da arquitetura greco-romana sabem avaliar o peso dessa afirmativa. Suas construções desconheciam os milagres do concreto armado e tinham como estruturas principais seus belos e portentosos arcos de pedra. Toda sustentação desses arcos só era possível se houvesse uma pedra angular, resistente e bem moldada. Uma cunha, que suportava e travava todo peso de qualquer edificação. Jesus se dizia tal pedra. Mas não parou por aí. Sobre outra pedra fundou sua Igreja. E nos colocou no seu átrio. Introduziu-nos neste mistério como rochas miraculosas, capazes de oferecer ao mundo, não riquezas, nem a mágica de transformar tudo em vil metal, mas em água-viva, fonte prodigiosa donde nasce a vida eterna. Rochedo donde brota água para o coração sedento do mundo, eis o que devemos buscar como ideal de fé.

WAGNER PEDRO MENEZES
wagner@meac.com.br

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