JUSTIÇA SEJA FEITA

A delação premiada matou Jesus Cristo. Por algumas míseras moedas trocou-se a vida de um inocente pela permanência dos poderes constituídos sobre mazelas e corrupção… Epa! Apaguem, apaguem… Voltemos a um novo
início. Não quero aqui comparar qualquer réu circunstancial ao Messias, que foi condenado injustamente pela turba dos oportunistas da sua época! Nada a ver com fatos que bem conhecemos. Ao contrário, a afirmação inicial está léguas e
léguas das nossas verdades e tendências humanas. Diria, então: nossas frágeis verdades assassinaram a Verdade.
Donde me vem tal raciocínio? Ela não surge do nada, do acaso. Sempre esteve presente; sempre estará. Nossa miopia é que muitas vezes nos impede de enxergá-la com clareza, alívio, alegria! Sim, a Verdade governa a humanidade, aponta erros e acertos, transparece sempre apesar das mentiras que bem conhecemos. A Verdade se opõe à mentira, simplesmente porque ela está em Deus, nunca nos diabólicos planos que alimenta a maldade, a gatunice, o oportunismo, a ganância, ambições e sonhos de poder, principais motivos da queda do antigo anjo de luz. Sim, Lúcifer, o maravilhoso anjo que ofuscava as potestades celestiais com sua beleza e sabedoria, quebrou as asas e afundou na realidade terrena, nas ilusões dos falsos sonhos de grandeza e dominação. A justiça humana, por mais que esteja embasada em provas e depoimentos, nunca será perfeita.
As trinta moedas oferecidas pela delação de Judas, após seu suicídio, serviram para o pagamento de um lote destinado à construção de mais um cemitério. E quantos ainda construímos! Moedas tintas de sangue só adquirem sinais de morte, campos de dor e desilusão. Só a plenitude do amor divino poderá restaurar o elo perdido da dignidade de uma vida justa. “Conserva a piedade e a justiça, e espera sempre no teu Deus” (Os 12,7). Dele deriva a mais sábia das aspirações de justiça, que qualquer réu (confesso ou inocente) possa desejar em vida. Só Ele para julgar com imparcialidade! Só Ele para nos apontar outros caminhos, que sua Verdade revela com clareza e obstinação constantes. Antes, porém, é preciso conservar, exercitar, fazer crescer e desabrochar entre nós a verdadeira piedade. Essa que vem da submissão aos planos de Deus. Essa que nos permite maior diálogo com sua vontade, maior intimidade com suas verdades, maior sabedoria diante dos dilemas, dos falsos julgamentos que tecemos com facilidade sobre a vida dos outros, não a nossa.
Nossos tribunais facciosos, nossas sentenças pessoais, nosso modo de ver sempre fiel ao ponto de vista próprio, à visão do grupo ao qual pertencemos, do partido que defende nossos interesses, da religião que alimenta nossa espiritualidade atrelada ao meio, à época, ao coletivo, nunca será parâmetro para decretar sentenças isentas de imperfeições. Queira ou não os tribunais que nos julgam: as leis não forjam o homem, mas muitas vezes subjugam, sufocam, destroem… Não sou eu quem diz, é Cristo: “Eu não vim abolir a lei…. mas levá-la à perfeição” (Mt 5, 17…). E esta perfeição só encontramos em Deus. Só Ele pode julgar imparcialmente. Só a justiça divina nos oferece os lenitivos do perdão, da reconciliação, da reabilitação que todos buscamos em nossas vidas. Mesmo assim, Jesus ainda nos diz: “Não julgueis pela aparência, mas julgai conforme a justiça” (Jo 7, 24). Essa da qual estamos distantes pelas nossas tendências e defesa de interesses. Essa que define Deus, o Justo. Essa que nos coloca numa vala comum de animais sempre atentos às suas posses, seus ideais, suas facções político-partidárias, mas negligentes e indiferentes a tudo que justifique a vida do outro, seus sonhos, suas pequenas ambições. Por tudo isso, a justiça humana está longe da perfeição.
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br

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