Inconsciente coletivo

O que está por trás das ações e das mobilizações populares seguidas sempre da truculência de baderneiros, cujo nome aqui evito citar por questões estratégicas? Muitos já se fizeram essa pergunta; muitos arriscaram e ainda arriscam uma resposta, mas ainda estamos longe daquela que possa nos convencer. Talvez o momento histórico-político. Talvez o cenário da globalização galopante, com interesses muito mais elitistas do que populistas, talvez a força de aglutinação pura e simples das redes sociais, talvez tudo isso somado e muito mais. Algo e alguém atiçam o cão. Dificilmente ele ladra e mostra os dentes apenas para saudar a lua ou expressar sua satisfação pela vida, pelos prazeres, pela ração diária que recebe de seus donos. Dizem os estudiosos que um fenômeno social ou a pureza de um fato histórico só é possível entender e ver com mais clareza cinquenta anos depois. Muito tempo. Até lá o leite azedou e muita água rodou sob a ponte que hoje atravessamos. Um fato que nos diz respeito, que mobiliza mentes e corações, que quebra a rotina e produz danos a vidas inocentes, ao patrimônio público, aos direitos individuais, não pode ser visto e entendido a longo prazo, mas de imediato. Mesmo que eventuais analistas, no futuro, apresentem diagnóstico contrário ao que hoje conseguimos, não podemos nos ater a opiniões sempre tendenciosas daqueles que direta ou indiretamente, estão envolvidos, seja na mobilização do povo, seja na condução dos fatos, seja na divulgação destes ou mesmo na instrumentalização ou arregimentação daqueles. Quem está por trás? Qual a meta, o objetivo a se alcançar? Parece que chovemos no molhado, patinamos numa solução ou resposta mais objetiva. O que realmente deveria preocupar é que nenhum movimento popular nasce da noite para o dia, como combustão espontânea. Tem raízes num processo de articulações, onde lideranças sempre facciosas e nem sempre bem intencionadas, aproveitam-se de um grau de insatisfação ou decepção popular, para mobilizar o povo. Mas a História nos conta que muitas conquistas populares – em todos os cantos do mundo – foram obtidas graças a esses recursos. É verdade. O perigo é quando se usa da insatisfação de muitos para direcioná-la e conduzi-la. No momento, o que mais preocupa é a contaminação dessas ações por grupos claramente articulados, cuja ação truculenta se observa em toda e qualquer manifestação, tanto no Brasil, quanto em inúmeros outros países aonde a insatisfação popular chega às ruas. E são muitos, no momento. Aqui não defendo nenhum sistema. Nem queimaria minha mão por eles. “O padeiro cessa de atiçar fogo, depois que trabalhou a massa até que esta levede” (Os 7, 4). Precisamos ser fermento, fazer crescer a massa para satisfação de todos. Acredito, pois, na qualidade de nossas massas, no senso crítico que ainda lhes resta, na ponderação, na razão. O que não podemos é usar do inconsciente coletivo para fins contrários ao bem comum. É isso que nos assusta. Porque, por trás de muita truculência coordenada e sincronizada no anonimato, a História nos conta, há o comando sempre desastroso da maledicência humana. Alerta, portanto! Não se deixem instrumentalizar, manipular. A visão do bem comum é o que mais nitidamente nossa consciência nos aponta. Se outros caminhos e outros recursos existem, que não aqueles do confronto e da violência pura e simples, esse é o da sã consciência. Armar-se é sempre desastroso. “Quando um homem forte guarda armado a sua casa, estão em segurança os bens que possui. Mas, se sobrevier outro mais forte do que eles e o vencer, este lhe tirará todas as armas em que confiava e repartirá os seus despojos” (Lc 11, 21-22). De que lhe adiantou tanto barulho, ameaça e confusão, truculência por nada? WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br

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