ALEGRIA DE POBRE Dizem que dura pouco. Mas diante do sofrimento e das injustiças que permeiam a história humana, somos todos uns pobres coitados. Por isso, a alegria humana é efêmera, nada dura. Por isso, a fé cristã nos ensina que alegria verdadeira só aquela vinda do alto, capaz de anestesiar nossas dores com a esperança de dias melhores, na certeza de uma confissão: “Minha alegria é fazer a vontade do Pai”… Aliás, a única instituição humana que reserva um momento para se celebrar a verdadeira alegria é a Igreja. Liturgicamente, o terceiro domingo do Advento é o Domingo da Alegria. Único dia do Ano em que os paramentos sacerdotais são de cor rosa, lembrando aos fiéis que a vida também pode ser rósea se penetrarmos um pouco mais no simbolismo dessa celebração. O testemunho de João Batista, que preparava o caminho do Senhor, “aplainava e endireitava suas veredas”, anunciando com extrema alegria a proximidade de um novo tempo, justificava sua euforia com um enigma que ainda perdura: “no meio de vós está aquele que vós não conheceis”. Multidões buscavam o batismo da purificação do Batista, mas se desconhecia o batismo da consolação, da alegria plena, a ação do Espírito Santo de Deus trazida e perpetuada pelo Messias. E multidões continuam na mesma, não mergulham na piscina do Salvador! Essa é a alegria que nos falta. Penetrar a fundo nos segredos da revelação cristã é deixar de lado a pobreza de uma vida sem sentido. A alegria cristã é o maior trunfo da verdadeira felicidade, que nenhum divã da psicologia é capaz de oferecer, nem mesmo o mais afortunado dos seres humanos encontra em seus bens, nem sequer o maior místico pode afirmar com segurança que encontrou definitivamente sua paz de espírito, se longe dos desígnios do Pai. O mundo não oferece alegria plena e felicidade eterna a ninguém. Tudo por aqui é passageiro. Nossa alegria, sem Deus, é questionável. Nossa vida, sem esperança que a ultrapasse, é finita. Mas, ao nos depararmos com palavras como “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” ou “Alegrai-vos e exultai-vos porque não fostes vós que descobristes isto, mas meu Pai que as revelou”, os mistérios que cercam a vinda do Messias tornam-se realmente a notícia mais alvissareira que nossos ouvidos já captaram. Nesse sentido, o cristão é um afortunado, dono da maior riqueza que se pode ambicionar nesse mundo, a Revelação. De João se dizia: “Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz, para que todos chegassem à fé por meio dele”. Do cristão se deveria dizer ou pensar o mesmo. A alegria da revelação de Cristo deve estampar nosso semblante, impregnar nossa alma, vestir nossa pobreza com o esplendor de uma realidade além das nossas insignificâncias; permear nosso mundo com a certeza de algo maior que as incertezas que nos ferem; viver a fé sem medo da ironia que nos ronda. Porque, como diz o prefácio da Oração Eucarística desse dia de júbilo que nos aproxima do Natal do Senhor, “naquele tremendo e glorioso dia passará o mundo presente e surgirá novo céu e nova terra”. A vinda do Senhor fez tremer céus e terra. Aproximou-nos dos anjos e potestades celestiais, transformou a realidade pobre e enegrecida de um mundo em caos e semeou nesta Terra a Luz verdadeira, diferentemente da luz opaca e oscilante que circundava nosso mundo sem outra esperança que não as trevas. A alegria e a esperança voltaram a brilhar. Dessa alegria está impregnada a fé cristã. Pobres aqueles que ainda não a descobriram! Pobre o cristão que a retêm para si. Porque cristão que não partilha sua fé é também um triste, alguém que descobriu a fonte da felicidade, o segredo de um tesouro maior que todas as riquezas desse mundo, mas rasgou o mapa da mina, retendo um segredo que deve ser revelado a todos. Sua alegria será passageira. Poderá ouvir uma sentença final: “Não vos conheço!” WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br