IDEOLOGIA DO SUCESSO

Há no mundo uma falsa ideologia que arrasta milhões: o sucesso. Desde o mais pobre ao mais afortunado dos humanos, desde o mais simples ao mais intelectual, consciente ou inconscientemente, carregam consigo a ideia fixa de uma meta, um mito, um ideal a se alcançar. É o conceito da felicidade, aliado à prosperidade. Feliz e próspero – quem nunca formulou esse desejo para si e para os que lhe são caros? Aliado a esses conceitos e ao desejo insaciável do sucesso permanente, sem limites, é que encontramos forças para enfrentar desafios, concentrar-se no trabalho, passar anos e anos estudando, aprimorando uma ideia, perseguindo um ideal. Este o lado mais positivo da batalha que travamos para obter sucesso, sentir a plenitude de uma vocação, um sonho a alcançar. Ainda bem que é assim. Não fossem esses luzeiros que qualquer vivente traz consigo, as metas delineadas ao longo da vida, seríamos obstinados e
abnegados esmoleres das migalhas que porventura nos sobrarem. Se sobrarem.

Dias destes, recebi um depoimento via email, intitulado Profissão Ladrão. Nele, um repórter entrevistava João Nerval, conhecido da polícia por seus inúmeros assaltos, dentre eles o último, que lhe rendeu míseros quatorze reais. “Sou sim, ladrão. Não gosto de trabalhar. Essa é a minha profissão” – dizia, sem demonstrar qualquer preocupação quanto ao próprio futuro. Mas o que impressiona é sua ideologia, tranquila, consciente, obstinada no erro, que ainda acrescenta: “Estou com trinta anos e não gosto de trabalhar. Mas se eu não roubar ninguém aqui tem emprego. Através de mim – e de outros – se eu não roubar, ninguém tem trabalho. Todos têm emprego, o policial, o repórter, escrivão, delegado, juiz e promotor, todos sobrevivem às minhas custas. Se eu não roubar, ficam todos desempregados. Estou contribuindo para o bem de todos”!

Mas a desfaçatez dessa teoria não termina aqui. Diz ainda nosso ladrão profissional: “Estou fazendo um bem para muitos. Aqueles de quem eu roubo é porque estão em pecado e Deus faz justiça. Deus permite que eu roube porque sabe das minhas necessidades. Meu relacionamento é com o Senhor Jesus, que talvez não aprove, mas “passa o pano”. Durma com um barulho desses… Até um reles bate-carteiras tem seu ideal, seu ponto de vista para justificar os próprios erros, aliviar a consciência e seguir em frente nos desvios que construiu para si.

Esse é o ponto. Quantos de nós assim agimos, roubando para si tudo que facilite, encurte ou antecipe o sucesso que almejamos na vida. Não importa os meios escusos que usamos para tal, o desrespeito aos direitos do semelhante, a usurpação de suas oportunidades, o oportunismo que cega nossas consciências na hora de ultrapassar ou tomar o lugar de outros, o “cada um pra si e Deus pra todos” que farisaicamente se coloca como desculpa na nossa escalada social, profissional ou mesmo esportiva. A ideologia do sucesso necessita do ombro alheio, da mão amiga, do suor derramado daqueles que estão à nossa frente. Porque, nesta vida, ninguém vence sozinho. Acontece que nos contentamos com misérias, muitas vezes. Desde que não se exija muito de nós. Pobre ideologia! Sucesso do insucesso! Quem verdadeiramente se relaciona com Cristo, sabe de sua predileção pelas almas que sonham alto, que vivem o
ideal da plenitude, que colocam os limites das próprias imperfeições como aliadas de um sonho maior, mais generoso e gratificante que qualquer ambição de sucesso terreno: vencer não um ano, nem uma existência, mas o tempo e o espaço. Perpetuar-se… Vencer não na vida apenas, mas a vida e sua maior oponente, a morte. Isso não é mera ideologia, nem utopia. Esse é o maior sucesso que a fé cristã pode nos apontar: a prosperidade eterna. Tudo mais é ação de ridículos “ladrões profissionais”, vagabundos assumidos que se saciam com pouco, com míseros trocados da vida, quando poderiam obter maiores sucessos aos olhos do Senhor de Tudo.

WAGNER PEDRO MENEZES
wagner@meac.com.br

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