Raul Brasil não sei quem foi. Por isso respeito seu nome cuja importância e mérito acabou por denominar tradicional escola da pequena Suzano, cidade satélite da capital dos paulistas. Prefiro, pois, a poesia simbolicamente oculta na inversão de um nome, do que a desqualificação deste em função de um massacre, uma tragédia brasileira que horrorizou o mundo nesta semana. As sombras de uma história recente não podem se sobrepor ao glorioso histórico do passado, presente e bem em qualquer instituição de ensino.
O que dizer dessa tragédia? Preferiria mesmo o silêncio, a reflexão penitente e submissa diante da fraqueza que nos domina e manda às favas os ensinamentos divinos, do que aprofundar as razões de atos demoníacos. Isso mesmo, o demônio está solto entre nós. Usa e abusa de nossa ingenuidade, do indiferentismo humano que domina a vida social, da negação da fé, da maledicência e tantos outros males que corrói o mínimo de dignidade que ainda pensamos possuir. Vítimas somos todos, os que morreram, os que mataram, os que sobreviveram e os que se assombram com os fatos. Há até aquele que se comprazem com os detalhes da tragédia e ironizam a própria vida ao desdenhar de suas consequências: “o mundo está mesmo perdido”. E ponto.
O que dizer? Prefiro tomar emprestadas as palavras sábias de um amigo, conhecido de muitos. Por que aqueles meninos agiram tão bestamente? Tiveram acesso livre às armas, eram amantes de jogos violentos, odiavam a escola, sofriam bullyng, não tinham família? Nada disso. Pe. Fabio de Melo respondeu bem: “Eles mataram porque as famílias estão desestruturadas e fracassadas, porque não se educa mais em casa, não se acompanha mais de perto, a tecnologia substitui o diálogo, presentes compram limites, direitos e deveres e não há o conhecimento e respeito a Deus. Precisamos parar de nos omitir, de transferir culpas. A culpa é minha, é sua, de todos nós!” A realidade é exatamente essa. A sociedade abandonou princípios básicos de convivência para exaltar a individualidade, o egocentrismo que caracteriza a vida moderna. Melhor dizendo: o cada um pra si. Assim ignoramos dramas pessoais, isolamos conflitos, salvamos nossa pele. Se ao nosso lado alguém grita por socorro, estende a mão num apelo, clama por ajuda, solidariedade, compreensão, diálogo, orientação. Ora, procure profissionais da área. Isso não é comigo. Os dramas pessoais, são pessoais e ponto! Essa é a maior das tragédias que nos ronda: perdemos o referencial da fraternidade. Sem ela, perdemos também a fé. Sem esta, perdemos Deus…
Quantos sinais de socorro os jovens executores certamente emitiram. Quem os enxergou? Quantos ao nosso redor hoje clamam piedade e fechamos olhos, ouvidos e coração para não nos comprometermos e violarmos nossa zona de conforto. É assim que as tragédias da convivência humana acontecem. A insensibilidade para o outro tornou-se o estopim, o pavio curto das muitas bombas instaladas em nosso meio. Então não temos o direito de apontar o dedo. “A culpa é minha, é sua, de todos nós”. Mas o luar trágico e tétrico que encobriu vidas em Suzano há de brilhar com mais esperanças. “O sol, a lua e as estrelas que brilham e se destinam à utilidade dos homens, obedecem de boa mente. Assim também o relâmpago, tão belo ao faiscar, o vento que sobra sobre a terra e as nuvens que recebem de Deus a ordem de percorrer toda a terra, executam a missão que lhes foi imposta” (Bar 6,59). Ou seja: tudo concorre para a glória de Deus. Basta compreender seus sinais.
WAGNER PEDRO MENEZES
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