Belezas do Caminho

Nenhuma estrada se abre sem um primeiro passo. Talvez seja essa a maior lição que se desprende da aventura dos três reis magos. Cada qual encastelado em seus reinos de poder e glória, imbuídos da responsabilidade de conduzir seus povos e preservar suas posses, sentem um dia um chamado inquietante, abrasador. Era preciso se por em caminho, encontrar a fonte de seus poderes; compreender que algo mais lhes facultava o sagrado ofício da liderança político-administrativa sobre sua gente; purificar o sagrado dom da autoridade que possuíam. Era preciso dar novo sentido à graça de governar, conforme os desígnios de Deus. Caminhando, seus caminhos se cruzaram. Tornaram-se um, no seguimento da estrela que conduzia seus passos em direção ao milagre de Belém. Lá eles encontraram a razão de suas buscas, a fonte inspiradora das explicações de que necessitavam, o “caminho, verdade e vida” encarnado na revelação de uma pobre criança recém nascida. Deus, fonte de toda e qualquer autoridade humana, ali se manifestava em todo seu poder e glória! Aos pés da manjedoura improvisada de uma vida nova compreenderam a insignificância de seus reinados, pois ali estava a manifestação maior dos poderes desse mundo, a criança que sintetizava todas as alegrias e esperanças (gaudium et spes) de qualquer reino, principado ou potestade coerente em seus princípios de unidade. Um reino dividido em nada prospera. Uma nação sem unção do milagre, sem as bênçãos dos céus, estará sempre dividida e nunca compreenderá o verdadeiro sentido da prosperidade. Alguma semelhança com os dias atuais? Por maior e mais poderosa que possa ser uma nação, em nada lhe adiantará a prosperidade material sem o cultivo das riquezas espirituais, em especial a gratidão a Deus. Riqueza sem bênção é fonte de maldição. Prosperidade sem partilha, pior ainda. Por isso, os presentes oferecidos pelos reis magos não foram simples mimos que se dá a qualquer criança, mas gestos concretos de despojamento e gratidão pelo milagre que puderam contemplar, compreender e aceitar em suas vidas. Aquele ouro, com certeza, muito contribuiu para o crescimento e formação do menino-Deus. Aquele incenso elevou até ao Pai o perfume daquelas almas contritas e agradecidas pela contemplação de uma Promessa realizada. Aquela mirra traduziu o reconhecimento das próprias misérias humanas, mesmo que revestidos de poderes e privilégios transitórios, pois diante deles estava aquele que um dia iria dizer: “Meu Reino não é deste mundo”. Nesses dias de transições, oportuna se faz compreender um pouco mais a magia santa que se processa ao redor do presépio cristão. A beleza do caminho percorrido pelos magos do Oriente não é apenas uma lição de humildade, mas, sobretudo, de gratidão pelos milagres que seus olhos puderam contemplar. Especialmente pelo privilégio de compreender, adorar, louvar… Nenhum poder se faz por si só. Nenhuma autoridade é escolhida sem a vontade de Deus. Se renegam essa origem, não é por má escolha divina, mas por desvio de conduta daqueles que maculam a sagrada função de bem conduzir o povo. Dessa usurpação prestarão contas, um dia. Não há grande diferença entre a autoridade daqueles que são eleitos e o poder daqueles que elegem. Ambos são responsáveis pelos seus atos. A questão é institucional: jogo de interesses, esquemas prefigurados, manutenção de poderes a ferro e fogo, proveito próprio; tudo isso longe da humildade em bem servir, contemplando sempre a vontade de Deus. Nisso não há nem poder, nem autoridade, mas canalhice própria dos que pensam serem reis nesse mundo. Falta a esses reencontrar a trilha dos magos, a beleza do caminho dos planos de Deus. E aos seus pés depositar nossas alegrias e esperanças. WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br

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