“Eu sou John Kennedy!”, gritava ele do alto de um armário como se estivesse num palanque em Nova Iorque. Fazia um discurso inflamado pela loucura das drogas, falando sobre a Aliança para o Progresso, a miséria da América Latina, o ideal de Cuba, o racismo… Chegaram os policiais, acompanhados pela irmã desesperada e o conduziram para a Clínica de Repouso de Mandaqui (SP). Iniciou-se ali o calvário do até então comedido funcionário da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que não mais suportava planilhas e números, jogos de interesse e manipulação de dados, mordomias e miséria. Foi conhecer de perto a loucura sensata numa verdadeira fábrica de loucos. Depois de sucessivas internações, um dia encontrou o sentido de sua cruz. “A porta do Reino se abre com uma cruz”, foi sua grande descoberta. “Vivendo no meio de publicitários, ouvi um deles falar de um grupo de cristãos que se reunia para debater problemas da profissão”. Era o ano de 1972. Assim conheceu a Comunidade dos Artistas Cristãos, o Meac ainda em formação. “Minha vida mudou muito a partir do Meac, onde experimentei de forma profunda o concomitar da cruz e da ressurreição. Uma hora é cruz. Outra é ressurreição. O fato marcante foi descobrir que “nenhum de nós é tão bom quanto todos nós, juntos”, pois a força da associação é o segredo para perseverar sempre”. Esse é José Antonio Fonseca, único dos missionários remanescente do grupo de fundadores do Meac. Sua vida é um livro aberto (tanto que a colocou em livro: Nó Cego, inferno e paraíso…, O Recado Editora). “Antigamente eu passava maconha, hoje passo pitadas do Evangelho”, diz em sua introdução. Sua opção missionária foi radical, a ponto de abandonar tudo, vida profissional, segurança, lazer, para servir tão somente às maravilhas do Reino. Não mais faz uso dos palanques da ilusão, mas de púlpitos sólidos, consistentes, que lhe dão oportunidades para falar da Nova e Eterna Aliança, aquela que nos faz progredir para Deus. Do armário inviolável de sua fé fala da loucura do amor de Deus. Sente-se pequeno diante de tão grande desafio, porém “a inutilidade, o nada, o zero, o caos são aos olhos da fé a matéria prima de Deus; Ele sabe fazer de um servo inútil alguém capaz de subir a um presbitério de igreja e fazer uma homilia leiga, sobre o dízimo ou sobre a Palavra de Deus, com competência profissional”. Recentemente, esteve em Moçambique, África, pregando sobre o dízimo. Retornou de lá com uma imagem de N. Sra. entalhada em ébano, madeira rara, preciosíssima, “negra como a noite”, que adquiriu por inspiração divina, dando-lhe o título de N. Senhora do Dízimo. Desde então, essa imagem tornou-se sua companheira inseparável, atribuindo a ela muitos dos milagres que testemunha em sua vida e por onde tem passado. “Ela levou-me a Nazaré da Galiléia e mostrou-me a oficina de José”. Já reconhecida como passível de devoção, através de licença especial de D. Fernando Figueiredo, bispo de Santo Amaro (SP), Nossa Senhora do Dízimo é uma semente em gestação no Meac e, com certeza, está aí para “praticar novas locuções com novas Valdices e novos Fonsecas”, profetiza esse nosso irmão. Seu maior orgulho, como pai coruja que é, são as filhas Renata e Sara. A primeira é médica fisioterapeuta e pratica sua profissão dentro dos cenáculos e grupos católicos. A segunda, também missionária do Meac, já rodou por Roma, Paris e Madri (JMJ), carregando com orgulho a imagem de ébano cuja devoção o pai incentiva. Peço-lhe algumas palavras finais. “Na oficina de José percebi que muitos milagres devem ser esperados no coração e na vida de cada pessoa que tiver a graça de conhecer o passo a passo mais importante da humanidade: o caminho da Dor nas 14 estações que precedem o novo Big Bang da nova Ressurreição Total”. WAGNER PEDRO MENEZES – Meac – 40 Anos