CEM ANOS DE MULTIDÕES

“Querida Shirley: Pax Christi. Recebi a vossa carta que estimei e agradeço. Peço para ti, teus pais e mais família um santo ano de 1994, com as bênçãos de Deus e a maternal proteção de Nossa Senhora. Um abraço da tia. Ir Lúcia”.
Essa é a principal relíquia que minha cunhada Shirley, sobrinha neta da vidente de Fátima em Portugal, ainda possui dentre outras relíquias das históricas e centenárias aparições de Nossa Senhora ao povo português. Dentre outras relíquias, possui também um exemplar da antiga revista O Cruzeiro, datada de 20-5-1967, que comemorava os 50 anos das aparições e entrevistava seu avô Manuel dos Santos, então morador de Assis e irmão da vidente morto no final dos anos 70. O irmão da terceira pastora migrou para o Brasil na década de 20, fugindo do assédio à sua família, após as aparições de 1917, que transformaram a pacata cidadezinha portuguesa de Fátima. Só retornou a Portugal uma única vez, quando visitou sua irmã famosa já no convento carmelita de Coimbra. Mesmo assim, Lúcia mantinha assídua correspondência com seus familiares, dentre eles os sobrinhos e netos moradores do Brasil.
Cem anos depois, multidões continuam a aglomerar-se na vila que se tornou um dos maiores santuários marianos do mundo. Basta comparar seu pátio ao redor da basílica, três vezes maior que o pátio do Vaticano. Só nas comemorações do centenário, com a presença do Papa Francisco, mais de 500 mil pessoas ali se aglomeraram, para juntos testemunharem a cerimônia de canonização dos videntes Francisco e Jacinta. A prima Lucia dos Santos, considerada a terceira vidente, faleceu em 2005, aos 97 anos. Foi a portadora do famoso terceiro segredo de Fátima, cujo teor vinha sendo revelado a todos os papas que se sucederam desde então. Há ainda muitas especulações a respeito de seu conteúdo, mas esse não é o principal mistério a envolver os acontecimentos que mudaram a história daquela pequena aldeia portuguesa.
Na realidade, Fátima é mais um frasco dos perfumes que exalam de toda e qualquer manifestação maternal de Maria, mãe de Jesus, em todas as épocas pós Redenção e em qualquer rincão onde a fé cristã estabelece raízes. Na verdade, a maternal presença foi, é e sempre será um manancial de graças às carências humanas diante dos mistérios que a fé nos impõe. Não se trata de simples manifestação de mistérios, mas de gritante necessidade do humano em se aproximar, entender, beneficiar-se, sentir-se parte da história de amor vivida e revelada por Cristo em seu advento humano. Também Ele precisou da figura materna. Também Ele foi gerado no ventre de uma mulher. Também Ele foi amamentado, recebeu seu carinho e afeto, suas correções e proteção permanente e a tão sólida e providencial presença em sua vida, até mesmo no próprio calvário. E nos deixou um legado, dividiu conosco a proteção daquela que mais amou em vida: “Eis aí tua mãe!”.
Desde então, multidões continuam a buscá-la, a encontrá-la e lhe devotar tributos de devoção e amor filiais. Essa devoção atravessa milênios. Recebe o carinho e atrai a atenção dos bilhões de cristãos ao longo dos séculos, através das gerações dispersas pelo mundo todo. Chega até nós, convoca pessoas do povo, da família cristã em qualquer rincão desse mundo, em qualquer época, sem distinção de raças ou credos, para única e exclusivamente nos revelar a beleza da proteção materna: “Mulher, eis aí teus filhos, tuas filhas”…
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br

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