Quando se fala em vocação a tendência é sempre imaginar uma carreira em busca de sucesso, satisfação pessoal, realização. Quando olhamos para a história de vida de Maria, mãe de Jesus, o que encontramos é um rosário de contradições, decepções e dor. Desde o ventre, seu filho fora marcado pela incompreensão e pelas injustiças dos homens. Coloquemo-nos no lugar de Maria, u´a mãe sempre amorosa, obrigada a defender seu filho desde o ventre, a ser incompreendida pelos familiares diante de sua afirmativa de estar submissa à vontade de Deus (faça-se em mim sua Palavra) a ser enxotada da própria pátria para salvaguardar seu rebento e a silenciar seu coração materno diante dos mistérios que rodearam a vida pública e as afirmativas enigmáticas que seu Filho publicava.
Momentos de alegria foram muitos. Como aquele em que Jesus atendeu a um pedido seu e não deixou faltar vinho na festa de um casamento! Era um pedido de mãe.. E mãe se atende, se obedece. Seguia à risca sua vocação materna, observando ao longe aquele menino que cresceu “em graça e sabedoria”, sem lhe oferecer grandes transtornos. Ao contrário, sua infância e juventude só fizeram crescer em seu coração a alegria da responsabilidade de um sim submisso, porém responsável. Maria nunca se arrependeu de sua maternidade.
Mesmo diante das acirradas perseguições e incompreensões que durante três anos marcaram o ministério e a proposta transformadora que os lábios de Jesus publicaram, Maria apenas exultou mais e mais. Tinha orgulho do seu filho. Extasiava-se com suas palavras e ensinamentos. Aprendia com Ele. Era, sem sombras de dúvidas, a melhor e a mais animada dentre aqueles que o seguiam, passo a passo, dia a dia. Permanecia a seu lado e bebia de suas palavras. Como aquelas com as quais prometeu plenitude de vida a quem seguisse seus passos. Gerou entre seus ouvintes não uma expectativa qualquer, mas a certeza de que daquele coração transbordava a essência da verdadeira vida, a vida em abundância. Qual mãe, senão Ela, possuiu em vida tamanho privilégio! Enxergar e testemunhar, diante de todos, a grandiosidade de vida que seu pequeno ventre gerou para o mundo?
No entanto, todo e qualquer coração materno tem seu momentos de dor e decepção. O privilégio da maternidade é estar a mãe sempre vigilante e preparada para esses momentos. Porque nem tudo no mundo é um mar de rosas. O que se dirá com respeito à responsabilidade materna de se criar, educar, proteger e se aninhar, um dia, no colo amoroso de um filho dileto? Maria permaneceu ao lado de Jesus em todas essas fases de sua vida. Até no momento crucial. Ao lado de sua cruz…
É essa a grande lição da maternidade de Maria, à qual dedicamos um ano, o presente Ano Mariano. Para refletir nesses mistérios. Para ponderar que a vocação materna não é um simples acontecimento biológico, mas um ato permanente, uma história de vida. Para Maria, seu único e grande momento de dor estava ali, na agonia de seu filho cravado em uma cruz humana. Uma cruz talhada no madeiro da indiferença social, da injustiça que sempre campeia entre aqueles que se julgam donos do mundo, senhores da vida, mantenedores da justiça e da ordem social. Maria, junto à cruz, se cala. Seu silêncio é a voz muda, mas retumbante, das mães que bradam por mais amor, mais justiça, mais compreensão… Voz das mães da Praça de Maio. Das mães da Candelária, da Cracolândia, da Praça dos Três Poderes… Das mães de Mossul, no Iraque, de Caracas, na Venezuela… De todas as mães que, como Maria, assumem publicamente suas vocações maternas como escolha divina que deve ser levada até as últimas consequências. Do resto cuida Deus.
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br