Se um dia pudesse escrever um texto com trilha sonora, a música seria um misto de louvor e agradecimento, tal qual miríades de anjos e arcanjos entoam na eternidade. Aleluia! Meu desafio é extensivo aos meus leitores: ler este artigo com um fundo musical, tais quais os sons que o salmista entoava a Javé, em seu esforço de orar duas vezes através de seus acordes, de sua harpa e seus versos. Davi cantava hosanas, entoava aleluia ao seu Deus e Senhor.
Exatamente esse dado histórico do grande salmista foi propulsor da música mais executada nos dias atuais. Desde 1984, a música Hallelluzah do cantor canadense Leonard Cohen vem fazendo história com seu controvertido processo de criação, versões e gravações em sequência, tornando-se hoje um dos hits musicais mais tocados no mundo. Mas sua trajetória até aqui não foi nada santa. Basta dizer que seu compositor preencheu dois blocos com quase oitenta versos descartados. Chegou a desistir da letra ao se descobrir completamente perdido em sua criação, “batendo com a cabeça no chão e dizendo: Não consigo terminar esta canção”. Sua letra fazia referência ao adultério do rei Davi com Betsabá. Dizia: “Você a viu se banhando do telhado/ a beleza dela sob a luz do luar te arruinou/(…)/e dos seus lábios ela extraiu a aleluia”. Sua letra contava episódios bíblicos de adultérios e infidelidades apenas. Não emplacou.
Mas a musicalidade da obra despertou interesses. Mais de 300 compositores, de nacionalidades diversas, tentaram novas letras e ao final de 2008 a música já tinha vendido cinco milhões de cópias, incluindo neste mercado a versão de John Cale (1991), depois de apresentar a Cohen quinze páginas de letras, das quais ficaram apenas os versos “mais atrevidos”. Nesse período, chegou a ser música-tema do filme Shrek, com a versão de Cale. Mas somente após 2008 é que a versão de Alexandra Burke quebrou recordes de vendas na Europa e em apenas um dia chegou a 105 mil downloads digitais, vendendo 576 mil cópias na primeira semana. Tornou-se o mais vendido singles da primeira década desse milênio. É hoje um dos maiores fenômenos musicais do mundo, com versões em idiomas onde sequer o termo “aleluia” possua um correspondente à altura do seu significado.
Mas, afinal, o que significa? Uma palavra de origem hebraica com um prefixo e um sufixo. Hallelu fala da ação de louvar, adorar, agradecer e Yah é o nome de Deus, Javé. Portanto, não há outro significado para a palavra do que o atributo humano do louvor, da veneração e gratidão para com seu Deus e Criador. Hallelujah! Mesmo escrevendo asneiras, forçando a situação, usando da malícia em sua criação, não conseguimos driblar a ação de Deus em nossas vidas e impedir sua mensagem de amor. Mesmo desvirtuando sua parceria em tudo o que aqui criamos, Deus nos leva à contemplação de suas maravilhas, através de uma mensagem simples, sem outras intenções que a verdade de seu amor por nós. Então, depois de trancos e barrancos, de desvios de objetivos, de negativas à sua mensagem límpida e transparente, podemos cantar hosanas, gritar aleluia. “Pai, eu quero te amar, tocar o teu coração, me derramar aos teus pés, mais perto eu quero estar, Senhor. E te adorar com tudo que eu sou. E te render glória e aleluia”.
O Senhor ressuscite em nós. Aleluia!
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br