29 de setembro é o Dia do Escritor.
A data lembra a morte de Machado de Assis, escritor brasileiro que, por ironia própria de uma nação sem leitores habituais, é homenageado no dia de sua morte, não do seu nascimento. Afinal, somos um povo sempre avesso ao mundo das letras. Há muito decretamos a morte da literatura. Não há porque se iludir com uma profissão sem mercado, sem consumidores. Então está dito e estabelecido: no dia da morte do maior dos nossos escritores fazemos vênia a todos eles, do maior ao menor, do mais lido ao mais desconhecido. Oh, pátria amada! Salve-se quem puder…
Pois bem, sejamos também irônicos. E realistas. O mundo caminha para uma zona de conforto cultural, no qual papeis e livros perdem assustadoramente espaço para a mídia eletrônica, sons cibernéticos, revistas e jornais ocultos nas nuvens da comunicação via satélite. Colocamos lá, bem distante de nossas estantes, o conhecimento de milênios de evolução e a ele temos acesso com um simples clicar de dedos. Mesmo assim, o fazemos com a celeridade que nos é própria, para melhor usufruir de nosso precioso tempo em busca dos prazeres de uma vida intoxicada pelos bens de consumo, pelas tentações da modernidade. Parar e decodificar teorias, teoremas, escritas coniformes ou um simples artigo que ainda ouso escrever, ah! tenha dó… Isso era em outros tempos, pois não? Temos mais o que fazer – dizem estes.
O mundo das letras está desmoronando. Dias desses, conversando com um jornalista mui amigo, este me confessou: “Não parei ainda porque tenho dívidas a saldar”. Triste e terrível realidade de heróis da caneta e do teclado, do linotipo e da litografia, hoje buscando uma aposentadoria que lhes salvaguarde algum beneficio para encerrar a carreira. A escrita, invenção dos sumérios, vive seus dias sumários. Ao escritor só resta imaginar seu epitáfio, sobre a fria laje da indiferença de muitos: “Aqui jaz um vendedor de ilusões”.
De minha parte, no entanto, ainda resta uma pontinha de esperança. Neste país que homenageia a morte dos seus escritores também campeia a verve do coração sertanejo, onde a poesia faz rima com sua nostalgia e os versos da alma são como gritos de liberdade, a cantar a vida. Na sua musicalidade, no canto lírico de seus poemas, no grito de seus ais, no lamento de seus direitos, no romance de suas existências, o povo ainda é capaz de fazer uma bela leitura da própria vida. E sonhar. Transformar ilusões em realidade. Traduzir seus anseios e sentimentos. Escrever com a vida. Depois reler seus escritos, como bíblia sagrada que conta suas histórias, desilusões, mas também conquistas e ambições. O livro da vida continuará sendo escrito, mesmo que com páginas manchadas de suor e lágrimas. Ou de sangue. E o povo fará dele uma leitura das mais profundas e questionadoras, que nenhum escritor será capaz de traduzir com maior fidelidade.
Para não ser totalmente derrotista, persevero em minha crença. Não há terapia maior do que aquela que molda nossos conhecimentos, nossa linguagem escrita ou falada. Não há outra escola senão uma boa leitura. Se a geração tecnológica dos nossos dias anda encantada com o mundo novo que as absorve, não nos iludamos. Dia mais, dia menos, hão de acordar e desejar uma boa sombra, um tarde de silêncio, um bom livro…- nada mais. Leia, apenas. Um jornal, um romance, um trecho bíblico, que seja! Leia a Bíblia, uma biblioteca viva, que não vende ilusões. E você haverá de entender o que Napoleão Bonaparte um dia escreveu: “A Bíblia não é um livro simplesmente. É um ser vivo, que tem o poder de conquistar seus adversários”.
WAGNER PEDRO MENEZES
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