Tudo tem limites. Até a paciência; até a tolerância. A liberdade de escolha de um passatempo, uma programação ou mesmo o enredo de uma novela que preencha momentos de lazer no antro sagrado de um lar, num fim de dia, não pode nunca constranger ou inibir o relacionamento entre pessoas. Principalmente se dentre estas houver crianças. Esse princípio básico da auto censura espontânea, sugerido pelo governo brasileiro para não radicalizar ou ressuscitar o antigo regime de censura prévia, parece ter sido mandado para os ares, juntamente com as ondas das transmissões televisivas deste país. Não gostaria de radicalizar, mas não há outro jeito diante da constatação do fato: nossa dita “campeã” de audiência é também campeã do mau caráter sem peias. O que vemos acontecer em sua programação – principalmente em certa novela “nobre” e no mais “propalado” antro de promiscuidade da “casa” – vai além da tolerância permitida por qualquer núcleo familiar do nosso povo, independente de qual seja sua origem religiosa, moral ou social. Não merecemos tanto lixo de uma só vez! Não bastassem as cenas explícitas de sexo, os amores atravessados dos relacionamentos dúbios e contrários à própria natureza do indivíduo, temos que tolerar também as mensagens subliminares do liberalismo sem ética, da permissividade total, das condutas anti familiares, da religiosidade sem religião alguma. O que dizem ser progresso não passa de vil regresso. Roma que o diga. Pelo excesso de liberalismo, pela depravação total dos costumes, pelo excessivo culto ao corpo, à carne, aos prazeres, capitaneou e afundou em seu próprio mar de lamas. Um reino por um momento… O fogo das paixões incendiou e destruiu até a estrutura incontestável de um progresso físico. A Roma da ostentação e do domínio a ferro e fogo caiu sobre si mesma, como vela ardente que iluminou, mas consumiu-se em sua vaidade. Atentem para isso todos os que hoje brilham e pensam dominar o mundo! Discutir a sexualidade e as relações humanas exige um mínimo de critérios, senão ao menos o respeito à individualidade. Cada caso é um caso. Os dramas e dilemas pessoais se resolvem à luz das palavras amigas, das boas referências familiares ou, no mínimo, sob orientações de um bom psicólogo, quando não uma boa orientação espiritual. Nunca banalizando o problema. Nunca o colocando a um público aberto, heterogêneo, para cuja maioria a questão não lhe diz respeito. Expor tais assuntos em tramas novelescas ou programas de reality shows, sem oportunidades de direcioná-los ou aprofundá-los com um mínimo de respeito ao público alvo, causa-nos indignação. Além do constrangimento que a banalização dos diálogos quase chulos, de baixo calão, tem ocasionado dentre telespectadores, a superficialidade dos enfoques nada constrói. O que buscamos num canal televisivo é sempre um pouco de higiene mental. Ora, seus formuladores devem ser conhecedores das ciências sociais, que variam de uma cultura para outra, de nação para nação. A comunicação não é matéria uniforme, mas sua arte deve respeitar o público que atinge. Há um dualismo entre o indivíduo e a sociedade, o comportamento e a cultura, a formação e o meio. Mas isso não significa que se deva liberar geral, pois o coletivo vem antes do privado, do individual. Voltemos a Roma. “Por isso, Deus os entregou a paixões vergonhosas: as suas mulheres mudaram as relações naturais em relações contra a natureza. Do mesmo modo também os homens, deixando o uso natural da mulher, arderam em desejos uns para com os outros, cometendo homens com homens a torpeza, e recebendo em seus corpos a paga devida ao seu desvario… Apesar de conhecerem o justo decreto de Deus que considera dignos de mortes aqueles que fazem tais coisas, não somente as praticam, como também aplaudem os que as cometem” (Rm 1, 26-27;32). Ah, pobre Roma! WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br