Confesso que me emocionei e quase chorei diante de dois vídeos postados na internet. Tratava-se do desrespeito atual aos professores, cuja classe, além da desvalorização profissional por que passam, é vítima frequente dos próprios alunos. Um dos vídeos mostrava a arrogância e petulância de um aluno (menor de idade) contra sua indefesa professora, que recebia todo tipo de humilhação, palavras de baixo calão e dedo na cara diante de uma classe que aplaudia o colega insolente. Outro mostrava a insolência de um aluno (também menor) que discordava das notas recebidas e exigia da professora sua aprovação. Chegou às vias do fato, agredindo-a fisicamente. Cenas do cotidiano escolar. Demonstram um ódio gratuito contra a própria sociedade. Episódios que qualquer professor da rede pode nos narrar, pois muitos deles vivem esse drama em suas salas de aula. Não resisti e busquei na rede uma cópia de “Ao mestre com carinho” (1967), filme que marcou época na personificação carismática de Sidney Poitier, ator que trouxe para as telas cinematográficas o drama do professor Thackeray em duas versões extraordinárias. O tema: as razões de desrespeito do aluno para com seus mestres. Portanto, o assunto não é tão novo assim. Mas um enigma se apresenta no título original desse filme: “O ódio que gerou amor”. É possível tal milagre? Acontece que meu propósito não é escrever apenas sobre um filme antigo, mas um tema atual, litúrgico, cristão por excelência: Paráclito. Associei um tema ao outro. Não estou forçando a barra, mas é exatamente na incompreensão de um assunto que compreenderemos o outro. Senão, vejamos: A palavra grega, etimologicamente, nos fala de um defensor ou protetor, alguém que está sempre ao nosso lado, que intercede. Conhece e compreende as fraquezas humanas e aponta novos caminhos. Um professor, poderíamos dizer. Mas esse mestre é coisa rara no mercado, pois que há muito perdemos o referencial do ensino por prazer, por vocação, por necessidade de transmitir não só conhecimentos, como também os valores primordiais que dão dignidade e incutem caráter aos que desejam ser alguém na vida. Nossas escolas se esquecem desse detalhe. Não generalizo, mas temos que admitir essa falha. A festa de Pentecostes tem sua origem na colheita do povo, quando eram levadas ao Templo as primícias da colheita, como forma de gratidão a Deus. Jesus aproveitou a festa para prometer o Paráclito, o Espírito Santo que conduziria seus seguidores. Aqui reside a razão do caos que nos domina e que assusta a todos. Deixamos de ouvir a voz do mestre, as orientações primárias do defensor que prioriza todos os valores de uma vida mais afeita aos ensinamentos cristãos. Se perdemos hoje o referencial de respeito aos nossos mestres, aos nossos pais ou mesmo aos colegas de classe (aqueles que caminham conosco), é porque não mais ouvimos a voz do coração, do Espírito que ainda tenta nos conduzir. Esse é o grande obstáculo do mundo sem Deus. Tira-se a vida do espírito e tudo descamba para o triste individualismo, sem outras perspectivas que não sejam a sobrevivência pura e simples. A sociedade perde seu lastro de humanidade e todos incorporam a bestialidade como princípio de sobrevivência. Salve-se, quem puder! A colheita do futuro está aí: um nada ao quadrado. Sem atenção à voz do Espírito, o professor que governa o mundo, a promessa de “renovar a face da terra” será mais uma utopia, tema de uma “Festa” sem apresentação dos frutos. Não fiquemos só no desencanto. A aula não terminou. A história não chegou ao fim. Se a constatação de uma realidade nua e crua ainda nos provoca aversões, é sinal de esperança. Urge provocarmos mudanças. Urge acreditarmos que as decepções e desilusões são sempre oportunidades de reavaliação positiva, que fazem do gênero humano um insaciável aprendiz, capaz de transformar o mundo transformando a si próprio. O cansaço pelo caos já é um sinal positivo de mudanças. Ao cristão lhe foi dada a certeza da renovação. Acreditar nessa voz que nos impulsiona para o alto, para a esperança de um mundo novo – onde os alunos que somos ouvem a voz do seu Mestre – já é um grande passo. No sofrimento e na decepção dos educadores acuados e estigmatizados pela missão do ensino brotam os dons do Espírito Santo. O primeiro deles a Sabedoria. E esta nos ensina: “Dar-vos-ei mestres segundo o meu coração, os quais vos apascentarão com inteligência e sabedoria” (Jer 3,15). O que estamos colhendo hoje é um joio momentâneo. Nossa festa da Colheita verdadeira está por vir, pois nem todo o trigo se perdeu. O Mestre dos mestres ainda nos garantiu: “Quando vier o Paráclito, o Espírito da verdade, ensinar-vos-á toda a verdade…” (Jo, 16,13). Só assim compreenderemos essa verdade, o ódio é fruto do desamor. WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br