A divulgação das cifras astronômicas arrecadadas pelas “igrejas” no Brasil – que segundo a imprensa atingem o patamar de R$ 21 bilhões por ano, ou quase metade dos recursos da maior cidade brasileira – faz ferver o caldeirão de críticas e defesas à não tributação dos recursos religiosos. Há de se convir que em muitos casos caberia mesmo era a ação da polícia. Oportunistas e manipuladores da fé popular estão à solta, deitando e rolando com a ingenuidade de um povo carente de Deus e descrente dos homens. Mas nas instituições que fazem do dízimo um legado histórico, tradicional e divino, há de se respeitar essa prática. É preciso separar o joio do trigo. Como explicar que o nome das cinco maiores lideranças pentecostais do Brasil ocupem uma publicação da revista “Forbes”, dos EUA, como os “pastores” mais ricos desse País? Se dízimo é uma manifestação de fé estritamente comunitária, com finalidades destinadas ao fomento das práticas evangélicas, como pode este enriquecer um indivíduo e não uma comunidade? O que há de errado na gerência de um bem comunitário, que deveria prover o sustento ao culto, aos pobres e à obra evangelizadora e nunca aos sonhos de grandeza de lideranças oportunistas? De fato, esse bolo exala mau cheiro. A tradição bíblica prima em apresentar o dízimo como uma prática santa e louvável dentro de uma comunidade de irmãos. Jesus chegou a se indignar com o oportunismo dos escribas e fariseus que administravam o dízimo em proveito próprio. “Insensatos, cegos! Qual é o maior? O ouro ou o templo que santifica o ouro?” – disse em alto e bom som. No auge dessas acusações, Jesus não perdeu a oportunidade de nos deixar uma lição teológica só perceptível e transformadora quando acolhida pelos corações abertos à sua palavra: “Se alguém jura pelo altar, não é nada; mas se jura pela oferta que está sobre o altar, é obrigado” (Mt 23,18). E qual seria a oferta sobre nossos altares? Pelo menos na tradição católica, sabemos e cremos plenamente que no altar quem se imola é Cristo; é Ele nossa maior oferta e sobre essa dádiva divina somos gratos, devedores de nossas tributações aos céus. Então Jesus nos coloca a pergunta crucial: “Qual é o maior: a oferta ou o altar que santifica a oferta”? Essa é a questão que foge da realidade de muitas “igrejas” sem a unção reveladora da Eucaristia, da Partilha, pra não dizer transparência e clareza de função… No altar, ao redor da mesa que nos faz partícipes do banquete divino, é que nossos dízimos se tornam santos, isentos de qualquer tributação ou tribulação humana… No altar de nossos sacrifícios, generosidade, solidariedade Deus aceita nossos dízimos e ofertas para transformá-los e santificá-los; para torná-los instrumentos da construção de seu Corpo Místico, sua verdadeira Igreja entre nós, a comunidade que desbasta suas arestas e constrói um mundo novo, um povo santo. Doa a quem doer, mas a verdade sempre prevalece. Não podemos colocar uma prática santa e agradável a Deus na panela de nossos conflitos e interesses. Se um líder religioso age diferentemente dos ensinamentos bíblicos, um dia a justiça divina cobrará seus dividendos, com os juros e correções que o vil metal proporciona. Mais que a tributação da sociedade, sofrerá a cobrança da própria consciência. Para esta lhe está reservada o caldeirão dos infernos. O que devemos considerar sempre é que existem igrejas e Igreja. Não uma denominação específica, mas aquela constituída de pessoas tementes a Deus e que faz de seus dízimos um canal de bênçãos sobre seu povo, nunca sobre seus líderes. A tributação virá justa e compatível com a administração de cada um. Para alguns só sobrará a alternativa de fugir para os paraísos fiscais, onde colocarão a salvo seus lucros e dividendos manchados com o sangue do Cordeiro. Mas para a grande maioria – dizimistas e ofertantes conscientes – sobrará o verdadeiro Paraíso. WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br