DEPENDE DE VOCÊ

Nada se compara à preciosidade de uma vida. Num tempo em que os bens materiais são mais importantes que o bem estar do indivíduo, pois que este se submete a qualquer sacrifício para obtê-los, mesmo passando por cima da própria dignidade, o sentido da vida perde espaço para a prioridade da posse. Viver torna-se um jogo competitivo, onde muitos dão as cartas e outros sucumbem sob o mando e desmando de uma minoria. Uma parábola do mundo budista dizia que certo homem, muito rico, um dia viu seu ouro se transformar em cinzas. Recolheu-se em seu leito de angústias recusando qualquer alimento. Sem seus bens, a vida não tinha razão de ser. Um amigo tentou confortá-lo e reanimá-lo: “Tu não fizeste bom uso de tua riqueza, pois que Ouro acumulado não vale mais que cinza. Agora escuta com atenção o meu conselho. Estende esteiras na praça, junta em montes essas cinzas e finge negociar com elas”. Perdido por perdido, não custava tentar. Então o rico moribundo assim o fez. Os amigos lhe perguntavam: “Por que vendes cinzas?” E comentavam sua loucura. Algum tempo depois uma criança órfã e muito pobre passou pelo seu improvisado bazar e se encantou com suas mercadorias: “Senhor, por que empilhas ouro e prata para vender?” Admirado, o homem que se dispunha a desfazer-se das “cinzas” que lhe restavam, pediu à menina que lhe apontasse suas riquezas. A menina encheu as mãos de cinzas e estas se transformaram em ouro. Descobriu assim que o ouro nas mãos do avarento de nada vale, mas quando posto nas mãos do pobre, partilhado e não apenas retido para si, de cinza que era, torna-se ouro puro, abençoado. A história nos remete para outra, quando duas pessoas fizeram uma aposta de vida ou morte. A pessoa que se julgava mais esperta, dona de soluções que sempre lhe favoreciam na vida, topou o desafio com ares de dono da verdade. Afinal, tinha em mãos um pássaro, um segredo de vida que lhe possibilitara muitas conquistas. Ao outro cabia desvendar esse segredo, responder-lhe acertadamente se o pássaro que possuía em mãos estava vivo ou morto. Se dissesse não, abriria a mão e daria liberdade ao pássaro. Se dissesse sim, o apertaria impiedosamente, até tirar-lhe a vida. De qualquer forma, ganharia a aposta… Mas eis que a resposta pôs por terra sua pretensa sabedoria: “Depende de você”. Sim, a vida depende de nós. Juntar riquezas, acumular bens, também depende da visão mental que vem da sabedoria do Espírito, não da esperteza humana. Essa é a aposta que Deus faz com os homens. Esse é o pacto: colocar em nossas mãos o privilégio da escolha entre a vida e a morte, entre a riqueza do mundo material – as cinzas que nos sobram – e o vislumbre das cinzas que somos – a consciência de que nenhuma riqueza será verdadeira sem a visão do pobre, a solidariedade, a responsabilidade de bem gerir as riquezas que a vida nos concede. Um pássaro nas mãos vale mais que dois voando, diz o povo. Mas enquanto o temos, enquanto a decisão de permitir-lhe a vida ou asfixiá-la apenas e tão somente para dela obtermos proveito, não é uma aposta ganha. Quem assim joga na vida, perderá – com certeza – a visão beatífica dos tesouros verdadeiros, aqueles que acumulamos do outro lado. Junte as cinzas que lhe restam. Não as lance ao vento; negocie com elas, faça-as reluzentes, brilhantes aos olhos não dos homens, mas de Deus, do Cristo que passa na pessoa do pobre. Não aprisione um pássaro só para dele se aproveitar, ganhar, ganhar, ganhar. Liberte-se, liberte-o. Pois sua vida depende de você, está em suas mãos. WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br

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