Entre o sonho e a realidade a utopia descansa. É impossível para a humanidade viver sem um sonho utópico, que se encaixe em sua realidade. Faz parte da nossa essência essa construção do futuro baseada na imaginação de algo melhor, mais promissor, menos contundente. Mas a realidade é cruel e muitas vezes decepcionante. Tolhe nossos sonhos e nos impossibilita avançar um pouco mais, quando o que buscamos está além, muito além dos recursos que possuímos. Não faz mal, sonhar não custa nada. Mesmo assim, o término de uma etapa dá possibilidades de imaginar e buscar o início de outra, se possível mais audaciosa e melhor aprimorada com as lições da anterior. Essa é a filosofia do bom empreendedor. Nunca desanimar e aprender com os próprios erros. Não esmorecer diante de um projeto inacabado, um ideal frustrado, um objetivo ainda por se alcançar. Final de ano sempre nos abre essa perspectiva de avaliação, de retomada, de reposição de ânimos e inventário das sobras. Não é porque uma tempestade nos acordou no melhor dos sonhos que não se vá sonhar na noite seguinte. Essa faculdade humana de recomeço contínuo, de levantar-se rapidamente das eventuais quedas, de “aplainar as veredas e derrubar montanhas” é que nos distingue como racionais. O homem de fé não desiste nunca. O que não podemos é continuar alimentando nossos sonhos em promessas impossíveis, quase utópicas, daqueles que se dizem nossos líderes, mas nos guiam para o nada. De promessas fúteis e utopias mirabolantes estamos cansados. Nossos sonhos não são ilusórios, mas reais, tangíveis, possíveis de se alcançar no aqui e agora. Estamos cansados de vê-los ludibriados, surrupiados, irremediavelmente estancados pelas aves de rapina que não nos deixam dormir em paz e sonhar, e sonhar, e sonhar com um mundo melhor para nossos filhos e netos. Queremos apenas um país, não de sonhos, mas real. Um país onde nossas crianças tenham a escola que merecem, a merenda com seus nutrientes básicos não desviados, o atendimento mínimo em postos de saúde geridos por profissionais atenciosos e dignos do diploma que exibem, o direito de ir e vir com um mínimo de segurança; queremos um país que promova seus jovens e adolescentes sem “cartilhas” de sexualidade promiscua, mas responsável, sem facilitações ao uso deliberado de preservativos que nada preservam, apenas degeneram qualquer conceito de amor verdadeiro. Queremos um país que saiba ouvir os mais velhos e deles extrair a sabedoria, a experiência, a honra e dignidade hoje gritantemente em falta no mercado. Um país que dignifique e proteja a voz da experiência dos nossos anciãos. Um país que não se desgaste com questões próprias da gerência familiar, mas que exalte e promova a dignidade da família humana, enquanto geradora da vida, não da morte. Abaixo o aborto! Abaixo a redefinição do conceito familiar! Queremos, enfim, promessas concretas, não utopias apenas. Uma utopia vai além das possibilidades efetivas dos recursos que temos. Não deixa de ser um sonho, porém irrealizável. O cenário que temos se assemelha aos tempos da escravidão babilônica, quando o sonho único do povo era a liberdade. Depois, o trajeto para a Terra Prometida. Essa já temos. O que nos falta agora é trabalhar a terra, arregaçar as mangas para a produção, a extração das riquezas ocultas aos nossos pés. O sonho exige mais que a expectativa e o encantamento do maná caindo do céu. Essa travessia já fizemos, esse milagre ficou na história. De posse da terra, resta-nos o trabalho, a ação, a busca consciente das capacidades que temos, quer coletiva, quer individualmente. Sejamos realistas! “A mão preguiçosa empobrece, mas a mão ativa adquire riquezas. O que se apóia em mentiras, sustenta-se de ventos, e ele mesmo corre atrás dos pássaros que voam” (Prov 10, 4). WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br