O Capitalismo e o Dízimo

É interessante prestar atenção na didática de Jesus ao ensinar os fundamentos da fé aos que se tornariam, depois, os primeiros cristãos. Ele jamais agiu como professor, nunca deu aulas, nem proferiu conferências. Jesus não escreveu nada do que falou, não preparou discursos e nada deixou registrado para a posteridade. Pelo menos não fez nada disso da maneira como nós nos acostumados a fazer hoje. Jesus foi mais que professor, Ele foi o Mestre (e ainda o é) por excelência. Seus discursos eram maravilhosamente profundos, mas extremamente simples. Normalmente partia de uma estória, de uma parábola simples, singela, para ressaltar os valores mais importantes da vida. Atinha-se ao que de mais importante existia. Não ficava dando voltas, ia direto ao assunto e tocava fundo nas feridas… mas sempre para curá-las, jamais para acusar ou protestar contra o “atual estado das coisas”. Jesus nunca disse que “a Igreja” ou “o Governo” precisam fazer isso ou aquilo, como muitas vezes nós fazemos quando analisamos as dificuldades e problemas do cotidiano. Tanto que, diante dos apóstolos, assistia a procissão de ofertantes no templo e destacou a atitude daquela senhora idosa que fazia sua oferta depositando apenas moedinhas de pequeníssimo valor financeiro: “Ela deu a maior oferta”, arrematou Jesus, pois viu além das aparências daquele gesto simples, mas sincero e amoroso. Ela havia dado tudo o que tinha, tudo o que realmente podia, tudo o que seu coração amoroso determinava. Pena que muitas vezes nós fazemos exatamente o contrário de Jesus. Ao olhar para o “óbulo da viúva”, o tomamos como referência de valor e passamos a doar o mínimo possível. A poucos dias, em reunião com lideranças paroquiais na qual refletíamos sobre o tema Dízimo e Oferta, brinquei que jamais devemos dar uma referência de valor a quem quer que seja, pois a referência passa a ser a determinação. Assim, se você disser que cada um deve dar ao menos o mínimo possível, todos passarão a ter o mínimo possível como determinação. Se dissermos simplesmente que devemos doar o que o coração mandar, possivelmente nada será doado, pois um coração generoso se faz à medida que a mente se abre para a Palavra de Deus e o espírito faz a experiência da presença desse mesmo Deus em sua vida. Não sendo assim, o máximo que um coração fechado a Deus doará será sempre o mínimo possível. Nesses tempos de capitalismo globalizado, no qual nos vemos imersos numa vasta e poderosa rede de propaganda dos conceitos liberais e capitalistas de defesa do mercado e do lucro, doação e generosidade não são atitudes que mereçam ser incentivadas. Por isso, a proposta bíblica do dízimo e da oferta soa tão estranha aos ouvidos e corações não “amolecidos” pela vivência dos valores evangélicos. Precisamos nos esforçar para entender os ensinamentos contidos na Palavra de Deus à maneira de Jesus e, assim, passar a ver nas singelas parábolas do Reino que Ele utilizava, os caminhos mais perfeitos para uma vida plena para nós e para todos. Partilha, doação, generosidade, corresponsabilidade são atitudes que constroem. Constroem um caráter firme e reto, constroem um mundo mais humano e melhor. Odilmar de Oliveira Franco MEAC – Missionários para Evangelização e Animação de Comunidades Palmeira – PR – (42) 3252 3099 – 9947 7212 – odilmar@meac.com.br

Compartilhar: