Pensar e imaginar um reino onde seus súditos, predominantemente, são pobres criaturas famintas e sedentas, despidas de qualquer traje digno de um padrão social, estropiadas em seus direitos de cidadania, acometidas de muitas doenças ou prisioneiras de um sistema injusto, é pensar e imaginar um povo derrotado e falido em qualquer projeto. Por outro lado, pensar e imaginar um rei soberano e glorioso, dono das maiores riquezas, capaz de estender seu poder até os confins do mundo, exibir seu cetro magistral acima de qualquer reinado, impor sua autoridade sem equiparar-se com qualquer outro soberano na terra, escolher seu povo com critérios fora dos padrões convencionais, é pensar e imaginar um reinado utópico, quase impossível… Eis que esse Rei existe e seus súditos constituem um povo eleito, uma leva infindável de desvalidos que foi posta à direita de seu rei e elevado à posição de herdeiros universais. “Vinde, benditos do meu Pai! Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! (Mt 25,34). Eis a maior riqueza do Rei dos reis… Essa é a predileção, opção preferencial no dizer teológico que muitos refutam, do legítimo herdeiro universal do reino infinito que Deus nos oferece como a única riqueza imperecível desse mundo. Serão eles o fiel da balança que julgará nossos critérios de riquezas e justiça até aqui imaginados pelos reinados do mundo dos homens. Será sob a ótica da convivência fraterna e solidária entre nós que a soberania e vitalidade desse reino se sobrepujará sobre todos os demais. Cristo-Rei haverá de reinar num universo de pobreza e carências múltiplas. Essa é a base de seu reinado, seu poder acima de tudo e de todos os poderes e potestades que possamos imaginar. O universo dos pobres determina o poder de Deus! Neste, as fortunas e ilusórias riquezas dos que se acham donos desse mundo é falácia transitória, imoral, falível como qualquer outro projeto de poder humano. Mas quando virás, Senhor? Essa é a pergunta que todos se fazem. Independentemente de sua resposta, o que nos salta aos olhos é a lição da pobreza. Não será sobre o acúmulo de bens que seremos julgados. A questão se chama desapego, desprendimento ou mesmo partilha. Sobre esses itens, aliados à boa administração dos bens recebidos, é que mereceremos ou não a recompensa maior “no Reino que para todos se está preparado”. O importante é a consciência de que somos pobres, paupérrimos; nada seríamos ou teríamos sem a concessão do Senhor do Universo, o herdeiro universal! Daqui só levaremos as mãos vazias, porém o coração cheio de gestos concretos de amor àqueles que prefiguraram o rosto do Cristo entre nós. “Eu era estrangeiro e não me recebestes em casa; eu estava nu e não me vestistes; eu estava doente e na prisão e não fostes me visitar” (Mt, 25, 43). Nesse universo está a salvação, o passaporte para o Reino definitivo.
WAGNER PEDRO MENEZES
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