Não é o manto que faz o profeta (Mt 7,15), nem o hábito que faz o monge. Essa conhecida verdade nos faz pensar nos muitos lobos com pele de cordeiro que rondam nossas vidas. O manto de peles era a veste mais comum entre os profetas de profissão, tais quais Jeremias ou João Batista que se vestiam com simplicidade. João preferia a pele de cordeiros. O precursor do Cristo mesclou seu visual com a pele de suas ovelhas e isolou-se no deserto donde obtinha o mel silvestre e os gafanhotos, a doçura da plenitude espiritual e o mínimo de proteínas para sua sobrevivência física.
O que essas circunstâncias e condições nos revelam? Primeiramente, que o profetismo exige renúncia, abnegação, humildade e sacrifícios. Não é um mero ato de despojamento material, mas de aprimoramento do espírito a fim de se obter maior clareza para mentes sedentas da verdade. Não é um atributo exclusivamente místico, mas também filosófico e intelectual. Os grandes pensadores da história humana necessitavam e necessitam desses momentos de isolamento, para um melhor confronto com os mistérios que nos rondam. Portanto, o isolacionismo profético de João Batista foi esse confronto que a verdade revelada pela pessoa de Cristo exigiu em seu anúncio: “Endireitem as veredas, preparem o caminho, pois o Messias está chegando”!
Seu despojamento de tudo – até das vestes aparentes – nos ensina o quão grandioso e significativo é o encontro humano com a verdade cristã. A simples expectativa de sua vinda já provoca mudanças radicais entre aqueles que anseiam por Ele, o Messias. Antes, é preciso purificação, mudança de atitudes, conversão mesmo. Ou seja: não se recebe Cristo com os trajes do homem velho, a veste da corrupção, da usurpação, da ostentação, da vaidade, soberba ou tudo mais que simbolize ou represente a vergonha que encobre nossa vida pecaminosa. É preciso nos despir de nossos pecados, fazer-se nada, penetrar o deserto de nossas vaidades e dele retirar somente nossa essência, a fragilidade do que realmente somos. Buscar o essencial, o mel, a doçura de uma vida que se abandonou na Providência e na Misericórdia do Pai que nos proporcionou tudo o que temos ou somos.
Quem compreende esse comportamento profético e o aceita em sua vida vive seu próprio advento, um novo tempo de expectativas e mudanças. Isso nos ensinou o Batista. Isso é o básico de que necessitamos para melhor compreender e agradecer pelo milagre do Natal em nossas vidas. O novo tempo é seu desafio. Vestir-se com o manto de peles também é despir-se dos atributos de nossa vaidade pessoal, para melhor aceitar a dádiva divina oferecida na manjedoura de Belém. O hábito usual – aqueles panos que cobrem nossas vergonhas depois da descoberta de nossa nudez no paraíso – não nos fazem mais ou menos dignos diante das Graças que transbordam diuturnamente em nossas vidas. Basta nos desnudarmos em nossa essência diante Daquele que nos conhece por inteiro, que nos vê como realmente somos, que não nos pede mais do que somos capazes, que nos ama plenamente, apesar dos inúmeros falsetes que usamos para fugir de seus olhos, ignorar seus planos, negligenciar nossa vocação profética e missionária.
Lancemos fora os panos que nos cobrem. São panos transparentes, incapazes de cobrir nossa vergonha diante de Deus. Antes, se quisermos realmente agradá-Lo e merecer a graça de contemplar seu rosto, compreender e aceitar as revelações que seu Filho nos trouxe, é preciso vestir nossa alma com o manto da simplicidade, da pureza profética das ovelhas que o Bom Pastor cuida e conduz pelas veredas da mansidão e da humildade. Troque de roupa. Mude seus hábitos.
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br