A fé não se ufana…, disse um dia o apóstolo. Mas, diante das aberrações de uma sociedade paganizada, se perguntava sempre: “Que diremos, então”? Sinto na carne essa questão. Como contrapor-se com o triste desfilar do hedonismo aos nossos olhos? Como expor nossa indignação diante do escárnio, da ironia, do tapa na cara, do cuspe profano que uma minoria nos dirige publicamente? Para Cristo, sua resposta era o silêncio. Mas longe de mim tamanha humildade, pois que nossa fé ainda tem muito de orgulho próprio e em nada se iguala com o espírito de desprendimento e doação total que caracterizaram a vida do Mestre. Um dia, quem sabe, chegaremos mais perto desse exemplo. “E então? Avantajamo-nos a eles? De maneira alguma” (Rom 3,9) – perguntava e respondia Paulo. Discordar é um direito. Colocar-se no mesmo nível, o mesmo que se igualar. E calar-se, compactuar. Sei, todavia, que o espírito de muitos cristãos está enlutado, entristecido, magoado, ferido com tudo o que se levanta contra sua fé, em especial aquilo que faz de seus símbolos e seu estandarte maior objetos de profanação e escárnio público. Cristo na cruz foi o símbolo maior da perversão humana. Exatamente ali Ele nos deu exemplo de como proceder em situações análogas. Aquele foi o verdadeiro e único dia do qual podemos nos dizer orgulhosos de seguir tão grande Mestre. Com sua paixão e morte absorveu e absolveu todo e qualquer pecado do orgulho e da prepotência humana, sem imprecações, sem protestos, sem submissão pura e simples. Os que queriam ouvir uma clara definição de sua Verdade ficaram sem resposta. Ouviram o silêncio de um coração chagado pelo Amor sem limites, mas clamoroso para doar-se até o fim. Foi esse o único Dia do Orgulho Cristão. Os demais se descortinam aos nossos pés, sob o atônito olhar dos que seguem os passos do Mestre, sem respostas claras, questionados, premidos pela cegueira do mundo. O que diremos, então? Nada, absolutamente nada! É exatamente em circunstâncias tais que nos aproximamos um pouco mais dos exemplos de Cristo, da vida de Cristo, da sua redenção e santificação… Os mais gloriosos e fecundos dias da vida da Igreja aconteceram diante do acirramento das perseguições. Estamos vivendo dias tais. Revidar e protestar são atitudes de inconformistas, derrotados. Ao cristão competem não o conformismo, nem a submissão pura e simples, mas a misericórdia, o perdão, a intercessão… Muito mais nos ensina a prática da caridade e da oração. Muito mais ainda a clemência ao coração generoso de Deus: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Longe de nós o orgulho, a vaidade, a prepotência. Tais sentimentos nos afastam da Verdade, brutalizam o Espírito, distanciam as Revelações. Os exemplos se descortinam nas avenidas do mundo. Em nome de uma fé, destroem-se símbolos de outra fé. Em nome de um gênero específico, profanam-se os ritos da clemência humana para com Deus. Em nome de uma minoria tão incerta e insegura quanto a grande maioria, o Cristo Crucificado é mais uma vez objeto do triste espetáculo de turbas sedentas… de sangue, de Amor! Senhor, tende piedade de todos nós! WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br