DEUS NÃO É DEMOCRÁTICO

Você se assustou com o título? Eu também. Mas essa afirmativa surgiu durante uma conversa informal entre um padre, meu amigo, e eu. Discutíamos a pretensa democracia que muitos “sonham” para a Igreja. Não estou autorizado a citar o nome do meu interlocutor, mas não teria problemas se o fizesse. O essencial é trazer a público algumas pinceladas desse nosso diálogo, cuja motivação maior foi uma rápida análise da insensibilidade de muitos sobre a fé cristã e sua doutrina.

Deus não é democrático, nem ditador… Deus é Absoluto. Essa definição, por si só, dispensa qualquer outro adjetivo. Como verdade absoluta, a onisciência divina é plena. Não há como forçá-la a se adaptar aos escusos interesses das facções que nos dividem. Democracia diz respeito à soberania do povo e à divisão equitativa dos poderes, em conformidade com a vontade popular. Não se exige de Deus uma postura tipicamente humana.

Assim, por extensão dessa verdade, sua doutrina também é absoluta. Imutável, soberana, mas nunca transitória. Ainda por extensão (e aqui muitos irão chiar) a doutrina da Igreja, aprimorada e revelada por Jesus, possui as mesmas características, posto ser ela uma Revelação Divina, o braço da Vontade de Deus, a Lei de Deus… Para esta nenhuma assembléia “constituinte”, nenhum artifício humano terá efeito alterador ou acréscimos, ou subtrações que a adaptem à vontade popular. Só a pregação de Cristo é que teve efeito purificador sobre a Lei confusa e exacerbada do passado, para promulgá-la em definitivo através de sua doutrina. “Se fosse dada uma Lei que pudesse vivificar, em verdade a justiça viria pela Lei, mas a Escritura encerrou tudo sob o império do pecado, para que a promessa mediante a Fé em Jesus Cristo fosse dada aos que crêem” (Gal 3,21-22).

Essa é a verdade da fé cristã. Nada se acrescenta a ela. Não há porque exigirmos da Igreja, herdeira da Verdade, mudanças que nos satisfaçam por uma razão ou outra. Nela não cabe a democracia humana, posto ser esta falível e transitória no ponto de vista da perfeição que a Fé nos exige. Não podemos questionar a voz da Igreja, quando esta se posiciona contra o aborto, a eutanásia, a sexualidade permissiva, o materialismo, as manipulações genéticas e tantas outras distorções que são próprias da fraqueza humana diante do absolutismo das verdades divinas. “Mas aquele que pratica a verdade, vem para a luz. Torna-se assim claro que as suas obras são feitas em Deus” (Jo 3,21).

Ser democrático não é buscar caminhos fáceis. Nossa democracia é um exercício de poder submisso à coerência da vida em plenitude, que a Lei de Deus – e não a dos homens – nos oferece. Se a Igreja nos aponta um caminho diferente daquele que o mundo e as facilidades da vida dissoluta comumente nos oferecem, é porque ela é a guardiã única da plenitude que só a Fé proporciona. Tudo mais é falível e transitório, quando longe dessa verdade. “Mais facilmente, porém, passará o céu e a terra, do que se perderá uma só letra da lei” (Lc 16, 17). O mundo dos homens é finito, mas a doutrina de Deus ecoa no infinito e perdura na Eternidade.

Democracia, portanto, é um anseio tipicamente humano. Mas requer cuidados. Não façamos desse exercício de poder uma faca de dois gumes; um instrumento capaz de satisfazer interesses pessoais ou corporativos, que nos agradam circunstancialmente, mas são contrários à voz da própria consciência. Ouçamos com mais respeito à voz da Igreja, se quisermos nos dizer cristãos de verdade. Caso contrário, siga seu próprio caminho; você é livre para escolher entre a bênção e a maldição, o caminho largo e o estreito. Você é democrata. Enquanto, para mim, a verdadeira democracia continua sendo aquela que busca a perfeição. Perfeição que é Deus.

WAGNER PEDRO MENEZES
wagner@meac.com.br

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