Quando Fernando Sabino escreveu sua obra prima, não imaginou que uma simples menção à morte pudesse obter sucesso. Sua abordagem, mesmo que feita indiretamente, foi e ainda será tema central para tantas outras obras, muitas com títulos quase similares. Nenhuma delas, no entanto, enfoca o assunto com exclusividade, pois seria um “suicídio” de vendas.
João Mohama, em “O Encontro”, caminha pelas várias oportunidades do encontro humano com Cristo, princípio, meio e fim da existência. “Até hoje este princípio continua lei para todo homem e para toda mulher que vêm a este mundo”, diz. E encerra: “Ambicionando uma transformação sempre mais profunda, mais significativa, cada um de nós pode dizer: minha gota é meu mar. Se, pelo encontro com Cristo, eu oceanizar minha gota”. Ou melhor, se minha vida for além dela própria, emergir no oceano divino…
Já uma santa mulher, Terezinha do Menino Jesus, fez do seu dia a dia um contínuo refletir sobre o tema. Registrou tudo em um diário, que tornar-se-ia sua obra prima. “Não morro…entro na vida”. Dizia: “Supondo que o bom Deus me dissesse: Se morreres aos 80 anos, tua glória será menor, mas, em compensação, dar-me-ás um grande prazer… Oh! Então, eu não hesitaria em responder: Meus Deus, quero morrer aos 80 anos, pois não busco a minha glória, mas somente o vosso prazer…”
Outro aspecto do encontro que buscamos é aquele que se dá com os semimortos da estrada, os que oscilam entre a vida e a morte, tanto no aspecto espiritual quanto biológico. Pior de todos é o primeiro aspecto. Nesse estão grande parte dos que convivem conosco, senão nós mesmos muitas vezes. Sobre o assunto, Arturo Paoli escreveu: “Um encontro difícil”, no qual nos afirma que “o encontro com os assaltantes deixa o homem despojado de tudo e semimorto”. Eis um diagnóstico preciso da humanidade hoje. Quantos “assaltantes”, ladrões da esperança humana, que se postam à beira do caminho, fazem parte da nossa história! Mas seu fecho sobre o assunto é consolador: “Por isso Jesus vem ao encontro do homem, e não somente com um projeto, mas com uma dádiva de redenção”.
Todavia, voltando ao livro que hoje nos inspira, Sabino traz nele uma parábola preciosa. Não há melhor forma de encerrar um assunto. Era assim que Jesus marcava seus ensinamentos, contando histórias…
“Era uma vez um homem que procurava um seixo que virava qualquer metal em ouro”. Quem ainda não fez essa busca em sua vida? Quem nunca ambicionou riquezas fáceis e prazerosas, dessas que não custam mais que um simples e displicente caminhar pela vida? Pois nosso personagem “saiu por aí” observando as pedras pelo caminho, com as quais batia em sua fivela na esperança de encontrar aquela que o fizesse rico. “Um dia, depois de anos e anos de procura, já velho e alquebrado, sentou-se à sombra de uma árvore para descansar e distraidamente olhou para a fivela do seu cinto”. Tinha virado ouro. “Onde? Quando? Quer dizer que o seixo procurado estivera nas suas mãos!” Resignado, o velho recomeçou a busca.
Nosso encontro com Deus está marcado desde nosso nascimento. Não espere o fim de tudo, o “milagre” de uma revelação que mude tudo em sua vida. Às vezes ele já aconteceu e você ainda não se deu conta. Não o aguarde apenas na outra vida, onde riquezas imensuráveis lhe são prometidas. Recomece sua procura a cada amanhecer, no aqui e agora de sua existência.
WAGNER PEDRO MENEZES
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