Em sua segunda etapa, acontece no Vaticano o Sínodo ordinário sobre a Família. Esse encontro de bispos ao redor do Papa, tendo como pano de fundo a realidade da família no mundo de hoje, está sendo considerado o mais sério dos debates sobre a estrutura social dum mundo que desvaloriza a vida familiar. Retoma aquele velho conceito: a família é a célula mãe da sociedade. E reafirma: é impossível ignorar essa verdade. Não se pode mudar uma instituição divina. Na visão dos padres sinodais, “a Igreja não tem autoridade ou poder para mudar a Palavra de Deus” e essa afirmativa, por si só, joga um balde de água nas contraditórias expectativas de muitos que anseiam por mudanças. Afinal, que mudanças seriam essas? A propalada modernidade se assanha com suas utopias. A mais badalada é o sonhado casamento entre homossexuais. Seria retrógrada uma Igreja que diz em alto e bom som ser contrária a esse tipo de conceito familiar? Seria “família” essa legitimação, mesmo que hoje reconhecida civilmente em vários países, que não se conjuga em nada com as revelações e ensinamentos bíblicos? Em segundo, a questão de permitir ou não a comunhão a casais de segunda união. Aqui o debate se acirra, mas o consenso da maioria ainda oscila entre a misericórdia de Deus e os critérios pessoais que a consciência do indivíduo possa apontar. Ao Papa caberá uma palavra final. Neste quesito, também se insere a questão da nulidade ou anulação. A Igreja não anula o que Deus uniu; mas a nulidade (sutil diferença) é descobrir se houve ou não a consumação (carnal, sentimental ou de compatibilidade) que torne válido o sacramento. “Não há autoridade no mundo que possa apagar o vínculo de um matrimônio válido”, é o consenso já detectado entre os padres sinodais. A questão é detectar sua validade ou não. Em meio e esses e outros pontos polêmicos, ressalte-se os testemunhos da família cristã, aquela que, apesar das avalanches que se desabam sobre ela nos dias de hoje, ainda vai muito bem, obrigado! Tanto que ganha mais um casal de padroeiros a ser venerado sobre seus altares – o segundo, além da família de Nazaré. Canonizados e proclamados santos no recente dia 18 de Outubro, dia de suas Núpcias, Ludovico e Maria Azélia chegaram lá! Também não era de se admirar, posto serem estes nada mais, nada menos que os pais de Santa Terezinha do Menino Jesus, a santa das rosas, a padroeira das Missões. Nenhum fato poderia ser mais relevante neste Sínodo do que essa canonização. Diz tudo o que poderíamos e necessitávamos ouvir: a família é fonte de santidade. Essa é sua maior missão. Senão, eis alguns tópicos dessa santa família. Casados em 1858, Ludovico e Maria Azelia tiveram nove filhos, quatro dos quais morreram ainda crianças e as cinco meninas restantes seguiram a vida religiosa. Dentre elas, Terezinha, que bem conhecemos e veneramos. Casal de missa diária, educaram seus filhos entre as agruras de muitas doenças desconhecidas na época, a miséria e dificuldades de acesso ao ensino fundamental. Praticavam o jejum regularmente e recolhiam pobres em sua casa. Aos 46 anos, a mãe morreu com um câncer de seio, dizendo: “Deus quer que eu encontre descanso em outro lugar que não a terra”. Aos 71 anos falecia o senhor. Ludovico, depois de visitar as filhas no Carmelo e dizer-lhes : “Até ao céu”. Terezinha e suas irmãs entregaram-se plenamente à vida religiosa, tendo sempre presentes a vida de santidade que receberam dos próprios pais. Dois meses antes de morrer, Terezinha comentou com um sacerdote: “O bom Deus deu-me um pai e uma mãe mais dignos do céu do que da terra”. Esta é a frase tumular que ainda se pode ler no jazigo da família Martin. WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br