A mágica é própria do homem. O milagre é de Deus. Quando os reis da magia, os magos do Oriente, perseguindo uma estrela, um sinal dos céus, adentraram na história da encarnação divina, o nascimento de Jesus, estavam unindo seus limitados poderes humanos ao infinito poder divino. Uniam os mirabolantes esforços de sobrevivência, a magia da vida, ao inexplicável mistério da criação, o milagre da vida. Aproximavam céus e terra, criatura e Criador! Essa é a mística primeira que a belíssima história dos três reis magos nos revela hoje.
Mas como separar a magia do milagre? Melhor não. Melhor mantê-los juntos, pois que de ambos dependemos para nos mantermos vivos. A magia continua como instrumento dos esforços que fazemos para superar nossas próprias limitações. Quando buscamos aprimoramentos naquilo que melhor fazemos, no trabalho, no estudo, na aquisição de novos talentos, conhecimentos ou mesmo no simples lazer comunitário ou familiar, estamos exercitando a mágica na arte de viver. Ensaiamos nossa participação no espetáculo da vida, no show diário que esta é. Agora, quando entregamos os pontos diante dos desafios encontrados, quando descartamos nossas qualidades e possibilidades de sucesso, quando o desânimo, o cansaço ou mesmo a insegurança falam mais alto, só um milagre pode levantar nossa moral, restaurar nossos projetos, operar em nós o que pensamos impossível.
Assim unimos céus e terra. Assim o mistério da encarnação divina se torna mais que um milagre de amor, pois se soma à nossa história e se repete em nossas vidas, unindo a magia dos reinados humanos ao milagre do Reino de Deus. Jesus torna a renascer em nós.
O presente humano foi bem representativo: ouro, incenso e mirra! O ouro sempre foi símbolo da realeza puramente humana, das riquezas que ilusoriamente sempre desejamos, das ambições de poder e glória que carregamos conosco, mesmo que inconscientemente, das guerras e injustiças que praticamos ao defender nossas posses e assim por diante… O milagre de Belém nos revelou o Rei dos reis!
O incenso sempre foi símbolo das bajulações e loas que, de uma forma ou de outra, nunca rejeitamos em vida. Quem nunca desejou ser publicamente “incensado”, isto é, elogiado ou reconhecido socialmente, adorado ou reverenciado por um sucesso, às vezes passageiro, que um dia alcançamos? Lembrando que incenso é um elemento meramente religioso, próprio dos sacerdotes em seus ritos litúrgicos. O milagre de Belém também nos revelou o Sumo e Eterno Sacerdote!
Já a mirra é um lenitivo, um unguento para dores e feridas. Esta se faz presente no dia-a-dia da história humana, contribuindo para aliviar suas dores e lembrando-nos de sua fragilidade enquanto simples ser vivente, limitado em sua vitalidade transitória, carente de cuidados sempre, frágil como qualquer animal, mortal apesar da prepotência, mas imortal em sua esperança. Sobre essa angustia e fragilidade nos falaram os profetas, que alimentaram a esperança humana com a promessa de redenção total. O milagre de Belém nos apresentou o Profeta, a realização da Promessa!
Profeta, sacerdote e rei. Nossa identidade cristã também deve possuir essas características primárias que os magos do Oriente encontraram no menino Deus. Como imagem e semelhança que somos, também deveríamos revestir nossas vidas com a realeza divina, o sacerdócio cristão e o profetismo humano da coragem de sempre anunciar e denunciar o Reino de Deus e as mazelas dos reinados dos homens. Pois muitos Herodes atuam entre nós, perturbados e desconfiados sempre.
WAGNER PEDRO MENEZES
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