CAMINHOS DA REVELAÇÃO

Não se encontra uma pessoa de fé genuína sem que esta não tenha tido uma revelação dos céus. Isso mesmo: a fé é uma revelação divina. Por isso, a imagem de uma estrela guiando os três reis e atraindo a curiosidade dos pastores nas cercanias de Belém não é uma simples alegoria ou metáfora bem escrita; é uma manifestação sobrenatural. Alguns autores tentam associar a visão dessa estrela com a passagem de um cometa qualquer. Outros a consideram simples ilusão de ótica. Outros um recurso literário para se explicar a grandiosidade do milagre que a encarnação do Verbo representou para a humanidade. De uma forma ou de outra, Deus emitiu um sinal aos crédulos e incrédulos: “Nasceu para vós o Salvador!” Interessante é observar o caminho percorrido pelos magos. Foram diretos a Jerusalém, cidade santa e palco até hoje dos muitos atritos e divergências que a fé num Deus único tem provocado durante sua história de milênios. Bateram às portas do rei Herodes, o grande cego das manifestações divinas a seu povo eleito e – já naquela época – injustiçado e perseguido pelos poderes humanos. Seria ele o teocrata das ilusões de poder, para quem a pergunta dos reis caiu como uma bomba em seu colo: “Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo” (Mt 2,2). Aquela informação, vinda da boca de forasteiros importantes, vizinhos com poderes idênticos aos seus, não poderia ser desconsiderada ou ficar sem uma resposta à altura. Tanto que Herodes simulou interesse e articulou uma armadilha: “Quando o tiverdes encontrado, comunicai-me, para que eu também vá adorá-lo”. Por trás do poder humano o que quase sempre impera é o jogo de interesses. Esse é o grande perigo a que incorrem povos e nações oprimidas pela lei dos mais fortes e acaba no “massacre dos inocentes”, na perseguição àqueles que anseiam pela vinda do Messias. Essa é a razão única para se explicar os fatos que circundam a história da Igreja e a perseguição deflagada aos que vivem seu espírito de fé e esperança num mundo melhor. Padre Júlio Lancellotti, nestes dias turvos de incompreensão e acusações injustas, que nos diga! Papa Francisco em seus dias de calvário pela má interpretação de seus ditos e escritos, pela não compreensão de sua pureza evangélica, que nos diga! Padres e bispos comprometidos com a Igreja pobre, santa, mas também pecadora pela fragilidade humana que possui, que nos digam! A soberba imperialista e a falsa ideia de um cristianismo sem compromisso com os mais fracos não combina com a revelação daquela pobre manjedoura na periferia de uma Judéia quase invisível no mapa. Quase que ao mesmo tempo, o grande desafio feito pelos anjos da revelação divina foi a motivação de contemplar o milagre anunciado. Os pastores diziam uns aos outros: “Vamos até Belém, e vejamos o que se realizou e o que o Senhor nos manifestou” (Lc 2,15). Quem lhes revelou esse caminho? Quem lhes apontou o estranho brilho daquela luz sobre um estábulo pobre, insignificante, improvisado, onde o grande milagre da revelação se manifestava? Eis a grandiosidade da fé dos pequenos. Não exige teorias e teoremas, prova dos nove, certidões e carimbos. Basta reconhecimento de um milagre, visão do caminho que a luz divina lhes aponta. “Foram com grande pressa e acharam Maria e José, e o menino deitado na manjedoura (Lc 2,16)”. A simples contemplação de um fato e a revelação nele contida lhes era suficiente. Por isso, deram glórias e louvaram a Deus, “por tudo o que tinham ouvido e visto, e que estava de acordo com o que lhes fora dito”. A fé pura e genuína só exige um coração aberto aos milagres do cotidiano. O povo sabe disso…

WAGNER PEDRO MENEZES
wagner@meac.com.br

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