Em 1979, a convite do nosso pároco, Wagner e eu fomos a uma palestra de um missionário. Chegando lá, encontramos uma pessoa simples, cheia de “graça”, provocando risos em sua plateia. Pensei comigo: esse padre e muito inteligente; manda um palhaço para descontrair o povo e, depois, aderir melhor à mensagem do missionário. Quando terminou, não tinha entendido nada. O missionário não veio? No entanto, até que o palhaço fez seu papel direitinho, pois, entre tantas graças, ele passou uma mensagem do Reino de Deus, de esperança, amor e compromisso com o Evangelho de Jesus Cristo. Será? Era ele o missionário? Mas ele falava de esposa e filhos! Como alguém casado poderia se comprometer e viver a evangelização? Isso é coisa de padre. Na saída, aproximei-me daquela pessoa, porque precisava entender o que estava acontecendo. Fomos juntos para a casa paroquial, e ele tentava responder às minhas perguntas. Sua voz era mansa e firme. Passava serenidade e certeza. Vim a saber que era ele o humorista Arthur Miranda… Eu já não o achava um palhaço, mas um louco. E louca a sua opção de vida, deixando o mundo artístico, o sucesso, o dinheiro, para simplesmente pregar e tentar viver o Evangelho. Que loucura bonita! Descobri também que ele não fazia isso sozinho. Era um grupo de leigos missionários, chamado Meac. Isso era demais. Um grupo de loucos perante o mundo? Que estranha loucura essa, que atraia e encantava multidões? Quis saber mais, ir mais a fundo. Quando ficávamos sabendo de alguma palestra desse grupo na nossa região, lá estávamos. Fui lendo tudo o que eles publicavam, pois queria saber mais. Fiquei amiga deles. Apaixonei-me por este grupo de loucos, que iam de cidade em cidade levando a mensagem de Jesus Cristo e deixando um rastro de luz e esperança neste mundo. Era a segunda paixão do ano. A primeira e maior foi quando participamos do ECC e encontrei Jesus. Eu queria segui-lo, mas tudo era tão utópico! Numa entrevista, D. Helder dizia: “O sonho é sonho quando sonhamos sozinhos. Quando sonhamos juntos deixa de ser sonho. É início de uma realidade”. O impossível é impossível até que o tornemos possível. Seria possível aquele sonho? Eu também queria ser uma missionária. Eu queria encontrar a “graça” daquele palhaço louco. Depois de cinco anos convivendo com este grupo, passou a euforia da paixão. Veio a primeira decepção. O sonho não era tão fascinante. Eles fizeram opção por Cristo e, mesmo assim, continuavam com problemas iguais aos meus, financeiros, conjugais, entre outros. Ao contrário do que imaginava, essa opção por Cristo, às vezes, lhes trouxera outros problemas, até mais sérios. Minha paixão por Jesus também estava na baixa. Tinha sido uma paixão maravilhosa, mas isso exigia. Era uma loucura e eu não sabia se teria coragem para tanto. Durante alguns anos convivemos com eles, do lado de fora, observando. Eles continuavam pregando, com problemas, sim, mas fiéis e felizes. Cristo me chamava e minha consciência acusava: “Não dá mais para voltar, você foi muito além; agora não tem remédio”. Como dizia o Tatto: “A missão é uma doença que toma por completo”. Pior que doença, percebi que era uma epidemia, que contagiava a outros também. Não viver este Amor por completo seria frustrante. Então aceitei o desafio e entramos para esse grupo. Fiz isso como alguém que se joga do alto de uma cachoeira, sem saber se lá embaixo existe um poço fundo, sem saída, ou um lago. Encontrei o lago, que protege, alimenta e aquece a alma. Nem sempre é tranquilo. Não precisa ser. Quando uma tempestade agita as águas desse lago é que sentimos o quanto é aconchegante. Foi nesse grupo, junto com amigos que se tornaram verdadeiros irmãos, que encontrei forças e coragem, para também ser uma missionária da obra da Redenção. (in O Recadinho do Meac n. 14 (1992) aos 20 anos do Meac) CÉLIA NEGRÃO MENEZES – Meac 40 anos