Imaginar os limites celestiais como fronteira final de um universo infinito é medir nossa fé com os olhos e o raciocínio da carne. “Nem o céu é o limite quando os sonhos são maiores que o próprio universo”, já escreveu alguém sem a preocupação de assinar ou reivindicar a autoria inspirada dessa verdade. Pois para nossa fé, o céu não tem limites.
Ao contrário, os jogadores da liga de basquete americano fizeram parte de um mesquinho enredo para o filme de nome pomposo e inspirador, O céu é o limite. Os atletas da liga dos seguidores do Senhor não enxergaram esses limites. Boquiabertos, sim, mas estupefatos e jubilosos, presenciaram aquela ascensão aos céus como a mais espetacular das jogadas de um Mestre perfeito em tudo. Só a ressurreição, a vitória sobre a aparente derrota naquele jogo do tudo ou nada, não seria suficiente se não houvesse a ascensão, a miraculosa subida até a infinitude celeste. “Os apóstolos continuavam olhando para o céu, enquanto Jesus subia” (At 1,10).
Aqui se dá a revelação maior: não basta vencer a morte; é preciso alcançar o céu. Não basta superar nossos sepulcros, caiados em sua maioria, de fachada aos olhos dos vivos, vistosos apenas por fora, mas galgar nova vida na esperança de um novo céu e uma nova terra, uma nova realidade de vida submissa à vontade de Deus, de um espírito liberto das amarras terrenas e que aprenda a pairar sobre as águas que nos submergem no plano existencial; é preciso aprender a voar ao lado dos anjos e santos que nos emprestam suas asas para contemplar ou ao menos imaginar quão belos são os alvores da vida plena nos campos celestiais. Se Jesus não ressuscitasse nossa fé seria vã, nos disse o apóstolo, mas se Jesus não ascendesse aos céus, exatamente como testemunhou a tradição apostólica, inútil, terrivelmente inútil, seria nossa esperança de contemplação divina. Vencer a morte é reconfortante, mas contemplar o rosto divino é o auge de um sonho que qualquer boa alma possa acalentar. Nossos sonhos são maiores que a realidade, o universo, a plenitude celestial. Porém o olho no olho, o face a face com a realidade das promessas celestiais é muito mais que um simples sonho humano, é o ápice da própria existência.
A ascensão de Jesus deixou-nos um legado comprometedor. Não podemos guardar segredo da motivação maior da missão apostólica, privilegiada que foi ao contemplar mais essa miraculosa ação divina através de seu Filho “bem amado”. Restou-nos o mandato: “Ide por todo o mundo”, pois que uma notícia alvissareira não pode ficar no desconhecimento, no anonimato de uma fé pequena, incapaz de expulsar os demônios de suas lógicas terrenas, de falar a língua do coração, desdenhar o veneno das muitas serpentes que ameaçam nossa integridade física e espiritual ou curar a enfermidade do corpo e da alma dos que dizemos amar.
Todos esses lances coroaram a missão de Cristo no mundo. Então Ele ocupou a lugar que lhe esteve reservado, desde sempre, ao lado do Pai, sentado à sua direita “para julgar os vivos e os mortos”. Agora a jogada é nossa, os pontos dos novos lances, da vitória que desejamos, dependem única e exclusivamente do nosso suor e sacrifício, dos nossos esforços em conjunto para que a missão que nos foi dada seja registrada com louvores nos feitos dessa nova Liga dos Campeões, os missionários dos novos tempos. Porque entre o céu e a terra a distância será maior ou menor de acordo com os milagres que acompanharem nossos passes nesse jogo da vida, nossa vida missionária.
WAGNER PEDRO MENEZES
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