Quando Jerusalém foi tomada e destruída pelos romanos, no ano 70 d.C., alguns poucos sobreviventes se refugiaram na fortaleza de Massada. Era um penhasco imponente, 400 metros acima da planície a sudoeste do Mar Morto, onde os judeus encontraram um “lugar seguro” – conforme a etimologia do nome -, o último refúgio de uma resistência que já durava séculos. Durou mais dois anos. O cerco romano, comandado por Flávio Silva, além de estratégico, foi ousado, pois marchou sobre a fortaleza com a Décima Legião em peso e uma tropa auxiliar de milhares de soldados, além dos milhares de prisioneiros judeus, que trabalhavam como escravos para o exército romano. Ao amanhecer, as tropas romanas invadiram a muralha pelas fendas abertas por poderosos aríetes com terminais em forma de cabeça de carneiro. Estavam motivadas para entrar em combate contra a resistência de 960 judeus rebelados e entrincheirados. Mas nada encontraram senão um silêncio inquietante, desconcertante… Sabedores de que seriam subjugados impiedosamente, os judeus rebelados preferiram a morte à escravidão. Praticaram um dos mais radicais atos de suicídio coletivo de que se têm notícias na história humana. Essa foi uma das mais trágicas páginas da “Guerra dos Judeus” registrada pelo historiador Flávio José. Dela nos sobra a lição de resistência e amor às tradições que a cultura judaica demonstra ao longo de sua penitente história, desde as mais remotas eras até os dias de hoje. Dela emergem sombras e luzes de uma epopéia humana, polarizada pelos extremos sempre presentes na saga dos povos: dominadores e dominados. Os que subjugam e os que são subjugados. Vencedores e vencidos. Eis que desse relato surge uma semente, um pequenino sinal de esperança! Dois mil anos depois, arqueólogos que pesquisavam o sítio de Massada, em busca de algo mais que lhes fornecesse uma razão lógica para a imponência e sobriedade daquele frio e milenar amontoado de pedras no deserto, encontram uma pista, ou melhor, uma semente! Para sermos mais fiéis, várias delas. Sementes de tamareira, planta da família das palmáceas, cuja fruta, a tâmara, é muito comum na Terra Santa. Um processo de datação por radiocarbono comprovou a preciosidade daquelas sementes: tinham também dois mil anos de história, ou seja, possivelmente foram regadas com o sangue daqueles que saborearam a delícia de suas popas e as nozes de suas entranhas. Como sementes que eram, restava-lhes uma última missão: serem semeadas. Assim procederam seus descobridores. Lançadas ao solo previamente preparado, apenas uma delas germinou. Desde 2005 lá está a misteriosa árvore, nascida de uma semente de 2.000 anos, mas que traz em si toda exuberância de uma planta prodigiosa, capaz de vencer qualquer adversidade e ainda produzir frutos, como esperam seus cultivadores. Segundo o Centro de Pesquisa Hadassah, de Jerusalém, que detém a guarda dessa preciosidade botânica, o DNA da planta demonstra pequenas variações com suas similares contemporâneas, mas só o fato de ter sobrevivido é uma lição da natureza que enaltece sobremaneira a preciosidade da vida, seja ela animal ou vegetal. Daí que também lhe deram um “apelido” bem apropriado: Matusalém. Que maçada, a nossa! Enquanto buscamos razões históricas para justificar fatos que denigrem a dignidade humana, uma pequenina semente vence todos os cercos de seu caminho, todos os ataques contra sua própria vida, para nos encantar com seus dotes, sua simples razão de ser: coragem, eu venci! “O solo pedregoso em que ela caiu, é aquele que acolhe com alegria a palavra ouvida, mas não tem raízes”- diria Jesus. Esses sobram por aí e não sobrevivem ao menor cerco das adversidades. Queremos corações férteis, capazes tão somente de acolher a semente da vida plena. Porque “a terra boa semeada é aquele que ouve a palavra e a compreende e produz fruto”. WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br