Cardoso, um sonho e um violão

Como qualquer nordestino, veio “fazer” São Paulo em 1975. Tinha lá seus 15 anos. Após servir o exército, conseguiu seu primeiro emprego numa agência de automóveis, no bairro onde morava (Tucuruvi). No mesmo bairro, frequentava o grupo de jovens da Paróquia Menino Jesus, onde participava da animação litúrgica com sua bela voz e seu violão. Foi quando, em agosto de 1978, passou por sua paróquia um pregador que arrastava multidões pelo seu carisma, sua comunicação vibrante e apaixonada e sua simplicidade na maneira de se vestir ou mesmo autenticidade no trato com as pessoas. Antonio Cardoso vibrou com tudo o que viu e ouviu. “Lá pelas tantas – diz ele – durante essa pregação as pessoas começaram a incentivar o pregador para que ele me convidasse para cantar uma canção. Ele foi espontâneo. Neimar de Barros me convidou naquele dia como se me conhecesse há muitos anos. Ele falou: o que você gosta de cantar? Naquele momento peguei o violão e cantei uma canção que fazia muito sucesso naquela época (Oração de um jovem triste). Após minha apresentação, Neimar falou ao microfone: por que você não viaja comigo? Eu prego e você canta? A reação das pessoas foi de incredulidade. Eu mesmo pensei: poxa! Ele já é tão famoso; porque iria me convidar? Pedi minhas contas na concessionária e na semana seguinte já viajava com o Neimar para o Rio Grande do Sul”. Assim começou a vida missionária desse cantor católico, hoje reconhecido nacionalmente pelo trabalho que faz. “Lembro-me com saudades das nossas reuniões em Campos do Jordão. Até hoje tenho muitas cópias de atas das reuniões do Meac, com o Pe. John Drexel (ex diretor espiritual do grupo). Em 1979, com a ajuda do Pe. Zezinho – que vez por outra celebrava conosco em Campos -, fui apresentado às Irmãs Paulinas. Gravei meu primeiro compacto (Direitos do menino) e fiz muitas viagens com Antoninho Tatto e Arthur Miranda”. Depois, em face do sucesso na carreira musical, passou a se dedicar aos shows, sempre com espírito missionário. É um dos poucos cantores cristãos, leigo, com um histórico de coerência e sucesso, tão raro de se encontrar no meio artístico. Fala com orgulho de seus primeiros anos como pregador. “Certa vez, com o Tatto, estávamos chegando a uma comunidade no Rio Grande do Sul (Paim Filho) e quase toda a comunidade foi nos receber na entrada da cidade em carreata, para saudar os missionários que traziam o seu testemunho de vivência do Evangelho. O Antoninho era nosso motivador maior e empreendedor. Sem ele, tenho certeza, o Meac não existiria mais. O Meac na minha juventude foi a escola formadora para o que hoje represento na pastoral familiar do Brasil”. É impossível resumir aqui tudo o que Cardoso me relatou. Basta dizer que o interceptei a caminho de Livramento de Nossa Senhora – BA, onde inicia uma missão por mais um mês no Nordeste. Algumas perguntas via e-mail e poucas horas depois ele me respondia em duas extensas laudas. Citou todos os missionários da época e até o editor de O Recado como seus grandes incentivadores. “Eu apenas empresto meu canto e o meu violão para a missão. Minha esposa dá o tempo de espera. Essa é a parte mais difícil”. De fato, mesmo empenhado numa missão que lhe custa renúncias e às vezes até instabilidades financeiras, emocionais, Antonio Cardoso segue em frente, sem olhar a imensa seara que já cultivou com seus dons, pois desta cuida o Pai. “Hoje moro na cidade de Lins (SP), onde conheci minha esposa Niza e temos a Gabriela, nossa filha com 15 anos. Imaginem ficar 30, 40 dias fora de casa… Qual mulher entenderia esse “espírito”? Chamo isso de vocação mariana. Minha esposa é quem sempre me lembra: Maria passa à frente, meu amor. Não desanime!”. WAGNER PEDRO MENEZES – Meac – 40 anos

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