O juiz maranhense José Eulálio Figueiredo acaba de lançar o livro “O processo da formiga”. Trata-se de um curioso processo criminal ocorrido há 300 anos em um tribunal eclesiástico na então província do Maranhão. Segundo a narrativa, milhares de formigas foram sentenciadas por subtraírem da dispensa de um convento capuchinho a preciosa farinha que proporcionava o pão de cada dia aos piedosos frades. Além do furto, os túneis que conduziam ao precioso alimento eram tantos e tamanhos que ofereciam riscos à estrutura do convento. Diz o zeloso historiador à reportagem da FSP: “Antigamente, era comum animais ou objetos serem processados. E a Igreja era a que mais processava animais”. Segundo ainda o jornal, “na época, não havia o entendimento de que os animais não tinham consciência do certo ou errado, e, como criaturas de Deus, os bichos eram submetidos à Igreja. Na história, há casos de ratos excomungados e animais venenosos banidos por ordem de bispos, diz o juiz”. O drama das ladras famigeradas, segundo o autor, possuiu um desfecho comum à ideia dos dois pesos e uma medida. Apesar de terem um defensor nomeado pelo próprio tribunal, que defendeu a tese da ação radical em prol da sobrevivência, as “cidadãs” do formigueiro sem princípios éticos foram condenadas. Nos dias de hoje seriam enquadradas no artigo 171. Mas, ao que parece, gozaram da impunidade já latente na prática judicial desse país de antanho. Ontem, hoje e sempre? Deixemos as ironias que o caso suscita. O retrocesso a um processo com tais ingredientes só nos induz a reflexões mais que históricas, pois nos leva a imaginar o famigerado formigueiro que ainda hoje ataca os celeiros da fé cristã. Não somente um ninho de lava-pés, nem de insignificantes formigas-doceiras, mas uma legião dos mais vorazes desses insetos, travestidos em suas seitas, filosofias, correntes políticas e tradições ditas culturais ou religiosas, atacam hoje as “dispensas” das reservas da fé cristã. Já não se trata de um simples abalo patrimonial, pois que há muito a ideia de Igreja hierárquica ou institucional não prevalece sobre a definição de Igreja, Povo de Deus. O que vemos acontecer em vários paises não cristãos é uma guerra declarada ao patrimônio maior da Igreja de Cristo, seus seguidores. Está em curso um ataque sistemático à fé dos que se declaram seguidores do nazareno, como se estes fossem portadores da mais abjeta das mensagens dirigidas à humanidade. Para evitar maiores danos, a simples consciência dessa ameaça já é um grande passo. A própria Igreja tem denunciado, com veemência, as atrocidades que hoje se praticam contra seus seguidores. Uma instituição foi criada com o nome de AIS – Ajuda à Igreja que Sofre – e esta tem sido a porta-voz do grande martiriológio do terceiro milênio, que não poupa raças, países ou instituições. Já não se trata de um ato isolado de simples formiguinhas contra sobras de um bolo, mas sim de imensos formigueiros “sem consciência do certo ou errado”, segundo a ótica cristã ou segundo qualquer princípio humano. É certo: não vamos aqui restaurar um processo aos moldes do acima citado, pois que isto será competência do Juiz Supremo, que já sentenciou: “Se o mundo vos odeia, sabei que me odiou a mim antes que a vós” (Jo 15,18). Mas também é certo: da própria formiga se extrai o pior dos venenos, a formicida. Pobres insetos, que desconhecem o mal que fazem a si próprios. Ameaçam a estrutura de uma instituição sólida, atemporal, acima das leis e das potestades… Pensam prestar culto a Deus, mas procedem deste modo, “porque não conheceram o Pai, nem a mim” (Jo 16,3). Então virá o dia da sentença final, quando os que defenderam as reservas da própria fé darão glórias ao juiz das causas perdidas. Vinde, Senhor Jesus! WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br