Guiné Equatorial é um pequeno país a sudoeste do continente africano. Pouco ou nada dele aqui se ouviria falar, não fosse este um grande produtor de petróleo com afinidades históricas e culturais com o povo brasileiro. Cultura que agora também tem algo em comum com nosso carnaval e samba. Samba, suor e vergonha… pra não falar das lágrimas! Mas temos muito em comum no quesito corrupção. Basta dizer que o detentor do maior produto interno bruto daquele continente é governado, há 35 anos, por um ditador de nome Teodoro Obiang Nguema, cuja fama lhe dá o título de maior predador dos direitos humanos e da liberdade de imprensa no mundo. Que, apesar das grandes fortunas amealhadas com a exploração petrolífera, 75% da população vivem com menos de dois dólares por dia; que a maioria de suas mulheres e crianças é submetida ao trabalho forçado e à prostituição; que, apesar da grande presença do catolicismo (93%), a desigualdade social faz de seu governo uma minoria de privilegiados, que vive nababescamente, exibindo seus carrões importados, iates e mansões adquiridos pelos petrodólares. Que a receita do Petróleo é segredo de Estado. Que seu filho e provável sucessor é um perdulário de mão cheia e dono de dezenas de resorts pelo mundo (inclusive no Brasil) com garagens abarrotadas dos mais caros automóveis (Ferrari, Lamborghini, Porsche, etc) devidamente blindados para sua segurança. Que a Transparency International classificou a Guiné como um dos países mais corruptos do mundo (Top 12). Que, realmente, temos muito em comum! Também é preciso dizer que, recentemente, nosso rico País do Carnaval perdoou a metade da dívida deste “pobre” país africano. Nossa solidariedade é berrante. Tanto que as maiores construtoras brasileiras lá estão presentes, construindo os pilares do desenvolvimento de uma elite que precisa de boas estradas para não danificar seus carrões e limusines, de portos modernos e marinas para ancorarem iates e navios “negreiros” na escoação de suas riquezas subterrâneas. As mesmas riquezas que por aqui também tentamos desvendar seus mistérios, numa triste operação de limpeza a jato. (E lá, coincidentemente, a grande maioria da população não conhece saneamento básico ou recebe água potável e 20% de suas crianças também morre antes dos cinco anos). Conclusão da ONG Human R. Watch: “Receitas do petróleo custeiam um modo de vida luxuoso para uma elite que cerca o presidente, enquanto a maioria da população vive na pobreza”. Lá ou cá? Esse é o país que a Escola de Samba Beija Flor de Nilópolis escolheu para subsidiar seu desfile campeão. Os R$ 10 milhões bancados por aquele governo (ou mesmo pelas construtoras que agora dizem ter “triangulado” essa subvenção, não importa!) vieram de uma nação onde quase um milhão de pessoas sofre carências básicas, fome, miséria, prostituição. Irmãos nossos, na fé, na raça, no sofrimento e no engodo de uma classe dominante! Esse samba enredo, vendido ao custo do suor e lágrimas de muitas gerações, raízes do nosso país, ecoou na Sapucaí como vitorioso, mas derrotado pela vergonhosa transação de valores (monetários, morais, religiosos e éticos) que subsidiaram o canto do povo. “Nego canta, nego clama liberdade. Sinfonia das marés, saudade… Um africano rei, que não perdeu a fé, era meu irmão, filho da Guiné”. Oh, triste canto corrompido em sua pureza! Poderia citar uma admoestação bíblica. Mas os fatos falam mais alto e qualquer consciência crítica percebe as contradições. Realmente, iguais se unem a iguais e o mau se identifica com seu semelhante. Que a corrupção dominasse os grandes salões da nossa aristocracia, já o sabíamos, mas que pudesse descer às avenidas do samba crioulo, do povo que dança, oh não! Essa fantasia é pior que a alegoria da realidade. Nota zero! WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br