A descrença toma conta. Aquela voz já não clama; grita, berra! Tudo parece ruir na bancarrota do caos, da desgraça, da perversão sem controle, que mina terrenos outrora estáveis e apaga as esperanças de um futuro mais audacioso e senhor da liberdade, mentor dos bons sonhos duma infância feliz. Onde se escondem tais quitutes? O que foi feito das boas ilusões humanas? Onde sepultaram a sagrada fé popular? A espera de um salvador messiânico assemelha-se a uma doce miragem num deserto de contradições; já não faz eco com a realidade das perversões daqueles cuja desesperança faz respirar com dificuldades seus pulmões atrofiados e faz pulsar seus corações bloqueados pela insensibilidade. Painel de um cenário apocalíptico…
Mas a continuar neste blá-blá- blá perco leitores. Nenhum filho de Deus, nem mesmo aqueles que o negam, possuem disposição para contemplar cenários de guerra, ruínas dum abandono. Na verdade, o grito maior dos corações que ainda pulsam graças a uma réstia de fé ou a um sonho de mudanças é ao menos contemplar um novo caminho, visualizar outra realidade. O caos, a desilusão, a negritude de uma situação é sempre terreno infértil, sem perspectivas de vida nova. Melhor então alimentar a utopia, o sonho que energiza a vida de muitos. Melhor mesmo é continuar acreditando em milagres. Esses, ao menos, emitem energias positivas, fazem acelerar mentes e corações e inebriam a alma humana com melhores esperanças e novas perspectivas de vida. Fé que supera tudo, vence conflitos e revela um novo mundo, um novo Reino de graças, de justiça, de tudo o mais.
Não é essa fé forçada e aceita no limiar do desespero que desejo aprofundar. A perspectiva de uma revelação divina nos mostra que inexiste fronteiras para a genuína experiência da Fé. Esta não se contenta com pouco, com soluções paliativas para tantos e tantos desafios na caminhada, mas só atingirá sua plenitude quando sofrida e apurada na dor, na calúnia, na incompreensão do mundo e na depuração da intolerância que hoje ronda a comunidade dos que acreditam. O término de mais um ciclo dos anos que se sucedem sempre nos mostra um painel de desilusões. Qualquer retrospectiva salienta muito mais as desgraças e menospreza milagres. Quantos desses aconteceram e estão a acontecer ainda hoje, no cotidiano que escrevemos e não nos damos conta deles. Quantas bênçãos, transformações! Curas e libertações (não só na perspectiva física, mas igualmente morais, afetivas, intelectuais) estão aí a transformar o homem e seu mundinho existencialista! Dessa fé pouco falamos, conquanto o que queremos é somente a visão do milagre. Como não o vemos, desdenhamos.
Mas o mundo ainda tem remédio. A perspectiva da desolação que aqui pintamos em preto e branco também aceita um colorido novo. A melhor das tinturas ainda é a fé pura e genuína daqueles que encontram em Deus a fonte da esperança sem explicações, sem limites, sem a negritude da morte. Essa, só essa, dá ao mundo o oxigênio da vida nova, dos milagres necessários à salvação humana. A vinda do Messias não se resume a uma data festiva perdida num calendário de parede, mas uma descoberta pessoal que faz de nossa existência uma perene festa de ação de graças. Só precisamos de uma ação mais corretiva, uma disposição renovada para consertar o que está torto, pavimentar o caminho do Senhor na história de nossos dias. Isso é Fé. Aliás, Fonseca, meu velho amigo – já conhecido de muitos dos meus leitores – é quem melhor define a verdadeira Fé. Escreveu-me ele: “Para quem tem fé suficiente, nenhuma explicação é necessária… Para quem não tem fé, ou tem fezes diversas, qualquer explicação é desnecessária…” É meu, amigo, você não existe mesmo (rss)! Fezes? Que fezes?
WAGNER PEDRO MENEZES
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