Uma das angústias mais corriqueiras da vida chama-se dor de consciência. Talvez tenhamos aqui uma definição não muito apropriada, já que ao processo da dor atribuímos uma ação fisiológica, neurológica, estritamente relacionada à realidade física de um indivíduo. Nunca aos seus sentimentos. Da mesma forma, quando falamos da dor de amor, dor da alma, dor de saudade… Mas como doem! Apesar de sua ausência na corrente neurológica, todos nós um dia experimentamos suas fisgadas no coração. Quem já não sofreu por amor, saudade, angústia, aflição? Então, como ficamos diante dessa? Segundo os poetas mais renomados, a dor do amor é suave, pois que faz mais presente a pessoa amada, não deixa no esquecimento uma relação possível ou impossível, mas que se alimenta na esperança de se concretizar ou mesmo no conformismo da não correspondência. Esvai-se, muitas vezes, na decepção desta. Mas leva consigo belas lembranças! Já a dor da saudade é constante. Seja uma separação momentânea, passageira, circunstancial, está restrita à ausência de uma das partes. Quando entre elas se interpõe a morte, eis que a saudade perde forças só na recordação de belos momentos de convivência passada. Então dizemos: os que se foram retornam na saudade dos que ficaram. A dor da alma é a angústia que açoita qualquer espírito saudoso de sua origem. É o confronto da realidade física e espiritual do humano. Diante de um quadro de lamentações e angústias próprias do cotidiano dos fracos, eis que a alma se rebela muitas vezes. Nada mais apropriado que um verso do Pe. Zezinho, o poeta da alma: “Essa fome de felicidade é saudade do infinito”. Ou mesmo a experiência que temos quando, através de nossas dores, sentimos mais intensamente a proximidade de Deus. Esquecemos, no entanto, que aqui o Senhor nos colocou para aprimoramento espiritual e lenitivo das nossas dores, nossas incertezas. Nesse aspecto, nenhuma dor física se sobrepõe às dores espirituais que carregamos conosco. Estas não têm localização diagnosticável, pois que nos atingem por inteiro, corpo e alma. À dor física qualquer analgésico basta. Ao espírito conturbado, outro remédio não há senão o da reconciliação com a graça de Deus, fonte da plenitude que buscamos. Uma alma convicta de sua Fé conserva sua pureza, sua força de amar incondicionalmente. Sofre às vezes com a dor do próximo – nunca pela própria dor – se emociona, confia, admira, sente os problemas ao seu lado, mas não foge destes. Sabe sonhar, mas distingue o real. Não falseia, não titubeia, sequer pressiona ou deixa totalmente livre. Um corpo debilitado, sem a pureza da alma, renitente, sofre ao dobro. Pois que a força maior das qualidades humanas não emana do corpo físico, mas do seu corpo espiritual. Esse é o segredo dos grandes vencedores, aqueles que atingem a glória suprema, o podium dos santos. No entanto, consciência pesada é a dor mais terrível. A ela se atribuem as quedas de muitos “vencedores” da constante competitividade humana. Muitos destes chegam ao topo, beijam troféus do seu orgulho, da prepotência de suas lutas, da guerra sanguinolenta que travaram – e ainda travam – para se manterem numa posição de status, privilégios, mordomias… Mas não conseguem um sono, uma noite, um momento sequer de paz, de harmonia com o mundo interior que os agita. Guerreiros do nada! Tudo fizeram, sobrepujaram eventuais rivais com unhas e dentes, garras e esporas, armas de grosso ou médio calibre, mas não são capazes de vencerem a si próprios, desconhecem o maior dos troféus que a vida possa lhes oferecer: a paz de espírito. WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br