Apaixonou-se por uma foto

Em 1980, quando o Meac, grupo de leigos missionários, realizou um curso de comunicação na Diocese de Duque de Caxias, RJ, um dos participantes fez várias intervenções aos pregadores. Durante a palestra ministrada pelo Tatto, esse participante ouviu uma expressão do palestrante: “Aqui tem cobra criada”. Mais que crítica, tratava-se de um elogio a seus comentários. O crítico era Joaquim Accioly. Coroinha aos sete anos, vinha de uma família profundamente religiosa. Aos 11 frequentou a Escola Apostólica dos padres barnabitas. Aos 12 já era catequista, além de aluno no Colégio Marista N. Sra. de Nazaré. Tudo foi precoce na história daquele menino, pois aos 13 anos tornou-se servente de pedreiro e ajudante de pintor. Com 16 foi ser relojoeiro e só então começou a ter sobra de caixa para gozar a vida. “Farras homéricas, muita bebida, muitos bailes, gafieira e perdição”, resume ele. Mas a formação religiosa não foi vã. Aos 19 anos conheceu o movimento JOC (Juventude Operária Católica), a coqueluche da mobilização juvenil naquela época. Tornou-se um dos seus dirigentes, galgando coordenações a nível arquidiocesano, chegando à Equipe Nacional e finalmente a nível latino americano e mundial. Em 1957 foi para Roma, quando um congresso reuniu 37 mil jovens trabalhadores, recebidos pelo Papa Pio XII. Ali foi criada a JOC internacional e Accioly tornou-se um dos seus dirigentes. Em 1961, presidiu o primeiro Congresso Nacional de Jovens Trabalhadores, no Rio. Toda essa liderança o levou a uma participação política no Ministério do Trabalho, quando se tornou assessor do então ministro André Franco Montoro. O ápice dessa história começa sob as colunatas de Bernini, na Praça de São Pedro. Em 1957 Accioly fazia parte de uma delegação brasileira da JOC. Um padre amigo resolveu mostrar àqueles jovens os álbuns das fotos que trazia. Nelas apareciam alunas do Colégio Sta Cristina. Mas Accioly só enxergou uma… Era uma bela jovem trajando sua farda colegial, que havia se formado recentemente. Onde estaria? A única pista obtida era o nome da misteriosa jovem: Dionaura. Não tinha outras referências, senão o fato de ser brasileira e morar no nordeste. Foi ao Pernambuco, tentando encontra-la. Durante dois anos peregrinou por várias cidades e estados nordestinos – sempre como assessor da JOC, mas com um único nome na cabeça: Dionaura. “Mas o homem põe e Deus dispõe”, pensava o jovem apaixonado. Em fevereiro de 1959, já quase desistindo dessa sua louca paixão, estava em São Luiz do Maranhão, hospedado na residência de D. Antonio Fragoso. Conta ele: “Estávamos sentados a uma mesa próxima à entrada da casa, após o café, quando tocou a sineta, eu levantei-me para abrir a porta. Uma linda jovem, muito simples, se apresentou: Sou Dionaura, da JAC (Juventude Agrária Católica) e preciso falar com D. Fragoso”. Era ela. Depois de um ano tentando namora-la, “em 15 de abril de 1960 conseguimos acertar os ponteiros”. Casaram-se no dia 12 de Setembro de 1962. Vieram os filhos Paulo Sergio e Daniela. Tudo um mar de rosas? Pior que não. Dado ao comprometimento do casal com “o trabalho de educação rural e de organização sindical” – altamente subversivo para os conceitos da revolução de 1964 – receberam voz de prisão – ela em regime domiciliar devido à gravidez. Foram dias de muitas nuvens. Após os vendavais da perseguição, mudaram-se para Niterói, onde ainda residem. “Trabalhei muito e voltei a estudar (Administração, Ciências Contábeis, Direito, além de pós-graduação em Direito Canônico) e aos poucos refizemos a vida”. Accioly e Dionaura são hoje os vovós do Meac. Desde 1980 a casa deles é parada obrigatória dos nossos missionários. Só em 2006 é que se efetivaram como membros desse grupo. “Eu não me apresentava como candidato porque me achava incapaz de fazer esse trabalho”. Incapaz? WAGNER PEDRO MENEZES – Meac – 40 anos

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