Aquele sulco vincado até bem pouco não existia. Aquela mancha na pele também não. E aqueles fios esbranquiçados, donde vieram? Donde surgem tantas rugas e marcas, gritando ao tempo que ele é implacável, injusto? É impossível não se indignar com as mudanças surpreendentes, mas irremediáveis, que anos somados proporcionam na face de cada um de nós. Para muitos e muitas, o artifício de uma plástica ou mesmo a máscara do pó de arroz iludem momentaneamente, mas não há como fugir da realidade: os anos nos marcam sem piedade. Não vai aqui nenhum desabafo ou desilusão com a imagem que hoje vejo num espelho. São, como disse o poeta, marcas do que se foi… Assim, na vida de um cristão, tais marcas poderiam e deveriam estampar uma vaidade santa, ou seja, a alegria e o orgulho de ter chegado até aqui, de ter na pele as cicatrizes de uma história de luta, de sacrifícios, de perseverança, de coerência com aquilo que possui de mais belo, sua vida interior, suas crenças e esperanças. Assim também vejo o rosto sereno e respeitoso da santa madre Igreja. Vejo nele as marcas profundas de uma maternidade sofrida, sonhadora, esperançosa. Vejo que em seu semblante de mãe, portadora de um coração onde o amor não mede forças com o tempo, nem se desencanta com as insubordinações de filhos rebeldes, nem se ufana de ser portadora dos mais completos ensinamentos de sabedoria, lições perfeitas da vida perfeita, mestra na arte do diálogo, da coerência, da vida plena… Vejo nela as mesmas ações da mãe dadivosa, que não mede esforços para conduzir seus filhos pelas sendas certeiras da Perfeição, do futuro certo num presente incerto. Ah, mãe dileta, coração dilacerado pelo amor sem limites, sem tempo sequer para se olhar num espelho! Mais uma vez, esse rosto sereno e tranquilo é vilipendiado, ironizado publicamente. Na transição que vivemos de um período vacante na cadeira de Pedro, a imprensa deita e rola com suas críticas e visões superficiais da beleza oculta no rosto marcado da mãe-Igreja. A cada dia, essa imprensa canhota, sempre maliciosa e mordaz em suas críticas, mostra ao Mundo um rosto irreal de uma senhora caduca, gagá e nada bela, que em nada nos lembra a beleza transcendental dessa esposa de Cristo. A ela, somente a ela, Cristo confiou toda sua Doutrina e razão de Ser na história sem fim, sem meio, sem tempo certo. Como Senhor do Tempo e do Espaço, sua vida, paixão e morte nos ensinou a admirar e respeitar a santa madre Igreja como portadora universal de todos seus ensinamentos, portanto, mãe e mestra dos segredos da Eternidade. Contemplemos sua face sempre serena. Incompreendida ou criticada pela rigidez aparente, pela persistência na doutrina do Filho bem amado, pela perseverança em nos conduzir por caminhos estreitos, quando o mundo nos convida ao asfalto, às avenidas, às vias duplas e largas da modernidade, não nos esqueçamos: qualquer mãe sabe o que é melhor para seus filhos! Contemplemos suas marcas e rugas. Quem no passado sofreu na pele a mortandade de muitos filhos, pela intolerância dos poderosos, ao longo de sua história viu muita injustiça e incompreensão contra seus ensinamentos, no presente também haverá de sair-se vencedora, jubilosa, radiante, pois sua verdade ainda prevalece. Ah, quão santas são as marcas num rosto materno! Nem por isso, deixemos de nos preocupar. Orgulho de mãe não dispensa os cuidados dos filhos. Se ironizam ou rejeitam os preceitos de uma Santa Mãe, o que se espera dessa geração de órfãos? Nada além do que já estamos vendo e testemunhando com indignação: a total depravação humana! Mas só a Santa Madre ainda é capaz de dizer ao mundo que há esperança. Que, na quaresma de um tempo de dor e angústia, basta uma atitude de fé: Vigiai e Orai! Lembrando sempre: a imagem de um espelho é o reflexo do rosto de cada cristão, como Igreja, o corpo místico de Cristo. WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br