OCUPE SEU LUGAR

Dizemos que todos possuem um lugar ao sol. Cada qual a seu modo, conforme seus dons e disponibilidade contribui concretamente para marcar presença ou não na história que a vida lhe reservou. O fato é que aquilo que lhe fora confiado outro não fará por você. Aquilo que a vida lhe reserva outro não poderá usurpar ou vivenciar. Sua vida é sua, sua missão, seu trabalho, seus amores, suas dores… Também sua realização pessoal, vitórias, conquistas e alegrias.
Dizemos, então: Vida feliz é a realização de um sonho. Mas que sonho seria esse, que felicidade poria um fim a tantos e tantos projetos e ambições que continuamente renovamos em nossos corações? Santo Agostinho um dia encontrou essa resposta. E afirmou: “Há uma maneira diferente de ser feliz, quando cada um possui a felicidade em concreto. Há quem seja feliz simplesmente em esperança. Estes possuem a felicidade de um modo inferior ao daqueles que já são realmente felizes. Mas, ainda assim, estão muito melhor que aqueles que não têm nem a felicidade, nem a sua esperança”. (Confissões, Liv X, 20) Ai está o segredo: felicidade e esperança caminham juntas. Sem esta, aquela não se realiza, como também vice-versa.
Nosso maior problema é fazermos parte de uma sociedade com referenciais canhotos do que seja vida feliz. Há uma cultura inconsciente de massificação, que nos faz comparar nossos eventuais fracassos com as referências positivas do outro. Um processo de inveja coletiva, onde o que se busca é o sucesso do outro, não o próprio. Assim se explica a idolatria das massas, quando nos espelhamos na vida de nossos ídolos e apagamos da memória as qualidades pessoais para tecer nossa própria vida. Isso em todo e qualquer campo da história pessoal que só o indivíduo pode escrever. Aquilo que lhe compete, tem que ser aprimorado. A qualidade maior da sua existência é buscar a perfeição no que você tem de melhor, faz melhor e realiza seus sonhos. Espelhar-se no outro não é de todo negativo, mas aprimorar-se em determinada área e superar-se nesta só você é capaz. Outro não fará por você. Ninguém lhe roubará seu espaço, como igualmente ninguém cederá o espaço já ocupado por mérito pessoal.
Diria ainda Agostinho: “Se perguntarmos a dois homens se querem alistar-se no exército, é possível que um responda que sim, outro que não. Porém, se lhes perguntarmos se querem ser felizes, ambos dizem logo, sem hesitação, que sim… Opta um por um emprego e outro por outro”. (21) Um não ocupará o lugar do outro, mesmo que tenham em comum uma vida de alegria dentro da própria vocação. Talvez seja esse o grande dilema da realização de muitos, que se frustram em sua realização pessoal porque suas referências vocacionais usam o peso do sucesso do outro, não de si próprio. Esquecem a predestinação que a vida lhes reserva, com seus próprios dons e talentos. Ignoram que ninguém pode impedir o projeto de Deus para suas vidas.
Ora, o espaço que ocupamos nessa história requer esforço e determinação. Realizar sonhos é a força construtiva da vida que aqui ocupamos. A esperança humana ainda é imortal, posto que “tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o projeto dele. Aqueles que Deus antecipadamente conheceu… E aqueles que Deus predestinou, também os chamou.” (Rom 8, 28…30). Enfim, se quer realmente ser feliz, ocupar seu espaço, realizar-se plenamente, seja você mesmo, faça o que de melhor a vida lhe ensinou. E ainda ensina.
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br

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