A dignidade humana anda em baixa. Na mesma proporção em que a matéria se sobrepõe aos valores do espírito, o conceito de dignidade passa a ser entendido como algo que possa ser agradável ao olhar da carne, não da alma. Assim, a visão do entendimento se turva, tornando secundário o que seria essencial na compreensão e definição da grandeza humana diante do Universo. Vemos o aparente e deixamos de lado a essência. Afinal, o que é mesmo dignidade? Essa questão atravessa milênios, sem que cheguemos a uma resposta consensual. Nossas formas de tratamento dizem tudo, desde excelentíssimo, digníssimo, reverendíssimo ou mesmo imperador, comendador, barão ou sultão do passado, os títulos de nobreza e respeito ao cargo foram sempre maneiras verbais de se respeitar ou venerar a dignidade mais elevada de um cargo ou posição social acima da média. Chega à comicidade quando ouvimos de homens públicos um “Vossa Excelência me respeite!”, seguido de palavrões e xingamentos, comuns em debates políticos. Mas antes, sobressai-se a forma de tratamento respeitosa… A dignidade do cargo está sempre acima da dignidade da pessoa humana. Enquanto isso, nas ruas e vielas a dignidade da população vai pelo ralo. Não se trata apenas da ausência de bens estruturais ou saneamentos do básico que todos têm direito, mas de respeito à nossa maior riqueza, a essência da vida, o templo divino que nossa fé diz possuirmos dentro de nós. “Não sabeis que sois templo vivo do Espírito?” – questionou afirmativamente o apóstolo Paulo. É essa inconsciência do valor que temos dentro de nós que nos leva ao vazio da violência, do desrespeito, da selvageria que hoje domina a vida social. Já não é nem questão religiosa – pois que esta se desenvolve naturalmente na consciência dos homens de boa vontade, boa índole – mas uma ameaça de desumanização pelo excesso de hedonismo. Não precisa consultar o Aurélio. Ele ensina com muita propriedade: hedonismo é a doutrina moral que considera o prazer finalidade da vida e exalta o poder econômico como instrumento para se obter o máximo sem um mínimo de esforço. Não é essa uma perfeita definição para a sociedade atual? Diante de tão nefasta realidade sobram apenas alguns idealistas que ainda teimam na fé que professam. Talvez seja um desses. Acreditar que o mundo possa ser melhor exige também acreditar no ser humano. Por isso teimo em minha fé. Por isso ainda vejo o caminho do calvário do Cristo como o mesmo que estamos trilhando, mas que sempre nos aponta uma luz, uma revelação, uma esperança maior além dos túmulos que nos rodeiam. Aquele túmulo vazio, emprestado por um representante da elite judaica, tornou-se a maior prova de mudanças no terceiro dia; oxalá também no terceiro milênio! Vida nova, dignidade, respeito ao que ainda temos de bom, ao que somos de mais precioso é o que nos ensina a doutrina da fraternidade. O que não se pode é continuar medindo a dignidade do ser humano pelos seus bens, pela autoridade que representa, pela usurpação da aparente sabedoria, pelo uso inescrupuloso da inteligência em benefício próprio ou pela imposição de sua sexualidade qual garanhão em pasto aberto ou gazela em pleno cio. Isso em nada dignifica a raça feita à imagem e semelhança do próprio Criador. Esse é o ponto. Enquanto não nos dermos conta da preciosidade da vida e da riqueza de nossa individualidade, nunca a justiça será restaurada. Palácios suntuosos e mansões adornadas com as riquezas do mundo são fáceis de construir. Basta dinheiro. Mas castelo capaz de abrigar com a suntuosidade que lhe é própria ao Criador de tudo, outro não existe senão o coração humano. Esse é o templo onde Deus deseja morar. “Senhor, eu não sou digno”, mas sua Palavra, suas Promessas, sim! “Faça-se em mim”… WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br