O bom cristão vê o mundo com os olhos de Cristo. Não há como ser indiferente aos fatos que contrariam seus planos e sua missão no mundo. Quando a humanidade vai contra os princípios determinados pela doutrina do Mestre ou quando simplesmente esta é colocada de lado, como coisa do passado que não se encaixa mais na filosofia moderna ou nos padrões que o mundo de hoje aceita como normais, imagino sempre a nuvem de tristeza que perpassa o olhar amoroso Daquele que nos deu a vida. Um mundo sem princípios, sem ética e moral, é um mundo sem Deus. Refletir assim não significa entregar os pontos diante do caos que nos domina. Ao contrário, é retomar o fôlego, recarregar as armas da consciência que temos – ou pelo menos deveríamos ter – de que se o mundo vai mal temos responsabilidades nessa história. Isso é admitir nossa identidade missionária perante a sociedade. Mais ainda: é assumir com novo ardor o sinal que nos identifica no mundo, como seguidores de uma doutrina sempre viva, atual, a única que oferece soluções concretas de esperança e paz entre todos os povos. Como agentes de transformação dum mundo aparentemente em ruínas, os cristãos são elevados à condição de templos sagrados, onde Deus faz morada para estender sua ação dentre nós. Mas a ação missionária do cristão nunca será um paliativo emergencial, porém uma resposta consistente para todo e qualquer conflito humano. Não podemos fugir dessa nossa responsabilidade diante do mundo. Sigamos o capítulo terceiro da primeira carta de Paulo à igreja de Corinto. A partir do nono versículo, o apóstolo nos diz claramente que somos operários com Deus. Ora, não há nesta afirmativa nenhuma desonra quanto à condição com a qual nos qualifica diante do mundo, mas sim motivos de orgulho e alegria sem medidas, pois que nos eleva à condição de participantes diretos na obra de Deus. E ainda nos elogia: “Vós sois o campo de Deus, o edifício de Deus”. O Criador usa de nossa pequenez e aparente insignificância diante do mundo para dignificar nossa missão e, unidos à sua graça, construir o mundo melhor que sonhamos. “Segundo a graça que Deus me deu, como sábio arquiteto lancei o fundamento, mas outro edifica sobre ele”, confessa o apóstolo. Ou seja, como primeiro grande missionário dos princípios do cristianismo, Paulo já tinha bem clara a visão de uma Igreja-corpo, uma ação missionária que usasse todos os membros, somasse força com todos, sempre unidos à cabeça, ao mentor de um grandioso projeto de restauração humana, pois que a esse “fundamento ninguém pode por outro diverso daquele que já foi posto: Jesus Cristo” (3,11). Nesse desafio não cabem ideias próprias, foras do projeto já registrado e carimbado pelo sangue do amor redentor. Nada de bolsas. Nada de alforjes. Apenas a confiança total no amparo, na providência, na inspiração e na misericórdia Daquele que nos envia como outros “Cristos”. A vida missionária nunca será mérito pessoal, escolha própria, mas do Pai que age em nós, atua através de nossa insegurança. Assim edificamos um mundo melhor. “Agora, se alguém edifica sobre este fundamento, com ouro ou com prata, ou com pedras preciosas, com madeira, ou com feno, ou com palha, a obra de cada um aparecerá” (3,12). Sim, será avaliada com justiça no julgamento final, pois o fundamental não serão os recursos que usamos para atingir o objetivo, mas simplesmente a consistência do trabalho que “será descoberto pelo fogo”, provado, apurado, purificado pela misericórdia do Pai. “Se a construção resistir, o construtor receberá sua recompensa” (3,14). Então, pior que o mundo sem Deus é o cristão sem vida missionária. “Não sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?” (3,16). Dessa não temos como fugir. Se Deus se fez um conosco, não foi para nos garantir a salvação pessoal, mas de todos os que um dia fizessem parte da nossa história, da nossa vida. Porque ninguém se salvará sozinho. WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br