Pode mesmo? Segundo a poesia paulina, sim, mas igualmente não é arrogante, nem impaciente, nem escandaloso, não guarda rancor, não se alegra com a injustiça, perdoa sempre, tudo espera, tudo suporta… Muitos há que restringem o mais belo dos sentimentos humanos ao liberalismo puro e simples. Poucos conseguem penetrar nas demais condições que o verdadeiro amor pressupõe. Daí a confusa definição desse verbo, cuja conjugação só será perfeita quando aliada às demais exigências que dão autenticidade a ele. Diria ainda o apóstolo: “Tudo é permitido, mas nem tudo é oportuno. Tudo é permitido, mas nem tudo edifica” (I Cor 10,23). Essa visão estendida do amor puro e fiel, do amor sem sentimento de culpa, do amor abençoado, que gera vida e produz frutos agradáveis a Deus e aos homens, nem sempre é aceita e respeitada pelos conceitos dos relacionamentos humanos, principalmente no âmbito conjugal. Diz a psicologia moderna que o mal nunca age isoladamente. Qualquer ação criminosa tem sempre um aliado ou um grupo de apoio. Criminosos são sempre solidários entre eles. Há um pacto de silêncio e ajuda mútua no mundo do crime, que dificilmente vemos no meio das pessoas de vida mais pacata, sensata. Incoerência ou falta de solidariedade? Por outro lado, o bem, a sensatez, a prática do amor fraterno se sobrepõe às ações criminosas. Prova de que o amor é maior, o bem sempre vencerá a maldade humana. Para melhor entendermos essa força do amor é preciso acreditar no seu poder. Esse exige autenticidade. Estende-se às demais práticas das exigências do verdadeiro amor, que passa pelo exercício da paciência, da tolerância, da compreensão, da aceitação do outro, do perdão, da superação dos limites, do crescimento mútuo. Qualquer casal decidido a viver um amor pleno e duradouro necessita desse exercício diuturnamente. Qualquer casamento só será eterno quando assumido à luz de uma verdade bem assimilada por ambos: o amor tudo pode. Acontece que a visão limitada das relações conjugais já não enxerga com nitidez a diferença entre poder e ser oportuno, edificar sem magoar. O liberalismo sexual permite aos nossos jovens banquetearem-se com “sobremesas” e deixarem de lado o trivial, o arroz e feijão, a realidade de um compromisso maior. Sendo assim, por que se preocupar com o dia a dia, a construção de um relacionamento sólido ou mesmo a compreensão embutida num juramento de fidelidade? Essa visão medíocre de um amor apequenado, passageiro, instável, está levando à ruína muitas famílias, muitas juras de amor, muitos relacionamentos. Com certeza, nunca chegaram à compreensão do amor sem limites, porém exigente. Tudo pode, mas nem tudo é permitido. Tais limites são claros para aqueles que baseiam suas vidas na experiência do verdadeiro Amor. Amor divino, amor que é Deus. “Não podeis beber ao mesmo tempo o cálice do Senhor e o cálice dos demônios”, ensina Paulo ao coríntios. Da mesma forma que não podemos somar nossas justificativas à opinião mundana e publicar nossas razões como as mais coerentes e justas diante de Deus. Ou oito ou oitenta. Ou amamos incondicionalmente, a ponto de dar a vida, derramar o sangue, perdoar do alto da própria cruz, ou apenas usamos uns aos outros como objetos de nossas carências, necessidades físicas, trampolins para nossa ascensão… e queda fatal! O maior dos enamorados humanos é também seu Criador. Em sua divina paternidade deixou-nos o livre arbítrio para escolhermos o próprio caminho. Deu-nos seu Filho como prova de Amor sem igual. Deu-nos seu Espírito para abrir nossas mentes e corações à plenitude do Amor. “Ou imaginais que em vão diz a Escritura: Sois amados até ao ciúme pelo Espírito que habita em vós?” (Tg 4,5). WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br