Para muitos leitores, nos dias atuais, o sinônimo para pentecostes é algo
desconhecido; soa quase a um palavrão sem sentido algum. Uma palavra
longe de sua origem festiva, seu verdadeiro significado. De fato, uma festa bem
antiga, judaica por excelência, e que reunia em Jerusalém milhares e milhares
de judeus do mundo todo. Uma festa eloquente, grandiosa, que chegava a
durar sete semanas, quando o povo celebrava o resultado de suas colheitas e
traziam ao Templo parte de seus dízimos de gratidão a Deus pelas dádivas da
terra. E eis que já haviam decorridos cinquenta dias de outra grandiosa festa
judaica, a páscoa, que celebrava a passagem do anjo da morte, aquele que
poupou somente as famílias onde suas casas tinham a marca do sangue do
cordeiro imolado. Aquela páscoa se tornou a redenção do novo povo de Deus!
Aquela páscoa é hoje razão de ser de nossa fé. Agora, decorridos cinquenta
dias da ressurreição de Cristo, eis que sua promessa de nos enviar um
defensor se realiza durante essa outra festa.
Essa mesma promessa faz surgir um novo Pentecostes, uma nova festa
da Colheita, agora com duração não de sete semanas apenas,(7×7=49+1) mas
de sete dons… sete graças espirituais que nos foram derramadas dos céus
quais bençãos divinas a fecundar nossas almas, nossas vidas sedentas de
novas esperanças. Chegou nosso tempo de colheita, nossa festa de gratidão.
Os dons derramados naquela humilde casa na periferia de Jerusalém possui o
júbilo, a preciosidade de uma colheita abundante, que nossa insignificância e
pequenez não merece, mas que a generosidade do Pai infunde em nós como
sementes fecundas de uma seara privilegiada. Seus sete dons são os selos de
predileção de Deus pelo seu povo, filhos amados e benditos que seu coração
de Pai elegeu para si. Isso é o que somos! Isso é o que celebramos nesse
Novo Pentecostes, a grande festa do destemor, da coragem, da audácia, da
alegria e dos privilégios que os dons do Espírito Santo infundem naqueles que
Ele escolheu para si. Por isso se diz que o sacramento do Crisma confirma em
nós o sentimento de pertença a Deus, reveste-nos com a couraça da proteção
divina, renova em nossos corações a maturidade da fé que recebemos em
nosso Batismo, reforça nossas convicções da plenitude de vida advinda do
Reino dos Céus, nos faz apreciar o que é justo e reto e gozar das alegrias da
consolação verdadeira… Isso e muito mais. Não apenas sete, mas setenta
vezes sete… Infinitesimamente mais.
Como vemos, as significações numéricas dessa festa têm suas
motivações históricas e tradicionais, mas perdem-se na avaliação quantitativa
das graças que o amor de Deus proporciona àqueles que se deixam guiar pelo
seu Espírito santificador. Não podemos medir ou quantificar o Amor, em
especial Aquele que se diz o próprio. Esse não tem limites, origem, princípio e
fim. Esse está em tudo, toma conta, invade, preenche. É a fonte, o manancial
de tudo que dá sentido à vida, a tudo o que somos, temos ou iremos ser e ter
um dia. Entregar-se a essa graça e unção é abandonar-se em Deus como
instrumentos de sua ação no mundo, na história, na festa da colheita farta que
Ele deseja realizar em nós, por nós. Esse é nosso tempo de semeadura, nossa
razão de ser e de existir, de aqui estar de passagem, mas deixar em nosso
tempo o registro de uma multiplicação infinitesimal dos dons que o Senhor
depositou em nós. Seja nossa colheita cevada ou trigo, quanto devolveremos a
Ele, o dono da vinha, o Senhor da Festa? Você recebeu tantas moedas!
Quanto de Dízimo devolverá ao Dono da casa… dessa casa que é a vida, o
mundo? Lembre-se: não vale devolver os mesmos sete dons. Não esconda
suas moedas; multiplique-as!
WAGNER PEDRO MENEZES
wagner@meac.com.br